Carros elétricos chineses representam apenas 2,5% da quota de mercado em Portugal
Investigação de Bruxelas visa "recuperar a sua soberania tecnológica", dado que o bloco tem vindo "a perder importância face a outros geografias, sobretudo nos carros elétricos", diz ACAP.
A venda de carros elétricos fabricados na China ainda é pouco expressiva, representando apenas 2,5% dos carros elétricos vendidos em território nacional. Ainda assim, o secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP) admite que este número possa vir a aumentar, dado que Pequim produz “em larga escala” e a Europa tem vindo a perder a sua “soberania tecnológica”.
“Neste momento, em Portugal as vendas de carros elétricos chineses representam cerca de 2,5%. É um número ainda reduzido, mas poderá, naturalmente, vir a aumentar”, admite Helder Pedro, em declarações ao ECO, referindo, no entanto, que o mercado automóvel é “concorrencial” e que a China “é um grande produtor”, com uma grande inovação tecnológica e um “grande domínio da cadeia de valor do carro elétrico”, nomeadamente ao nível das baterias elétricas para carros, dado que “há vários minerais que são produzidos na China e que a Europa não produz”.
A venda de carros elétricos chineses em Portugal ainda tem pouca expressão, havendo apenas três marcas presentes em solo nacional: a MG, a Aiways (com 36 carros vendidos entre janeiro e agosto) e a BYD, que só chegou a território nacional em maio deste ano e até agosto já vendeu 118 carros elétricos. No primeiro semestre deste ano, foram vendidos 17.074 carros elétricos ligeiros de passageiros em Portugal, contra 18.028 em todo o ano de 2022, 13.389 em 2021 e 7.872 em 2020, segundo os dados da ACAP.
Mas o mesmo não se pode dizer a nível mundial e europeu. De acordo com o relatório da Agência Internacional de Energia — que analisa as perspetivas para este ano no mercado de veículos elétricos –, em 2022 a China foi responsável por 66% das vendas globais de carros elétricos. Além disso, este relatório revela que “a Europa é o principal parceiro comercial da China tanto nas baterias elétricas quanto nos carros elétricos”, sendo que a quota de mercado de carros elétricos chineses vendidos no “Velho Continente” aumentou para 16%, contra 11% no período homólogo.
A China tem-se tornado numa grande potência económica, em parte, à boleia do investimento estatal. Esta semana, a Comissão Europeia anunciou que vai investigar os subsídios dados aos fabricantes de carros elétricos na China, dado que considera que estão a “distorcer o mercado” e poderá tratar-se de uma “concorrência desleal”. Esta investigação era já pedida pelo governo francês, segundo escreveu o Politico.
Entre os argumentos invocados por Ursula Von der Leyen está o facto de os mercados globais estarem “inundados com carros elétricos baratos chineses que têm subsídios de Estado”. De acordo com o Público, em Portugal os carros chineses são 10% a 14% mais baratos do que os rivais. Ao ECO, o secretário-geral da ACAP escusa-se a comentar preços, referindo apenas que “há 30 e tal marcas de automóveis a atuarem” no país, pelo que com “tantas marcas o consumidor tem uma larga opção de escolha”.
Caso fique provado que estes subsídios são prejudiciais para a indústria europeia, Bruxelas poderá avançar com tarifas à importação de veículos elétricos, sendo que em teoria os países podem contestar, mas, de acordo com o Politico, precisam de ter uma maioria qualificada. Certo é que a reação de Pequim não tardou, com o governo chinês a alertar para o “impacto negativo” nas relações entre o país e a União Europeia (UE) e a considerar que a medida é “abertamente protecionista”.
Em declarações ao ECO, o secretário-geral da ACAP nota que esta investigação — que ainda não foi formalmente aberta — insere-se numa tentativa de a Europa tentar “recuperar a sua soberania tecnológica“, dado que tem vindo “a perder importância face a outros geografias e sobretudo nos carros elétricos”, onde, além dos carros elétricos, a China “domina “70% a 80% da cadeia de valor da bateria elétrica”.
“A nível industrial, [a Europa] perdeu a sua soberania tecnológica para outras geografias, como se viu com a pandemia, com as cadeias de abastecimento e com a crise dos semicondutores (…) Agora até que ponto é que a Comissão Europeia consegue investigar na China quais são as subvenções dadas?”, questiona Helder Pedro.
Apesar de sublinhar que “é preciso recuperar a influência que a Europa já teve”, o secretário-geral da ACAP lembra que já estão a ser tomadas algumas medidas em contexto europeu, nomeadamente com a criação de fábricas de produção de baterias na Europa ou com a nova lei dos “chips” que visa estimular o setor dos semicondutores no espaço comunitário. Além disso, deixa o aviso: “a indústria automóvel é uma indústria global, não vai deixar de ser globalizada”, nem “vai funcionar em compartimentos fechados”, pelo que “os construtores europeus também estão a produzir noutros continentes, incluindo na China“.
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