Semana de 4 dias é “bom cartão-de-visita” para atrair talento para Portugal, diz Miguel Fontes

Governo afasta financiar o piloto da semana de quatro dias em fases futuras. Apenas cerca de metade das empresas que inicialmente manifestaram interesse em participar avançaram para a segunda fase.

A semana de quatro dias pode ser “um bom cartão-de-visita” para atrair talento para trabalhar em Portugal e um movimento fundamental para “posicionar estrategicamente” o país na competição mundial pelo talento, em pleno inverno demográfico, defende Miguel Fontes, secretário de Estado do Trabalho, durante a apresentação dos resultados da primeira fase do piloto da semana mais curta de trabalho, esta sexta-feira em Lisboa. Governo afasta avançar com financiamento do piloto em fases futuras.

“Se as organizações competem por talento, os países não competem menos. Portugal hoje tem um problema demográfico, precisamos de inverter não o inverno demográfico, mas o inferno demográfico, sendo capazes não só de ter políticas amigas do crescimento das famílias, de natalidade para quem o deseja, mas temos de captar pessoas que queiram vir trabalhar para Portugal. Para isso não acham que isto [semana de quatro dias] é um bom cartão-de-visita?”, questina Miguel Fontes, secretário de Estado do Trabalho.

“Acredito profundamente que sim. E para o posicionamento estratégico para o país é bom que nas notícias se veja referido que Portugal é um dos países que está a liderar este movimento pela semana de quatro dias”, defendeu ainda, duranta a apresentação da primeira fase do projeto piloto.

Depois de 99 empresas terem manifestado interesse no projeto, cerca de metade (46), decidiram avançar para a fase seguinte do projeto. “Está perfeitamente em linha com aquilo que eram as expectativas que tinha. Temos de ter a noção que estamos a falar de um projeto inovador, o que traz sempre associado algum receio. Muitas mostraram interesse e depois na ponderação, algumas decidiram que não estavam ainda em condições de avançar. É normal. E daqui até à terceira fase até é expectável que algumas das empresas até possam não chegar mesmo a participar no piloto. Mas isso não nos deve inibir. Isto é uma experiência”, referiu o secretário de Estado, em declarações aos jornalistas.

Fator de atração de talento

O governante destacou ainda o impacto que este novo modelo de trabalho pode vir a ter numa melhor conciliação entre a vida pessoal e o trabalho, algo que hoje é “uma exigência dos trabalhadores mais novos”.

Por isso, diz, este modelo “é fundamental para atrair talento, para o reter, seja à escala de país, seja à escala de organizações. Portanto, isto não é um capricho, não é uma questão menor. É uma questão absolutamente central para promovermos novos centros de organização de trabalho, que tornem as pessoas mais motivadas e comprometidas”, acrescenta.

“É uma razão que vai também aumentar o nível de produtividade nas organizações, diminuir o nível de absentismo, diminuir os problemas associados à saúde mental, reduzir o presencialismo que muitas vezes se assiste nas empresas, e as pessoas vão sentir que têm condições para essa melhor conciliação”, continua.

“Temos de introduzir a diversidade na nossa gestão e na nossa liderança. Não se trata apenas de passar de cinco para quatro dias, é uma excelente oportunidade para as empresas refletirem sobre como estão a trabalhar, onde porventura estão a perder recursos e tempos que podiam ser encurtados para libertar para um trabalho mais focado, mais efetivo. É uma oportunidade também de reorganização de todos os tempos de trabalho entendidos no sentido amplo”, resume.

E é, precisamente, esse argumento que considera que poderá demover as organizações sindicais de opor-se a este modelo. “Os sindicatos têm de ouvir aqueles que representam. Seria muito estranho que, numa altura em que se fala da necessidade de refortalecer o movimento sindical, isso só se fará se os sindicatos forem capazes de se aproximar dos trabalhadores mais jovens. Não tenho que dar nenhuma lição ao sindicato, mas seguramente que ouvem o mesmo que eu oiço. É uma exigência dos nossos trabalhadores que chegam ao mercado, que não estão mais disponíveis para formas de organização do trabalho, como aconteceu no passado”, diz o governante.

Piloto sem financiamento do Estado

O piloto, com arranque previsto para junho, tem avançado sem financiamento público, com a adesão voluntária das empresas e assim deverá continuar. Miguel Fontes descarta a ideia do Estado financiar o piloto em fases seguintes, através da criação de linhas de apoio, mesmo tendo sido a atual situação económica e a necessidade de eventual investimento, através de recrutamento, que levou quase metade das empresas a não ter avançado para a fase seguinte do projeto. Nem depois do fim do piloto.

“Se os resultados vierem a ser positivos, então testamos a hipótese de que é possível sem financiamento. Portanto, não seria razoável andarmos para trás e dizermos que para crescermos é preciso financiamento. Sinceramente, nós temos de ter a noção que os nossos recursos públicos são escassos e devem ser usados para aquilo que é essencial, como serão hoje, nomeadamente, para apoiar as famílias mais vulneráveis numa situação de crise que estamos a viver”, conclui o secretário de Estado.

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