Do financiamento através do PRR aos fornecedores, como cortar custos na sua empresa

Um programa de corte de custos pode ajudar as empresas a dar um impulso à rentabilidade, numa conjuntura de grande incerteza. Conheça as dicas dos especialistas para cortar custos nas empresas.

A forte subida dos preços, o abrandamento na economia e o agravamento dos custos de financiamento colocam sérios desafios aos resultados das empresas. Uma boa gestão dos custos pode dar uma importante ajuda, transformando estas poupanças em lucros. Mais do que os tradicionais planos de reestruturação – muito usados em anos de crise – os especialistas deixam um conjunto de medidas para otimizar e reduzir as despesas das empresas no dia-a-dia. A longo prazo, programas como o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o Portugal 2030 podem ser as grandes fontes de financiamento dos negócios para fugir aos elevados custos de crédito da banca.

“A estratégia (de redução de custos) depende da dimensão da empresa, do volume de faturação e da indústria, sendo fundamental saber adaptar as boas práticas de redução de custos caso a caso”, explica João Costa, country manager da Expense Reduction Analysts (ERA). O especialista alerta que, frequentemente, os líderes das empresas não se envolvem na forma como mais de metade dos orçamentos são gastos. “Nalgumas empresas, implementar uma estratégia de Agile Procurement, que enfatiza a colaboração, flexibilidade e capacidade de resposta na gestão do processo de aquisição de bens, serviços, ou trabalhos a fontes externas – o Procurement – pode permitir, nomeadamente, cortar despesas gerais através da racionalização do processo, identificar potenciais problemas numa fase precoce e melhorar o desempenho dos fornecedores”, explica.

Seguir esta estratégia é, na opinião de João Costa, o segredo para as empresas se tornarem mais eficientes, eficazes e bem posicionadas para terem sucesso, num mundo em rápida mudança. Inês Martins, CEO da ECOST, concorda que as empresas enfrentam grandes desafios. “É importante que essas dificuldades sejam bem identificadas para que possam ser superadas/minimizadas”, esclarece, acrescentando que “uma gestão de custos eficaz não se trata apenas de cortar nas despesas, mas encontrar um equilíbrio entre a redução de custos e o investimento em áreas fundamentais que proporcionem o crescimento saudável e sustentável da empresa”.

Para João Ribeiro, managing partner da Mercal Consulting Group, apesar das dificuldades incontestáveis que as empresas enfrentam, há um game changing no mercado: o PRR e o Portugal 2030. Basta saber usá-los. Mas este não é o único conselho para poupar nos custos. Veja aqui as dicas para cortar nos custos na sua empresa:

Aposte na digitalização e na automatização de tarefas

Otimizar processos de produção é, para João Ribeiro, mais importante que nunca. O managing partner da Mercal realça que há uma clara “oportunidade de melhoria de produtividade e redução de custos”. A aposta na inovação e na digitalização, assim como a automatização de produção e de tarefas, podem permitir esta otimização de processos e poupar dinheiro à empresa. A título de exemplo, João Ribeiro refere o setor têxtil, onde algumas empresas automatizaram alguns processos na indústria de roupa e calçado – sem costuras. Uma tecnologia diferenciadora que permite manter a competitividade nos mercados internacionais.

Renegociar contratos e fornecedores

O agravamento dos preços das matérias-primas e do preço a pagar aos fornecedores em geral é um dos principais problemas que as empresas enfrentam e que ameaça os resultados. Procurar novos fornecedores e renegociar contratos é, para os três especialistas, uma das áreas em que as empresas podem investir para cortar custos. “Negoceie os contratos, solicite propostas a diversos fornecedores, pois estes poderão ter uma maior flexibilidade de ajustes de preços. Ter múltiplos fornecedores pode ajudar a minimizar o impacto de aumentos dos preços de um único fornecedor”, explica Inês Martins. João Costa reforça que as empresas devem “dedicar mais tempo ao processo de aquisição de bens, serviços, ou trabalhos a fontes externas”, pois “representa uma fatia significativa dos orçamentos das empresas e devem receber a atenção devida se o objetivo é otimizar processos”.

Faça uma boa gestão de stocks e evite o desperdício

Não comprar mais do que precisa ajuda a evitar desperdícios e a poupar dinheiro. “Manter um controlo rigoroso e eficaz do inventário, baseado na variação da oferta e procura em tempo real, que é fundamental para evitar a imobilização de capital em stocks não utilizados”, explica o managing partner da ERA. Inês Martins concorda que fazer uma boa gestão dos stocks pode trazer poupanças às empresas, acrescentando que estas devem procurar reduzir os desperdícios com matérias-primas, energia ou tempo.

Produtos menos dependentes da flutuação de preços

Há custos que não se podem cortar, nomeadamente nos materiais necessários para fabricar um produto. Mas, perante preços cada vez mais elevados, Inês Martins, CEO da ECOST, abre o flanco: “Avalie a possibilidade de desenvolver ou adaptar o produto transformando este menos sensível às flutuações de preços das matérias-primas. Lembramos que cada empresa é um caso e que o importante é estar atento e desenvolver uma gestão proativa com capacidade de adaptação a novos desafios”.

