Relatório M&A: a análise da atividade em Portugal

  • ECO
  • 23 Outubro 2023

A Abreu Advogados, em parceria com o TTR e com o ECO, organizou o evento de lançamento do relatório Portugal M&A Report – An overview of the Portuguese M&A activity, que decorreu no dia 18 de outubro.

Os tempos de incerteza e insegurança que se vivem atualmente, tanto a nível geopolítico como económico, têm vindo a afetar vários setores de atividade e, consequentemente, os investimentos que se fazem neles. A preocupação com os riscos tem levado vários investidores a procurarem setores da economia portuguesa que se mostraram mais resilientes a todos os contratempos, de forma a sentirem-se mais seguros.

Mas quais são as áreas do mercado que se mostraram mais resilientes? E quais são as tendências para 2024? Os dados recolhidos pelo relatório Portugal M&A Report – An overview of the Portuguese M&A activity respondem a estas e outras questões e foram apresentados na passada quarta-feira, dia 18 de outubro, num evento organizado pela Abreu Advogados, em parceria com o TTR – Transactional Track Record e o jornal ECO, em Lisboa.

Assista ao vídeo da conferência:

Nesta conferência estiveram presentes vários especialistas, nomeadamente Ana Sofia Batista, Abreu Advogados; Manuel Santos Vítor, Abreu Advogados; Oliver Hill, Editor TTR Data; Luís Marques Mendes; Hugo Teixeira, Abreu Advogados; e Pedro Alves da Silva, Abreu Advogados, que foram responsáveis pela primeira parte do evento.

A parte final da conferência foi dedicada a um debate, moderado por Shrikesh Laxmidas, do ECO, que teve como oradores João Pratas, Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios; João Nuno Palma, Banco Comercial Português; Manuel Queiroz Ribeiro, Banco Português de Fomento; e José Maria Corrêa de Sampaio, Abreu Advogados.

Depois da sessão de boas-vindas, feita por Ana Sofia Batista, seguiram-se algumas apresentações, que tinham como objetivo mostrar o estado da atividade de M&A em Portugal. Na primeira apresentação, Manuel Santos Vítor começou por dizer que “as estrelas da atividade de M&A foram os setores habituais – imobiliário, energia (sobretudo renováveis), tecnologias de informação, empresas digitais, com muitas transações a serem realizadas por vendedores e compradores não portugueses“.

Perspetivas para a atividade de M&A em 2024

O facto de a maior parte dos investidores que apostam em Portugal serem estrangeiros é uma tendência que o responsável da Abreu Advogados realçou que “não vai mudar no curto ou no médio prazo”, no entanto também destacou a guerra na Ucrânia e o recente ataque em Israel como sendo situações que causam imensas preocupações no setor de M&A.

Ainda assim, Manuel Santos Vítor mostrou-se otimista com os indicadores macroeconómicos de 2023, que ajudam a atividade de fusões e aquisições e que considera que devem consolidar-se em 2024. São eles o controlo eficaz da inflação; uma maior robustez da economia em setores fundamentais, como o turismo; a redução do endividamento público e dos juros; e a melhoria dos outlooks e dos ratings da dívida pública.

“O que se segue? Vamos ter de falar, inevitavelmente, do PRR. Os anos de 2023 e 2024 vão ser marcados pela injeção massiva de fundos na nossa economia, fundos esses vindos do PRR, de fundos estruturais da UE. Esta injeção massiva de fundos levará a maior investimento público, nomeadamente nos serviços, equipamentos, e em ferramentas inovadoras necessárias para o crescimento da qualificação digital, para a transição energética e climática, para a descarbonização da economia e do reforço do sistema de saúde“, afirmou.

Com a mesma visão otimista estava Oliver Hill, que apresentou vários dados que demonstram a recuperação de Portugal depois da pandemia: “O volume de transações de fusões e aquisições no primeiro trimestre de 2023 ultrapassou os trimestres correspondentes em cada um dos quatro anos anteriores. A atração por Portugal nunca foi tão forte e os setores que consistentemente representam o maior volume de fusões e aquisições nos últimos anos indicam claramente que o país está no bom caminho”.

“Ao entrarmos no último trimestre de 2023, há boas razões para otimismo. A implementação do regime de sustentabilidade da UE está em pleno vigor e exigirá mudanças no business as usual que estimularão as despesas e, em última análise, posicionarão as empresas portuguesas para uma maior resiliência e crescimento. O financiamento da recuperação e o financiamento climático estão disponíveis e podem servir de catalisadores para a transformação das empresas”, acrescentou.

“Devemos ser otimistas, mas sobretudo realistas”

Por sua vez, Luís Marques Mendes teve um discurso menos otimista que Manuel Santos Vítor e Oliver Hill e justificou as suas preocupações o risco de insegurança provocado pelas duas guerras que estão a acontecer no mundo, na Ucrânia e em Israel.

Gostava de partilhar convosco boas notícias e bom futuro, mas acho que isso seria enganar toda a gente. Devemos ser otimistas, mas sobretudo realistas. Tudo o que é realmente importante para nós, portugueses, desde logo em termos económicos, depende muito mais do mundo e da Europa do que aquilo que se passa cá dentro”, disse, realçando a dependência de Portugal face ao exterior e a insegurança que isso traz devido à instabilidade que se verifica.

