Digitalização é “passado”. Só a Inteligência Artificial pode “diferenciar” empresas no mercado

Empresários e académicos defendem reforço da formação na área da Inteligência Artificial para empresas conseguirem competir a nível internacional. Indústria tem de perceber "tempos" da investigação.

A requalificação profissional deve passar a incluir uma componente de formação em Inteligência Artificial (IA) para que os trabalhadores e as empresas portuguesas ganhem competências que passaram a ser essenciais para conseguirem competir nos mercados internacionais, alertaram esta terça-feira os participantes no debate sobre o impacto da IA na competitividade das empresas, que decorreu no âmbito da Semana da Economia de Braga.

Moderado pelo editor do ECO, António Larguesa, este fórum juntou o vice-presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, Rafael Campos Pereira; o novo presidente do Conselho de Administração da Agência Nacional de Inovação (ANI), António Bárbara Grilo; o presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial, Luís Paulo Reis; e o coordenador do Laboratório Associado de Sistemas Inteligentes (LASI), Paulo Novais.

Todos os oradores dramatizaram a necessidade de atrair e reter talento nesta área de especialização, o que deverá também passar por uma aposta na requalificação profissional. O vice-presidente da CIP, que é também o porta-voz da indústria metalúrgica e metalomecânica, alertou que as empresas precisam de “competir cada vez mais com valor acrescentado e serem diferenciadoras. O que, sublinhou, passa igualmente por “abdicar de postos de trabalho obsoletos e atrair jovens que têm mais capacidade para trabalhar” na vertente tecnológica. “Estamos a assistir a uma crescente robotização. A IA e a capacidade de armazenamento de informação são fundamentais“, sustentou.

As empresas têm de abdicar de postos de trabalho obsoletos e atrair jovens que têm mais capacidade para trabalhar na área tecnológica.

Rafael Campos Pereira

Vice-presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal

Rafael Campos Pereira considerou, por isso, que o país tem de “ter as mesmas ferramentas e instrumentos que os concorrentes estrangeiros” para estar igualmente na dianteira. “É urgente que Portugal caminhe para o patamar da Finlândia. Garantir que venhamos a conseguir competir a este nível e estar no campeonato do valor acrescentado — porque só dessa forma vamos gerar mais rendimento para as famílias, mais investimento em Portugal, reter mais talentos e aumentar ainda mais os salários”, resumiu.

Também o presidente do Conselho de Administração da ANI defendeu que “a IA é uma das tecnologias que mais alavancagem pode dar às empresas“, que “podem ficar para trás” se não tiverem estas ferramentas. António Bárbara Grilo partilha, por isso, da opinião de que é necessário “capacitar as pessoas que estão no mercado de trabalho, e que precisam de saber sobre estas ferramentas [IA] para se adaptarem e serem mais criativas”. Por outro lado, “as empresas potenciadas por estas tecnologias estão mais perto de onde o talento está”.

Agência Nacional de Inovação está a preparar a abertura, até ao verão, dos primeiros avisos para o financiamento de projetos de parceria entre as empresas e as universidades na área da inteligência artificial.

Sobre os financiamentos que a ANI vai disponibilizar para projetos nesta área, o líder da agência deu conta que esses primeiros avisos deverão sair antes do verão, salvaguardando que “ainda está a ser desenhado o instrumento de financiamento, na matriz de parcerias entre universidades e empresas que envolvam desenvolvimento” nesta componente. O responsável frisou que as empresas devem ser “capazes de, através da IA, criar diferenciação no mercado”, e não apenas a otimização dos processos de produção.

Apontando igualmente à requalificação profissional, para compensar a atual falta de recursos humanos, o coordenador do LASI, Paulo Novais, advertiu, contudo, para o problema de se “criar um fosso” na sociedade portuguesa. “Temos de fazer o esforço — como sociedade inclusiva que somos — para não deixar ninguém para trás e para serem todos integrados no mercado laboral”, reiterou.

Quanto aos riscos em termos de privacidade e proteção de dados, e quanto às questões éticas que a IA pode levantar, Paulo Novais salvaguardou que “qualquer tecnologia pode ter má utilização”, mas reforçou que esses riscos são de probabilidade baixa. O Laboratório Associado de Sistemas Inteligentes agrega mais de 500 investigadores doutorados de 13 centros de investigação dedicados a à inteligência artificial, de sete academias no país: as Universidades do Minho, Porto, Aveiro, Coimbra, Nova de Lisboa e os Institutos Politécnicos do Porto e do Cávado e Ave (IPCA).

A digitalização é o passado – quanto muito, o presente – e as grandes empresas têm de acompanhar a inteligência artificial. Quem não acompanhar esta revolução – e isto é uma revolução que não tem volta atrás -, terá serviços desatualizados e que não são competitivos.

Luís Paulo Reis,

Presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial

Já o presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial (APPIA), que quer trazer esta área de especialização para o mercado de trabalho e para as indústrias, frisou que “a digitalização é o passado – quanto muito, o presente – e as grandes empresas têm de acompanhar a IA”. Até porque, justificou Luís Paulo Reis, “no futuro, quem não [o fizer] – e isto é uma revolução que não tem volta atrás –, terá serviços desatualizados e que não são competitivos”.

Sobre a relação entre as empresas e as academias, o líder da APPIA realçou que as duas partes nem sempre caminham no mesmo ritmo. Se para a indústria é “muito interessante fazer projetos de IA aplicados ao mercado e a produtos”, contrapõe que “a universidade deve fazer projetos mais complexos — e é preciso tempo para isso”.

Luís Paulo Reis alertou que “a indústria precisa de perceber que é preciso tempo para desenvolver um produto inovador, que não se desenvolve num ano”, enquanto o foco dos académicos está na criação de produtos com “relevância social” e que “marquem a diferença”.

Finalmente, ao nível do impacto em termos de sustentabilidade, o responsável da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial reconheceu que o processamento de informação implica grandes gastos de energia, fazendo questão de contabilizar que “o Chat GPT bebe meio litro de água por cada 20 questões”.

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