Gestão da Altice cometeu erros “estúpidos”, diz Drahi aos sindicatos franceses

Dono da Altice reuniu com representantes dos trabalhadores em França e admitiu que centralizar processos de compra e escolher a Huawei como fornecedora foram erros de gestão.

O patrão da Altice, Patrick Drahi, reuniu esta terça-feira com sindicatos franceses, tendo admitido erros de gestão na multinacional, incluindo que “foi estúpido centralizar” as decisões de compra na empresa, noticia a Bloomberg.

Foi o primeiro encontro de Drahi com representantes dos trabalhadores em França desde que foi conhecida a investigação judicial da Operação Picoas em Portugal no início do verão. A reunião aconteceu também numa altura em que a empresa estará a ponderar novamente a venda de ativos estratégicos na Europa, incluindo a Altice Portugal, de acordo com informações que circulam no mercado.

O magnata disse aos sindicatos franceses que o grupo cometeu erros de “confiança” e que não devia ter centralizado as decisões de contratação. A Operação Picoas investiga como a Altice pode ter sido lesada por indivíduos, incluindo pelo seu cofundador, Armando Pereira, e um parceiro de negócios, Hernâni Vaz Antunes, na relação com alguns dos seus principais fornecedores. Pereira e Vaz Antunes encontram-se em prisão domiciliária.

Outro ponto abordado no encontro, em que Drahi terá participado por videochamada, foi o da dívida. O grupo Altice tem estado sob pressão por acumular uma dívida que ascende a 55 mil milhões de euros, mas Patrick Drahi desdramatizou a situação, referindo: “Não existe nada [para pagar] antes de 2027 exceto 1,5 mil milhões em 2025. É um não-problema”, sublinhou, citado pela Bloomberg.

O ECO tinha avançado em setembro que a Altice France e a Altice International, onde se inclui a Altice Portugal, têm quatro mil milhões de dívida a vencer até 2026, com base na informação indicada pela própria empresa nos últimos relatórios trimestrais.

Escolher Huawei foi “erro enorme”

Na reunião com os sindicatos, Patrick Drahi confessou que a escolha da Huawei como fornecedora foi “também um erro enorme”. Uma mudança significativa no discurso do multimilionário, tendo em conta que, no passado, chegou a dizer que os equipamentos da empresa chinesa eram “os melhores”.

A agência noticiou esta semana que trabalhadores, sindicatos e uma consultora alertaram a gestão da empresa durante anos para riscos e preocupações envolvendo fornecedores, incluindo a Huawei. Segundo avançou a Bloomberg na segunda-feira, em 2020, um trabalhador da Altice France convidou cinco empresas a apresentarem ofertas para um projeto, mas foi alvo de reprimenda, pois o trabalho já teria sido prometido à Huawei. Acabou por ser despedido, depois de ter considerado o acordo injusto para a Altice.

A declaração de Patrick Drahi sobre a Huawei também pode ser vista à luz das decisões que estão a ser tomadas na Europa para afastar a tecnologia chinesa das redes de comunicações, sobretudo em Portugal. O país decidiu excluir a Huawei do 5G, uma decisão que a empresa chinesa está a contestar na Justiça.

Contactada antes da publicação desta notícia, a Altice Portugal não quis fazer comentários.

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