O especialista acrescentou, ainda, que a situação já era séria, mas foi “agravada pela questão do Médio Oriente que, em termos globais e económicos, torna a situação mais sensível do que a guerra na Ucrânia“. E, a acrescentar a isso, Luís Marques Mendes referiu, ainda, a “guerra fria” entre os EUA e a China, que, mesmo sendo “menos militar e mais económica, é um risco a ter em atenção”.

“Há, ainda, outro desafio para esta década que convém ter em atenção: a entrada da Ucrânia na UE, que não será a curto prazo, mas será numa perspetiva de meia dúzia de anos. É uma grande notícia do ponto de vista geoestratégico, da solidariedade europeia, mas a outra dimensão disto é que vai significar um problema político, isto porque vamos ter metade da Europa a favor e outra metade contra, também vai significar um problema institucional porque vai ser inevitável termos uma Europa a várias velocidades, e ainda um problema financeiro porque a Ucrânia é um país muito grande e muito pobre, então isto significa que vai ser a entrada do país mais pobre de sempre dentro da UE. Sendo grande já precisa de muitos fundos, sendo pobre precisa ainda de mais”, explicou.

Os dados do relatório e as oportunidades para o futuro

Depois das intervenções iniciais, seguiu-se a apresentação dos dados recolhidos no relatório Portugal M&A Report – An overview of the Portuguese M&A activity, realizada por Pedro Alves da Silva e por Hugo Teixeira.

“Navegar nos mercados neste segundo semestre de 2023 e em 2024 exigirá não só superar as dificuldades de financiamento, mas também enfrentar efeitos diretos e indiretos de guerras, efeitos de uma inflação bastante alta e juros altíssimos quando comparados aos últimos 10 anos. Isto tudo provoca um impacto grande na avaliação das empresas para quem investe”, começou por dizer Hugo Teixeira.

Alguns dados apresentados pelos dois especialistas que corroboram esta ideia são uma queda de 37% no volume de transações em 2022 face a 2021 e uma tendência relativamente decrescente no primeiro semestre de 2023. A acrescentar a isso está também a subida da Euribor, em 450 pontos base, entre julho de 2022 e setembro de 2023.

Hugo Teixeira alertou, ainda: “A previsão de crescimento da UE para 2024 é de 1.4%. Temos uma já anunciada e sentida recessão na Alemanha, por isso os próximos tempos vão ser duros e a adaptação das empresas e dos investidores económicos terá que ser grande“.

Apesar disso, Pedro Alves da Silva destacou o posicionamento de Portugal na lista dos países mais atrativos da Europa para investimento estrangeiro. “Portugal é o sexto país mais atrativo da Europa para investimento. Em 2022, de acordo com os números do TTR e das operações reportadas, foram registadas transações transfronteiriças em Portugal no valor de 12.6 mil milhões de euros. E a razão de ser deste investimento estrangeiro em Portugal tem, sobretudo, quatro fatores: estabilidade política; alguma estabilidade económica; mão-de-obra qualificada; localização estratégica do ponto de vista geográfico; e também incentivos governamentais de apoio à economia”.

Nesse seguimento, Hugo Teixeira destacou os quatro setores que foram mais atrativos para os investidores, nomeadamente o imobiliário e construção; a energia e energias renováveis; as tecnologias e telecomunicações; e o setor financeiro e de seguros. “O ano de 2022 registou um crescimento médio, tanto em valor como em volume, da atividade de M&A nestes quatro setores”, referiu.

Pedro Alves da Silva especificou que esse crescimento “rondou os 8.7%” e que o crescimento no valor das transações em termos médios foi de 11%, principalmente no setor financeiro e de seguros, de tecnologias e telecomunicações, “que foram os mais resistentes ao impacto macroeconómico e geopolítico de 2022”.

“No total, a atividade de M&A nos quatro setores referidos aumentou do valor de 6.3 mil milhões de 2021 para 7 mil milhões de euros. E, no total, foram registadas 287 transações relativamente ao mesmo período”, revelou.

A M&A pelo ângulo da banca

Durante o painel de debate, que se seguiu à apresentação do relatório, José Maria Corrêa de Sampaio afirmou que, depois de analisar com mais detalhe a atividade de M&A em 2023, pôde perceber que “não está tão negativa nem tão diferente” dos outros semestres dos outros anos. “Ou seja, houve realmente uma ligeira diminuição do volume de transações, mas que se pode vir a recuperar no segundo semestre“, disse.

A mesma opinião foi partilhada por João Pratas que referiu: “As ações sofrem com as subidas das taxas de juro, mas as obrigações também sofreram. Havendo um ajuste e uma taxa de juro estável, eu acho que o mundo volta à normalidade“.

Por sua vez, João Nuno Palma destacou o papel dos empresários neste “regresso à normalidade” e a capacidade que a banca tem de apoiar as empresas portuguesas. “A constante da recuperação são os empresários, sempre foram em todas as crises em Portugal. E o setor financeiro está muito mais resiliente e muito mais capacitado para apoiar o tecido empresarial português“, garantiu.

Nesse sentido, Manuel Queiroz Ribeiro também destacou o papel dos produtos de private equaty, que considera fundamental: “Por um lado, pelo reforço do balanço das empresas, da valorização de ativos, de recursos humanos e sistemas das empresas investidas, pelo facto de ser a própria operação de M&A, em particular o M, um meio rápido para alcançar escala e para, com isso, fazer uma relação direta para a produtividade. Por outro lado, estes produtos, ao introduzirem novos investidores, vão motivar novas valias“, concluiu.

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