Eleger fontes de energia mais baratas

O verde está na moda. E a verdade é que optar por fontes de energia mais limpas pode transformar uma fatura pesada numa bem mais leve. João Ribeiro recomenda uma análise com alternativas a outro tipo de fontes de energia, mesmo que isso signifique reequacionar toda a atividade. O managing partner da Mercal reconhece, porém, que esta transformação energética tem custos. Por isso, diz, é “preciso fazer a análise de custo-benefício e ver o investimento que representa”. Para aplacar estes custos recomenda a candidatura a programas que financiam esta mudança. “Há fundos na área da energia, o Portugal 2030 e o PRR, que fazem comparticipação de custos”, remata. Para as empresas que não estão dispostas a investir em energias limpas, também é possível poupar na fatura da eletricidade. Tal como fazemos nas nossas casas, as empresas podem seguir determinadas regras que lhes permitem poupar, conforme explica a CEO da ECOST. “Analise e restruture os processos internos de produção, adapte os processos e horas onde os preços da energia são mais baratos”.

Driblar os juros mais altos com PRR e Portugal 2030

O último ano tem sido marcado pela rápida normalização das taxas de juro, que levou os custos de financiamento para máximos de 2007, com os bancos centrais a procurarem colocar um travão à escalada da inflação. Empresas e famílias estão a sentir na pele as consequências destas subidas, com as prestações do crédito a dispararem. Más notícias para quem procura financiamento para o seu negócio. “As condições de financiamento deterioraram-se, mas para acompanhamento há vários programas de apoio ao investimento: o PRR e o Portugal 2030”, destaca João Ribeiro. Para o managing-partner da Mercal este é “um fator a valorizar por parte da empresa. O benefício que daí resulta é extremamente elevado”.

Estes fundos europeus têm um envelope de milhares de milhões para investir em programas focados na resiliência, transformação climática e digital. Atualmente estão abertas candidaturas para programas como recapitalização estratégica, operacionalizado pelo Banco de Fomento, Voucher para Startups tem como objetivo a introdução no mercado de novos produtos verdes e digitais, internacionalização via ecommerce, ou descarbonização da indústria. Pode consultar no site do Recuperar Portugal, a entidade que gere o PRR, outros avisos abertos. E na página do Portugal 2030 também poderá consultar o calendário anual de concursos, ver todos os programas financiados e consultar os detalhes dos processos de candidatura.

Plataformas digitais para uma gestão mais eficaz

O conhecimento de tudo o que move a engrenagem do negócio é a chave para fazer um controlo mais eficaz dos custos. Na opinião de João Costa, da ERA, “a integração de plataformas digitais que registam transações em tempo real e a conexão com fontes externas de dados permitem uma gestão mais precisa e eficaz”. Para o especialista, “adotar estratégias preditivas, preparar para os desafios económicos e manter a agilidade é fundamental para o sucesso das empresas num cenário marcado pela inflação. O planeamento probabilístico, que prevê diferentes cenários, é, por isso, uma abordagem que se revela cada vez mais relevante”.

Fidelizar clientes, sem perder foco no custo

Passar o custo para o cliente nem sempre é a melhor estratégia. Num momento marcado pela subida de preços, as empresas poderão ganhar mais em evitar aumentar preços de venda, mantendo fidelizados os seus clientes. Isto não significa que tenham que ser as empresas a pagar os novos custos de produção e, com isso, ameaçar os resultados. Há que ser criativo, conforme explica João Costa, da ERA. “Algumas estratégias de gestão para enfrentar a inflação a longo prazo incluem apostar na fidelização dos clientes seja através de promoções, ofertas personalizadas ou programas à medida dos mesmos; mas também encontrar alternativas ao aumento de preços ao consumidor como a redução do volume do produto ou a adaptação da embalagem, mantendo os custos controlados sem que os clientes sintam o impacto de imediato”.

Reter talento para não perder trabalhadores

A escassez de mão-de-obra é outra das dificuldades com que as empresas se deparam. Evitar que os seus funcionários saiam, dando-lhes razões para ficar, é uma forma de poupar dinheiro: contratar novos trabalhadores dá mais dores de cabeça e sai mais caro. “A atração e retenção de talento, hoje em dia, são um desafio. É importante o investimento em formação continua, preocupação com o bem-estar e oferecer benefícios atrativos, tornam um desafio para a gestão de recursos humanos”, reconhece Inês Martins. João Costa concorda: “Com a falta de mão-de-obra e com a fuga de talento para o estrangeiro, é fundamental preservar os recursos humanos e as suas qualificações. Desta forma, otimizamos as despesas sem colocar em causa postos de trabalho, o funcionamento normal da empresa e a qualidade dos seus produtos e/ou serviços”, explica.

Caixa à prova de calotes

Antigamente as mercearias tinham um livrinho, onde eram apontadas as compras e a fatura era paga no final do mês. Se muitos pagavam a tempo, outros havia que davam um “calote” ao dono da loja. A prática ficou perdida no tempo, mas os maus pagadores continuam a existir. Para evitar problemas, “cobre aos seus clientes a tempo através de equipas de cobranças capazes e focadas, equilibre os prazos de pagamento aos fornecedores”, aconselha Inês Martins.

Antecipe problemas

Tal como as famílias devem fazer um fundo de emergência para acautelar qualquer eventualidade, também as empresas devem estar precavidas contra contratempos. A criação de um plano económico, com projeções de fluxos de caixa, é, para Inês Martins, uma forma de antecipar os problemas. E manter a liquidez da empresa intacta

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