Portugal Sou Eu assume “forcing especial” para substituir importações na indústria

Programa lançado há dez anos já “colou” selo Portugal Sou Eu em 19 mil produtos e serviços, com 4.400 empresas registadas. Desafia fábricas a comprar mais matérias-primas e bens intermédios nacionais.

Lançado há pouco mais de dez anos – a primeira adesão de uma empresa e atribuição do selo a um produto aconteceu a 12 de fevereiro de 2013 –, o programa Portugal Sou Eu completa a primeira década no terreno com 4.400 empresas registadas (das quais 1.200 são estabelecimentos comerciais) que geram um volume de negócios agregado de cerca de 13 mil milhões de euros, e mais de 19 mil produtos e serviços qualificados com essa distinção.

De acordo com os dados avançados ao ECO pela Associação Empresarial de Portugal (AEP), que assume atualmente a coordenação desta iniciativa do Ministério da Economia (foi antes gerida pelo IAPMEI) e que esta quinta-feira à tarde organiza um encontro sobre o tema na Exponor, em Matosinhos, entre as aderentes “predominam as micro e pequenas empresas” e há uma “clara predominância” da indústria transformadora, sendo 57% do setor alimentar e das bebidas.

Dirigido aos setores primário, da indústria, serviços, artesanato, comércio a retalho e por grosso, restauração e alojamento, é nos distritos de Lisboa, Porto, Bragança, Braga, Viseu e Aveiro, por esta ordem, que está sediado o maior número de empresas aderentes. Já no que respeita à quantidade de produtos com selo atribuído, Coimbra surge em primeiro lugar, “com grande destaque”, seguindo-se Lisboa, Porto e Leiria.

A certificação do Portugal Sou Eu é calculada com base numa norma de incorporação nacional, transversal e aplicável a todos os setores de atividade, que considera também outros fatores, como marcas e patentes, impacto no emprego e valor acrescentado. Já o estatuto de estabelecimento aderente é atribuído às retalhistas em função do número de produtos com o selo que comercializam, e à restauração consoante os que são utilizados nas ementas. Em termos médios, o selo custa 180 euros anuais a uma microempresa.

Aumentam as exportações, mas aumentam proporcionalmente as importações de matérias-primas e bens intermédios. Neste momento, o programa está a fazer um forcing especial junto das empresas, associando-se ao grande desafio ambiental de dissociar o crescimento económico do maior consumo de recursos.

Luís Miguel Ribeiro

Presidente do conselho de administração da AEP

Além dos consumidores, que foram o foco nos primeiros anos, também quer sensibilizar as empresas para a escolha de produtos e serviços portugueses no seu consumo de bens intermédios, pois “o que tem acontecido é que aumentam as exportações, mas aumentam proporcionalmente as importações de matérias-primas e bens intermédios”. “Neste momento, o programa está a fazer um forcing especial junto das empresas, associando-se ao grande desafio ambiental de dissociar o crescimento económico do maior consumo de recursos”, adianta o presidente da AEP.

E sendo a indústria transformadora, que é precisamente a que tem maior representatividade no Portugal Sou Eu, um dos setores com elevada incorporação de consumo de bens intermédios, acrescenta Luís Miguel Ribeiro, eleito em junho para um novo mandato à frente da associação patronal nortenha, “existe aqui um elevado potencial para a promoção da economia circular, a redução das importações e, por consequência, uma melhoria do saldo externo do país e o aumento do PIB” nacional.

O ex-ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, acompanhado pelo empresário Carlos Gonçalves, durante a visita à empresa alimentar Mendes Gonçalves, na Golegã (uma das primeiras empresas aderentes ao programa), no âmbito da assinatura do novo modelo de governação do Portugal Sou Eu.Paulo Cunha/LUSA 30 janeiro, 2019

Por outro lado, atesta que esta distinção pode também ser um elemento diferenciador na internacionalização, com o programa a disponibilizar uma “declinação” do selo para a exportação. E com o país a ganhar nos últimos anos a “reputação de produzir bem e com qualidade em vários setores de atividade”, o dirigente associativo comenta que “as empresas aderentes reportam que a identificação de origem é, no geral, uma mais-valia e em alguns casos é mesmo um fator decisivo na abordagem a mercados internacionais”.

Cofinanciado pelo Compete 2020, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, o programa tem também no órgão de gestão a Associação Industrial Portuguesa – Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI), a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e o IAPMEI. A AHRESP (hotelaria e restauração), a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) e a CCP – Confederação do Comércio e Serviços de Portugal também são parceiras do programa

O desafio da inflação e a pandemia “paradoxal”

Os estudos de avaliação e monitorização do programa são realizados de três em três anos. O último foi feito no final de 2020, com 83% das empresas a confirmarem nessa altura um aumento nas vendas desde a adesão ao programa e 95% dos consumidores a apoiarem a existência de um selo identificativo dos produtos portugueses. No que toca à notoriedade assistida, evoluiu de 27,7% em 2014 para 81,2% seis anos depois.

Questionado sobre o receio de que os consumidores olhem apenas para o preço na hora de comprar, sobretudo no atual período de escalada da inflação, Luís Miguel Ribeiro começa por reconhecer que o atual contexto tem “um impacto muito negativo, quer pela via da subida dos custos de produção e, consequente, redução das margens de negócio das empresas, quer pela redução do rendimento disponível das famílias”.

Luis Miguel Ribeiro, presidente da AEP, em entrevista ao ECO - 13SET22
Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEPRicardo Castelo/ECO

Ainda assim, contrapõe que, “no momento da compra, os consumidores estão hoje muito mais sensibilizados para a importância de consumir produtos com elevado grau de incorporação nacional – por todas as implicações positivas que isso traz em termos microeconómicos e macroeconómicos”. Por isso, completa o líder da AEP, “apesar da perda do poder de compra, temos confiança de que esta atitude vai continuar a prevalecer na hora da realização da compra, e não unicamente no fator preço”.

Para trás ficaram anos marcados pela pandemia de Covid-19, que teve um “impacto paradoxal” na caminhada do Portugal Sou Eu. Por um lado, “acelerou a tomada de consciência do impacto do consumo de produtos portugueses na economia e a perceção do risco da excessiva dependência de mercados mais longínquos ao nível das cadeias de valor globais”. Por outro, acabou por haver nessa fase uma “proliferação de marcações com cores e simbologias associadas à portugalidade, sem qualquer rigor na avaliação, acabando por confundir e não esclarecer o consumidor”.

No evento agendado para esta tarde, no Foyer da Exponor, em Leça da Palmeira, para fazer um balanço das atividades desenvolvidas no âmbito deste programa para dinamizar a competitividade das empresas portuguesas, vai participar o administrador da AICEP e vogal não executivo do IAPMEI, Luís Rebelo de Sousa, que fará uma intervenção com o tema “As marcas portuguesas e a internacionalização – que futuro?”.

Num formato de mesa-redonda, três empresas aderentes vão partilhar as suas experiências: Manuel Vieira Lopes, da Casas em Movimento (caso inovação); Vítor Rodrigues, da Amor Luso (caso sustentabilidade) e Inês Barbosa, da Wingsys (caso transformação digital).

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