Famílias apostam mais 2,2 mil milhões nos Certificados de Aforro antes de Governo baixar taxa de juro
Certificados de Aforro tiveram nova corrida em maio, antes de Governo cortar as taxas de juro: as aplicações aumentaram 2,2 mil milhões de euros no mês passado.
Maio trouxe uma nova corrida aos Certificados de Aforro por parte das famílias portuguesas. As aplicações neste produto de poupança do Estado aumentaram mais de 2,2 mil milhões de euros no mês passado, justamente antes de o Governo ter decidido acabar com a Série E e lançar uma nova série com taxas de juro mais baixas já nos primeiros dias de junho.
De acordo com os dados do IGCP, a agência que faz a gestão da dívida pública, registou-se um aumento líquido de 2,23 mil milhões de euros no stock destes certificados em maio, mostrando uma aceleração da procura após o abrandamento registado em abril (aumento de apenas 1,7 mil milhões).
Contas feitas, as famílias portuguesas já têm mais de 32,5 mil milhões de euros aplicados nos Certificados de Aforro, um valor recorde que surge depois de um aumento de quase 13 mil milhões de euros em relação ao final do ano passado.
Corrida aos certificados acelerou em maio
Fonte: IGCP
Estes certificados tornaram-se muito atrativos nos últimos meses devido à taxa de juro de 3,5%, uma remuneração que não tinha comparação com outras alternativas de poupanças seguras no mercado, nomeadamente os depósitos bancários.
Contudo, no início deste mês, o Governo decidiu descontinuar a Série E que se encontrava em vigor, lançando novos certificados com uma remuneração base que não vai além dos 2,5%.
A decisão gerou polémica, com a oposição a acusar o Executivo de ter cedido à banca, que estava a ser pressionada com a fuga de depósitos para os Certificados de Aforro, uma tese que as Finanças rejeitam.
Ainda esta quarta-feira, falando no Parlamento sobre este tema, o secretário de Estado João Nuno Mendes revelou que a decisão de cortar a remuneração dos certificados foi tomada em abril, antes das declarações públicas de alguns responsáveis bancários, afastou qualquer influência dos bancos e justificou a medida com a necessidade de alinhar as condições deste produto com as outras alternativas de financiamento do Estado.
Resta saber se a decisão de cortar a taxa de juro dos Certificados de Aforro vai abrandar a procura da parte dos aforradores nacionais, dados que só serão conhecidos daqui a um mês.
Quanto aos certificados do Tesouro, continuaram em quebra pelo 19.º mês seguido. Em maio, as aplicações neste instrumento recuaram cerca de 500 milhões de euros, atingindo os 12,5 mil milhões, o valor mais baixo desde 2017.
Os certificados do Tesouro estiveram na moda nos últimos anos, graças às boas condições oferecidas pelo Estado em termos de remuneração. Basta ver o exemplo dos Certificados do Tesouro Poupança Mais, já descontinuados e que chegaram a oferecer uma taxa de juro acima de 9%, à boleia do disparo da economia após a pandemia.
Com o tempo, o Governo foi baixando a taxa de juros dos novos produtos que foi lançando. Os certificados que estão atualmente em comercialização, os Certificados do Tesouro Poupança Valor, já só rendem uma taxa média de 1% nos sete anos de maturidade (acrescida de um prémio no terceiro ano que corresponde a 20% da média de crescimento da economia), uma remuneração que não tem convencido as famílias.
45 mil milhões confiados ao Estado
Portugal é já dos países onde as famílias têm maior peso no financiamento do Estado, em resultado da recente corrida para os Certificados de Aforro, que está a compensar as perdas nos certificados do Tesouro.
De resto, as aplicações nestes dois produtos do Estado aumentaram 1,7 mil milhões de euros em maio. E, tudo somado, as famílias portuguesas nunca confiaram tanto dinheiro às mãos do Estado, com mais de 45 mil milhões de euros aplicados nos certificados.
Apenas Itália tem mais dívida pública nas mãos das famílias.
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