Piloto de saúde mental com empreendedores no “Target” começa em outubro
O primeiro programa de saúde mental e bem-estar direcionado aos empreendedores em Portugal, tem um investimento inicial a rondar os 25 mil euros, duração de um ano e abrange cerca de 200 pessoas.
A Casa do Impacto arranca em outubro com um piloto para promover a saúde mental nos empreendedores da incubadora de impacto social. O Target, o primeiro programa de saúde mental e bem-estar direcionado aos empreendedores em Portugal, tem um investimento inicial a rondar os 25 mil euros, duração de um ano e abrange cerca de 200 pessoas. A sua adoção por outras incubadoras a nível nacional faz parte dos objetivos. O projeto será acompanhado pela Universidade Católica e tem como parceiro-chave a Fidelidade. Estima-se que 72% dos empreendedores sofra de problemas de saúde mental.
“A partir de outubro iniciaremos o programa na sua fase piloto, tal como anteriormente previsto. Durante 12 meses teremos atividades mensais dedicadas à promoção da saúde mental e do bem-estar, incluindo sessões de awareness, workshops de aprofundamento e atividades de wellbeing“, adianta Inês Sequeira, diretora da Casa do Impacto – Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, ao Trabalho by ECO.
“O Target irá arrancar com o primeiro retiro para empreendedores de impacto em Portugal, dirigido aos founders da comunidade Casa do Impacto”, reforça a responsável da incubadora que acolhe mais de 65 startups de impacto e apoia mais de 250.
O arranque do piloto, tal como avançou o Trabalho by ECO, chegou a estar apontado para abril/maio, mas a obtenção do capital seed para o seu lançamento levou a uma derrapagem nos prazos. “A nova data de arranque do Target prendeu-se sobretudo com a necessidade de assegurarmos as condições base, ao nível de parcerias e financiamento, para podermos a iniciar o programa com uma estrutura com a qual nos sintamos confortáveis, ao nível do seu potencial de sucesso e impacto”, reconhece Inês Sequeira.
O Target irá arrancar com o primeiro retiro para empreendedores de impacto em Portugal, dirigido aos founders da comunidade Casa do Impacto
Tempo despendido a limar algumas arestas. “Estes meses de preparação permitiram o teste de algumas tipologias de atividades, como, por exemplo, os círculos de coaching para founders, rentabilizando-se este período para continuarmos a recolher feedback junto da nossa comunidade e insights sobre o que poderá funcionar melhor, em termos de formatos e horários, tendo em conta as dinâmicas quotidianas de um empreendedor de impacto”, descreve a diretora da Casa do Impacto.
O piloto arranca “com um investimento pequeno, a rondar os 25 mil euros, uma vez que parte dos custos não estou a incluir uma vez que conseguimos (o apoio) através das parcerias, nomeadamente do grupo Fidelidade, o parceiro-chave nesta fase piloto”, revela Inês Sequeira.
“O plano inicial para o Target – com a totalidade de ações inicialmente pensadas – exigia um investimento bastante mais avultado, tendo-se optado por garantir as atividades consideradas basilares, bem como envolver parceiros em modalidades pro bono. Em termos de parcerias, além do grupo Fidelidade enquanto investidor, contamos também com a Associação Progma e com a especialista em coaching para empreendedores, Palma Michel”, acrescenta.
Target: 200 pessoas, depois comunidade empreendedora nacional
Não há dados precisos sobre o tema da saúde mental no ecossistema de empreendedorismo nacional, mas um estudo realizado por investigadores das universidades de Berkeley e Stanford, nos EUA (“Are Entrepreneurs ‘Touched with Fire’?”, de 2015), faz um retrato que dá que pensar: 72% dos empreendedores sofrerão com problemas de saúde mental, valor substancialmente acima dos 48% apontadas na população em geral. A depressão (30%), transtorno do défice de atenção com hiperatividade (TDAH) (19%), uso de substâncias (12%) e diagnóstico bipolar (11%) serão os temas de saúde mental mais comuns.
Neste momento, está ativo um inquérito, junto da comunidade Casa do Impacto e outras incubadoras a nível nacional, para aferir quais os riscos psicossociais dos empreendedores para conseguirmos ter uma noção mais clara do estado da arte desta problemática no contexto português.
Em Portugal, estima-se que os problemas relacionados com stress e saúde mental dos trabalhadores — resultando em absentismo, presentismo e quebras de produtividade — custem até 5,3 mil milhões de euros por ano às empresas, uma subida face aos 3,2 mil milhões estimados em 2022, aponta o II Relatório “Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho”, da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Os custos “representam já um valor equivalente ao que o Governo gastou em 2021 em medidas para mitigar os impactos da pandemia”. Aposta em saúde mental nas empresas pode reduzir as perdas em, pelo menos, 30%.
O estudo da Ordem dos Psicólogos não analisa especificamente o ecossistema de empreendedorismo nacional, mas, em breve poderão haver dados que permitam fazer uma radiografia mais aprofundada. Neste momento, “está ativo um inquérito, junto da comunidade Casa do Impacto e outras incubadoras a nível nacional, para aferir quais os riscos psicossociais dos empreendedores para conseguirmos ter uma noção mais clara do estado da arte desta problemática no contexto português”, revela Inês Sequeira. E o Target será acompanhado pela a Universidade Católica Portuguesa – Centre for Psychological, Family and Social Wellbeing.
Por agora, o piloto foca-se, sobretudo, na comunidade da Casa do Impacto, mas com “algumas atividades direcionadas exclusivamente para founders – dada a especificidade dos desafios sentidos e do tipo de estratégias que podem ser utilizadas – e outras abertas a todos os elementos de equipas das startups inseridas na comunidade”, refere Inês Sequeira. “Não descartamos, contudo, que possam existir algumas atividades abertas a qualquer pessoa com interesse no tema, mas para já, o foco será na experimentação deste programa para a nossa comunidade, ou seja, um universo de 200 pessoas.”
“Não nos esqueçamos que o empreendedor de impacto tem o duplo desafio; a de ter de ter a resiliência necessária para lidar com a incerteza que todos os negócios acarretam, à qual ainda acresce a exigência de lidar com a pressão de quem cuida e a ‘pressão’ adjacente de garantir o bem-estar dos que são por si ‘cuidados'”, destaca.
O objetivo de estender este programa a todo o ecossistema nacional — com mais de 2.000 startups — mantém-se. “A ideia do Target, tal como outros projetos desenvolvidos pela Casa do Impacto, é testar uma possível solução para um desafio identificado, com o objetivo de criarmos conhecimento suficiente para poder partilhar a nossa metodologia com outros, por exemplo outras incubadoras, e não só que possam ter interesse e vivenciem os mesmos desafios que nós”, aponta a diretora da Casa do Impacto.
Para a expansão do programa há, no entanto, que resolver a questão do seu financiamento. “Temos vindo a contactar com vários atores do ecossistema e verificamos que há uma enorme recetividade: em primeiro lugar porque o desafio da saúde mental é sentido de forma muito intensa por todos e, em segundo, porque o que propomos desperta muita curiosidade para uma futura replicação. Contudo, mantém-se o desafio do investimento necessário para se priorizar um programa como o Target, em detrimento de outras áreas“, aponta Inês Sequeira.
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