BRANDS' ECOSEGUROS A Saúde Mental e a Empresa

  • BRANDS' ECOSEGUROS
  • 23 Maio 2023

Uma das questões mais levantadas nos últimos tempos em relação à forma como trabalhamos é a do impacto sobre a nossa Saúde Mental.

A velocidade a que tudo se processa na idade da informação é vertiginosa. Temos um tempo limitado para analisar uma quantidade inimaginável de informação à nossa disposição, que nunca digerimos até ao fim, antes de tomar uma decisão. Inúmeras vezes ao longo do dia.

Lembram-se de quando as épocas de renovação de contratos duravam 2 meses e meio (de Novembro até meados de Janeiro), seguidos por mês e meio de redução da atividade que era aproveitado para recuperar energias e preparar o ciclo de Março a Maio? Ou o bom que era aproveitar o mês de Agosto para trabalhar de uma forma mais relaxada, recuperando trabalho em atraso ou adiantando projetos, adiantando as férias para Julho? Tudo isso, de alguma forma, acabou.

A velocidade e a democratização da informação tornou o processo de decisão mais rápido e a necessidade de adaptação das organizações a novos desafios frenética. Não é por acaso que uma das características mais elogiadas nas organizações, hoje em dia, é a “agilidade”, a capacidade de mudança.

Se os nossos pais trabalharam 30 anos na mesma empresa, passando por três ou quatro reestruturações ou mudanças organizacionais, nós passamos por três ou quatro todos os anos.

Chegámos ao ponto em que a habitual “visão estratégica a cinco anos” das empresas muda anualmente, num notável ziguezaguear de prioridades e modelos.

O que muitas vezes nos esquecemos é que todas as organizações estão assentes sobre o trabalho de pessoas. Cada vez menos, proporcionalmente às tarefas exigidas, mas continuamos a estar lá.

Cada um de nós tem, cada vez mais, um conjunto de tarefas mais amplo, dependente de uma panóplia cada vez maior de ferramentas informáticas (ou não) que temos de dominar, e de terceiros que, normalmente, seguem um ritmo diferente do nosso. As margens cada vez mais curtas do nosso negócio a isso obrigam. E alguma coisa terá de ceder.

Lembro-me que ainda há não muito tempo a questão da saúde mental no local de trabalho era um tema quase tabu: quando um dos nossos colegas precisava de tirar algum tempo, ou metia baixa psicológica, ou não falávamos disso ou era um maluquinho ou estava a pressionar a empresa por algum motivo. E essa pessoa ficava marcada para a vida.

Durante muito tempo nunca me ocorreu falar com um dos meus superiores sobre o meu estado mental. Ou com os Recursos Humanos, o que era basicamente a mesma coisa. Os que faziam isso eram os “fracos”. Até a situação se tornar de tal forma premente que não se podia mais esconder.

Apesar de já existirem muitas organizações a tentarem alterar a sua forma de trabalhar (mesmo nós já testávamos, de uma forma ainda incipiente, a possibilidade de alguns colegas trabalharem remotamente alguns dias da semana) a pandemia porque passámos foi o gatilho para o percecionar de que podíamos fazer as coisas de uma forma diferente.

O período em que fomos “forçados” a trabalhar de casa mostrou-nos várias coisas. Por um lado, passámos a ter mais tempo para estar com a nossa família e amigos, mesmo no período habitual de trabalho, assim como para tratar de assuntos da nossa vida pessoal que raramente conseguíamos antes, ou tínhamos de queimar dias de férias para resolver.

Rui Ferraz, Diretor Comercial na Innovarisk

Por outro lado, o normalizar do trabalho para além do horário habitual de serviço, assim como a disponibilização de ferramentas para tal, fez-nos trabalhar muito mais horas que o habitual, sem nos apercebermos.

Como me dizia uma colega há uns dias, normalizou-se o estarmos ainda a trabalhar às duas da manhã, enviarmos um email a um colega e ele ainda responder. Seja por smartphone, tablet ou portátil, estamos constantemente on porque a nossa consciência e o nosso sentido de dever não nos deixam esquecer aquele último email que caiu há uns segundos ou o documento que devia ter sido terminado até à semana passada.

Este estado de espírito, aliado à ditadura dos números a que todos nos submetemos, tem impacto na nossa saúde mental, o que se reflete também na nossa saúde física. Já teremos notado todos que temos tendência para estar mais vezes (ou constantemente) doentes.

A falta de descanso (quantos de nós acordamos às três ou quatro da manhã e temos dificuldade em voltar a adormecer), aliada à preocupação, faz-nos quebrar mais vezes. E sentir-nos mais irritados com todos os que nos rodeiam.

Este ritmo a que trabalhamos hoje tem outra consequência indireta que, muitas vezes, não medimos: a necessidade que sentimos de aproveitar a vida privada de uma forma mais “agressiva” que antes. Queremos mais saídas, viagens e diversão, mas no menor tempo que nos permite o nosso trabalho ou estudo.

A preocupação das empresas com este fenómeno tem vindo a crescer, dados os custos óbvios para estas. O burnout de colaboradores, o quiet quiting, as baixas psicológicas ou não, os despedimentos, o mau ambiente e a quebra de rendimento associada, são fatores que nos têm de preocupar a todos.

Temos assistido a um investimento superior em eventos ou sessões de esclarecimento, em benefícios para os funcionários que incluem sessões de psicologia, yoga ou mindfulness, e o regresso aos team buildings que haviam desaparecido com a pandemia. Até sendo usados como trunfos nas redes sociais, esperando serem um chamariz de talento.

A contínua aposta no teletrabalho ou num regime híbrido, também tem sido uma das soluções mais advogadas na maioria das funções que o permitem, assim como a “oferta” de dias de férias para recompensar os funcionários.

No entanto, e mais importante que medidas avulsas, tem de haver um plano. E vontade para o implementar.

Não basta, mas é um princípio.

Um trabalhador são, de corpo e espírito, é essencial à própria saúde da empresa. E é responsabilidade de todos, e em especial das chefias, zelar para que esta não adoeça.

Devemos isso a todos os que escolheram trabalhar connosco.

Rui Ferraz, Diretor Comercial na Innovarisk

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