Do Brexit ao contexto económico, Reino Unido perde atratividade como destino de emigração

No ano passado, os migrantes provenientes da UE representaram apenas 13% do fluxo total para o Reino Unido. Um valor valor que fica muito aquém dos 52% registados em 2018 e dos 42% em 2019.

Depois de anos a tornar-se a ‘casa’ de milhares de emigrantes à procura de melhores condições de vida, o Reino Unido está a perder a sua atratividade, tendo registado uma acentuada quebra dos emigrantes oriundos da União Europeia (UE). No ano passado, as pouco mais de 150.000 chegadas traduzem-se em apenas cerca de metade das registadas em 2019, segundo os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas Britânico. E a culpa não é apenas do brexit.

“O número de pessoas da Europa de Leste e do Sul dispostas a mudar-se diminuiu na segunda metade da década de 2010”, começa por explicar John Springford, deputy director do Centre for European Reform, citado pela Bloomberg (acesso condicionado, conteúdo em inglês). “Há (também) o efeito do brexit, que está a pôr em causa a migração pouco qualificada.”

Mas o brexit não é o único fator que está a travar o fluxo de trabalhadores da UE de que o Reino Unido costumava depender. Da Polónia a Portugal, as economias da UE estão a gerar mais empregos e melhores salários do que a Grã-Bretanha. E preveem-se taxas de crescimento mais rápidas nos próximos anos em algumas das regiões do sul da Europa consideradas como problemáticas há uma década, entre as quais se incluem Portugal, Espanha e Grécia.

“As oportunidades no mercado de trabalho melhoraram, definitivamente, no sul da Europa”, diz Riccardo Marcelli Fabiani, economista da Oxford Economics.

Ao mesmo tempo, as perspetivas no Reino Unido deterioraram-se. Embora o desemprego continue baixo, o crescimento é modesto e os salários reais a longo prazo estagnaram.

“A economia do Reino Unido não está a ter um desempenho particularmente bom. Os empregos mais atrativos estão agora na Holanda e na Alemanha, e não no Reino Unido. As pessoas ainda se podem mudar, mas provavelmente não virão para o Reino Unido”, considera Pawel Bukowski, investigador da London School of Economics.

Os migrantes provenientes dos Estados-membros da UE representaram no ano passado apenas 13% do fluxo total para o Reino Unido. Um valor valor que fica muito aquém do registado em 2018 (52%) e em 2019 (42%).

O contexto económico mudou, e outro fator que o prova é a diminuição do fosso de prosperidade entre o Reino Unido e as regiões menos prósperas da Europa. Os dados do Banco Mundial mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Reino Unido, numa base de paridade do poder de compra, que ajusta os diferentes custos entre países, mais do que duplicava o da Polónia em 2001. Em 2021, contudo, já era apenas 29% superior. Nos últimos 20 anos, os salários na Polónia quase duplicaram, e este era precisamente um dos países com maior representação na migração para o Reino Unido. Em 2010, os polacos tornaram-se a maior população estrangeira nascida no Reino Unido, ultrapassando a Índia.

“O mercado de trabalho e a economia polaca sofreram uma mudança dramática”, afirma Pawel Bukowski, investigador da London School of Economics, que se mudou da Polónia para o Reino Unido em 2016. “Basicamente, partindo de um nível de desenvolvimento económico muito, muito baixo no início da década de 1990 e de um nível baixo de salários reais, conseguimos recuperar o atraso”, continua.

Com o tema na agenda política inglesa, o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, culpando os conservadores, avisou que a Polónia está a caminho de ultrapassar o Reino Unido em termos de PIB per capita até 2030. Piotr Arak, diretor do Instituto Económico Polaco, considerou a previsão demasiado otimista para a Polónia, mas também deixou um aviso: “Na Polónia, algumas regiões e algumas cidades tornaram-se muito competitivas. Com o salário que se pode obter aqui, é possível ter uma vida bastante agradável em comparação com as outras capitais da UE.”

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