Um quarto das crianças não conseguem sair da pobreza, conclui estudo

Filhos de agricultores e de trabalhadores não qualificados têm uma taxa de risco de pobreza três vezes maior do que crianças com pais das atividades intelectuais, conclui o estudo da Nova SBE.

Um quarto das crianças não conseguem sair da situação de pobreza na idade adulta. E filhos de trabalhadores não qualificados ou com baixa escolaridade têm maior dificuldade em subir no elevador social, segundo o relatório “Portugal e o Elevador Social: Nascer pobre é uma fatalidade?”, de Bruno P. Carvalho, Miguel Fonseca e Susana Peralta, investigadores do Nova SBE Economics for Policy Knowledge Center. Os autores alertam que “não há evidência de que a transmissão intergeracional de pobreza esteja a diminuir”.

O estudo, divulgado esta terça-feira, Dia Internacional para Erradicação da Pobreza, analisa a transmissão da pobreza de pais para filhos e discute os vários motivos que a podem desencadear: nível de escolaridade, situação laboral, composição do agregado familiar e outras situações sociodemográficas, como por exemplo nacionalidade e privação material.

Com base nos dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento de 2019 (ICOR), que recolhe informação junto de cada respondente acerca da sua situação económica presente e do seu agregado quando tinha 14 anos, os investigadores concluem que “a situação financeira do agregado é um determinante importante da transmissão intergeracional da pobreza”.

“Uma em cada quatro pessoas que cresceu num agregado com uma má situação financeira é pobre”, destaca o estudo. Para além disso, um em cada três adultos cuja família não conseguia satisfazer as necessidades de material escolar aos 14 anos é hoje pobre, sendo que, nos adultos cuja família conseguia satisfazer estas necessidades, a taxa de pobreza baixa para metade.

O estudo salienta ainda que “adultos que viviam em agregados com privação na satisfação de necessidade escolares e alimentares têm taxas de pobreza mais de duas vezes mais altas do que aqueles sem privação”, referem os investigadores. Para além disso, “um em cada quatro adultos que viviam em instituições de acolhimento aos 14 anos é pobre”.

Uma comparação entre as gerações nascidas nas décadas de 60, 70 e 80 indica que “os adultos que viviam, aos 14 anos, em agregados com boa situação financeira têm taxas de pobreza entre 11% e 13%, independentemente da década em que nasceram”. Para os adultos que viviam em famílias de baixos rendimentos, as taxas de pobreza variam entre 22% e 24%.

Assim, a diferença na taxa de pobreza dos adultos que viviam, aos 14 anos, em agregados com boa ou má situação financeira é sistematicamente de entre 11 e 12 pontos percentuais, independentemente da geração considerada. “Logo, não há evidência de que a transmissão intergeracional de pobreza esteja a diminuir”, alertam os autores do estudo.

O nível de escolaridade e a situação laboral dos pais também podem bloquear ou acelerar a subida no elevador social dos filhos quando chegam à idade adulta. “As pessoas cujo pai completou apenas o ensino básico são duas vezes mais afetadas pela pobreza do que aquelas cujo pai completou o ensino secundário”, indica o relatório.

Entre os adultos cujo pai tinha ensino básico, apenas 20% completam o ensino superior; esta percentagem sobe para 58,5% e 75,6% para adultos com pais com ensino secundário ou superior, respetivamente. Assim, “ter um pai com ensino superior quase quadruplica a probabilidade de um adulto ter ensino superior”, concluem os investigadores.

Quanto à situação laboral, o estudo revela que “um em cada quatro adultos que, aos 14 anos, tinham um pai desempregado, é pobre”. Isto sugere que “a situação laboral dos pais é determinante para a situação de pobreza dos filhos, quando atingem a idade adulta”, segundo os autores do estudo.

A profissão dos pais também é relevante: filhos de agricultores e de trabalhadores não qualificados têm uma taxa de risco de pobreza de 22%, isto é, três vezes maior do que os 7% que podem afetar os filhos de especialistas das atividades intelectuais.

No que diz respeito à composição do agregado familiar, 20% dos adultos que cresceram em famílias monoparentais estão em risco de situação de pobreza. Para aqueles que, aos 14 anos, viviam em famílias numerosas, esta probabilidade aumenta para 23%. “As pessoas adultas que não viviam com o pai aos 14 anos têm uma taxa de pobreza de 17%, que aumenta para 23% quando não tinham contacto com o pai”, refere o relatório.

Por fim, os investigadores analisam outras situações sociodemográficas que podem condicionar a taxa de pobreza dos inquiridos, como a nacionalidade e o grau de urbanização da zona onde os pais viviam. Assim, um em cada quatro filhos de imigrantes é pobre e os adultos que cresceram em áreas rurais têm maior risco de pobreza.

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