Parlamento ataca lucro “selvagem” da banca. APB recusa lucros “ilegítimos” e lembra queda do SVB

Resultados dos bancos aumentaram 70% no ano passado. Deputados sublinham lucros de sete milhões por dia, “feitos à custa das pessoas”. Líder da APB rejeita acusações e lembra a queda do SVB.

Para o deputado do PSD Rui Vilar, os bancos estão a ter “um comportamento selvagem” e “apenas estão preocupados com o lucro”. O socialista Miguel Matos lembrou que a banca lucrou sete milhões de euros por dia no ano passado, “feitos à custa das pessoas, dos juros que estão a pagar na prestação da casa e das comissões excessivas”.

Que “torrente violenta”, desabafou o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Vítor Bento, durante a audição parlamentar que está a acontecer esta terça-feira na comissão de orçamento e finanças, aproveitando a ocasião para recusar as acusações dos dois maiores grupos parlamentares.

“A banca, como qualquer empresa, procura o lucro, isso faz parte da lógica de uma economia de mercado concorrencial. E só nessa base é que as economias podem progredir. Não reconheço que os lucros sejam excessivos. Quanto muito, os lucros podem ser legítimos ou ilegítimos. Eu não vejo nenhuma situação de ilegitimidade nos lucros”, atirou aos deputados.

Vítor Bento explicou que os bancos têm 40 mil milhões de euros de capital “empatado” e cujo custo tem de ser compensado com lucros. Quanto? “A rentabilidade mínima para assegurar o capital é de 3.000 milhões”. E só agora os bancos estão a atingir este patamar, disse.

Mais tarde lembrou o episódio da queda do Silicon Valley Bank (SVB) e afirmou que a sociedade devia estar satisfeita com o aumento dos resultados dos bancos no ano passado. “É importante ter bancos saudáveis e rentáveis para não acontecer o que aconteceu este fim de semana”, apontou Vítor Bento.

Rui Vilar foi ao segundo round. “Não percebemos como é que, com os lucros a dispararem, os bancos continuam com juros dos depósitos na cauda da Europa e não baixam as comissões”, ripostou o deputado social-democrata. Miguel Matos acompanhou, acusando os bancos de meterem medo às famílias na renegociação dos créditos. “E o que dizer com os juros que andam a amealhar com os depósitos que têm no Banco Central Europeu?”

No final de todas as intervenções, Vítor Bento não deixou de manifestar a sua preocupação com o “tom desfavorável” relativamente ao funcionamento das regras do mercado que ouviu durante a audição, “em todo o espetro político”.

Bancos querem agradar sociedade, “mas não fazem milagres”

A APB foi chamada ao Parlamento para levar “um puxão de orelhas” dos deputados por causa do “desfasamento” na subida dos juros dos créditos e dos depósitos e também por causa do comportamento dos bancos na renegociação dos créditos.

Em relação às renegociações, Vítor Bento rejeitou que os bancos “não tem insensibilidade social” e afirmou que é do interesse para a sua atividade que facilitem acordos com os seus clientes para evitar situações de incumprimento do crédito. “É do interesse da própria atividade que a sociedade goste deles”, afirmou a determinado momento.

Mas também sublinhou que as instituições “não fazem milagres” e haverá casos em que não vai conseguir ajudar, rejeitando também que estejam a amedrontar os clientes quando dizem que ficarão “marcados” na central de responsabilidades de crédito do Banco de Portugal. “Não é verdade que os bancos incutem medo aos clientes, não é do seu interesse. Mas têm de informar sobre as consequências da renegociação. É bom que o cliente saiba o que acontece. Estando informadas, as pessoas tomam as decisões no seu melhor interesse”, esclareceu.

Até ao momento, terão sido renegociados cerca de 17 mil contratos, de acordo com a APB com base em informação pública. Vítor Bento admitiu que o número não é maior porque não há interesse tanto do lado dos bancos como do lado dos clientes.

Ao longo de toda a audição, o líder da APB fez questão de sublinhar que não podia pronunciar-se sobre a política comercial dos bancos e que as questões relacionadas com os juros dos empréstimos e dos depósitos devem ser dirigidas a cada uma das instituições — o que levou o deputado Miguel Matos a dizer que queria sacudir a “água do capote”, comentário que Vítor Bento considerou ofensivo para a sua honra.

Queda do SVB “sem paralelo” em Portugal

Sobre a queda do SVB, Vítor Bento considerou que “a situação em Portugal não tem paralelo” em função das condições em que funcionava o banco americano, designadamente nos limites de liquidez a que tem de responder, salientando que esse controlo é mais apertado na Europa.

Por outro lado, o responsável explicou que a débâcle do SVB se deveu à necessidade de ter de vender de dívida pública para responder ao levantamento de depósitos, venda essa que obrigou a reconhecer perdas com a desvalorização dos títulos. Caso contrário, embora os títulos tivessem menos valor, eram perdas não realizadas. Mas “as perdas tiveram de ser realizadas porque houve a corrida ao banco, a corrida ao banco obrigou a ter de vender aquelas obrigações e a terem de realizar as perdas”, contou.

De acordo com a APB, a exposição dos bancos portugueses à dívida pública é menor, a rondar os 16% dos ativos. Sendo que há a tal questão de haver várias categorias de investimento: se os títulos estão avaliados a justo valor, às taxas do mercado, as perdas são diretamente refletidas nos resultados e há outra parte que consomem a base de capital; só uma parte é que está a custo histórico e aí as perdas não realizadas não estão devidamente refletidas, segundo explicou.

(Notícia atualizada às 17h42)

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