Há uma nova ferramenta para avaliar a governance nas PME. Certificação vem a seguir
Depois do guia do "Programa Metamorfose", focado em governança corporativa nas PME, é lançada esta terça-feira uma ferramenta de pontuação. Certificação e bolsa de conselheiros chegam ainda este ano.
O Programa Metamorfose, desenvolvido por 42 grandes empresas no âmago da Associação Business Roundtable Portugal (BRP), lança esta terça-feira a segunda ferramenta do programa: o sistema de pontuação, ou scoring. Este mecanismo permitirá às PME “medirem o seu grau de maturidade em matérias de governança, conhecerem os seus pontos fortes e fracos, e compararem a sua avaliação com os resultados do setor e com empresas de dimensão ou estágio de maturidade similares”, revela ao ECO/Capital Verde o secretário-geral da BRP, Pedro Ginjeira.
Lançado em 2022, o Metamorfose, que nasceu em parceria com o Instituto Português de Corporate Governance (IPGC), visa introduzir nas PME boas práticas de governo, acelerando o seu crescimento. O objetivo nesta primeira fase é o de capacitar 5% das 1,1 milhões de pequenas e médias empresas (PME) do país para aplicarem boas práticas, ou seja, cerca de 50 mil empresas.
Depois do guia, disponível online, que identifica um conjunto de 68 medidas e recomendações práticas que devem ser adotadas de forma gradual pelas PME, tendo em vista a evolução do modelo de gestão e o reforço das estruturas de governança, o programa Metamorfose dá mais um passo com o sistema de pontuação.
Ao Capital Verde, Pedro Ginjeira explica que o objetivo é “levar os responsáveis das empresas a refletir sobre que práticas têm ou não implementadas”, tornando-se evidente, desta forma, que o passo seguinte na evolução “será a implementação daquelas que não estão concretizadas”.
Numa fase posterior, acrescenta o responsável, a ideia será criar uma certificação em governança que possibilite às empresas detentoras deste “selo” serem premiadas, por exemplo, no acesso a financiamento e/ou subsídios.
E, por último, será disponibilizada uma bolsa de conselheiros para colaborar com as empresas. Este grupo, na sua maioria associados da BRP, irá prestar apoio na qualidade de não-executivos às equipas de gestão das PME candidatas, numa ótica de partilhar, pro bono, o seu conhecimento, experiência e boas práticas na área da governança. Para já, somam-se 50 conselheiros disponíveis a integrar esta última peça do programa de governança para as PME e que estão atualmente a frequentar a formação de não-executivos, ministrada pelo Instituto Português de Corporate Governance.
As próximas fases de desenvolvimento da bolsa de conselheiros passam por materializar um piloto com quatro empresas, “que nos permitirá aprender como podemos escalar, durante o segundo semestre, esta ferramenta, e disponibilizá-la a um maior número de empresas”, indica Ginjeira.
Empresas familiares entre as visadas
Para compreender os fatores que estão na base da falta de escala das empresas portuguesas, o BRP e o IPCG ouviram especialistas do meio académico e empresarial que apontaram a profissionalização da governança como um dos obstáculos no crescimento sustentado das PME portuguesas.
“Muitas PME, com bom desempenho, chegam a um determinado patamar em que estagnam o seu crescimento”, observou Vasco de Mello, presidente da Associação BRP, durante a apresentação da iniciativa, em setembro passado. “Isto ocorre porque o empresário tem dificuldade em tocar todos os instrumentos do seu negócio. Se a empresa não estiver organizada com o governo adequado, a probabilidade de estagnar é elevada”, acrescenta.
Esta questão é mais premente nas empresas familiares ou empresas com a gestão concentrada no seu líder, explica, por sua vez, o secretário-geral, acrescentando que estas, por terem falta de uma estrutura organizada de governança, que permita ao empresário delegar e alavancar a sua estrutura, ser desafiado e apoiado, correm o risco de “estagnação do crescimento da organização ou até de dificuldades em lidar com desafios externos com os processos de sucessão”.
“Garantir a existência dessa estrutura e a adoção de boas práticas de governance permitirá às empresas continuar a crescer e a acautelar futuras sucessões na liderança”, explica Pedro Ginjeira do Nascimento.
Mas este não é o único desafio. Na verdade, existem vários níveis de complexidade e de exigência em cada um dos pilares de corporate governance identificados pela BRP. E estes níveis de complexidade variam, por sua vez, conforme o nível de maturidade das empresas, desde o seu nascimento até à sua fase mais avançada de desenvolvimento.
Com isto em mente, as duas entidades identificaram cinco pilares que permitem desenhar e adotar uma política de corporate governance robusta, e que passa pelos órgãos de governo da empresa e processo de tomada de decisão. São eles a gestão de risco e controlo interno; a transparência e reporte; a cultura empresarial e compromisso com o governance e ainda – no contexto das empresas familiares – a corporate governance em empresas desta natureza.
Ao todo, são 68 medidas que devem ser adotadas de forma evolutiva pelas empresas, tendo em vista a evolução do modelo de gestão e o reforço das estruturas de governança. Qualquer empresa pode aceder e consultar este guia, desde que interessada.
Segundo o secretário-geral da BRP, a recetividade do programa desde de que foi lançado “tem sido bastante positiva entre as empresas e os empresários”, e até entre associações e universidades, que não só procuram saber mais sobre o programa, mas também saber formas de como se podem associar a ele, “uns enquanto beneficiários, outros enquanto parceiros”, diz.
Boa governança potencia crescimento
Os benefícios de uma boa governança são evidentes. No Reino Unido, o Instituto Grant Thornton, ao longo de 10 anos e junto de 350 empresas de várias dimensões, quis comprovar isso. Entre as vantagens, citadas pela BRP, surge a evidência de que uma estratégia de corporate governance estruturada contribui para uma empresa com o dobro da resiliência perante riscos, maior liquidez, melhor capacidade financeira e geração de lucro.
Além disso, conduz a que as empresas sejam mais transparentes, aumentando a sua atratividade para investidores e financiadores externos, favorecendo a obtenção dos meios necessários e as melhores condições para executar a estratégia definida. Diversos são os estudos que apontam para um custo de financiamento bancário significativamente inferior para empresas com boas práticas de governança, quando comparado com empresas de dimensão semelhante, mas com práticas de governança menos robustas.
Os resultados indicam ainda que o Instituto Grant Thornton aferiu que as empresas com boas estratégias de governo são 29% mais eficientes na geração de lucros — para a mesma quantidade de recursos financeiros alocados — e têm a capacidade de gerar um fluxo de caixa 3,4 vezes superior para idênticos níveis de operação. Os benefícios também chegam aos acionistas que, segundo o estudo, veem o retorno do investimento a duplicar.
Além disso, as empresas com um plano de ação assente em boa governance são 15% menos alavancadas, revelando melhor capacidade financeira para pagar dívidas no longo prazo e conseguem ter 25% mais liquidez, tendo por sua vez, mais condições de saldar dívidas no curto prazo.
Este artigo, agora atualizado, integra a segunda edição da revista anual do Capital Verde, Yearbook, já disponível nas bancas.
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