Crise política tem pouco impacto na bolsa e na dívida pública
Tanto o mercado de ações como o mercado de dívida pública revela sinais de neutralidade face à queda do Governo e à antecipação da data de realização das eleições legislativas.
Depois de um primeiro embate, os investidores estão a ter uma atitude neutral perante a crise política que se está a viver em Portugal, referem os especialistas contactados pelo ECO.
“Após o sell-off, a bolsa portuguesa tem estabilizado”, refere Henrique Tomé, analista da XTB, notando que “as últimas duas sessões têm sido marcadas por ganhos moderados, com os compradores a tentarem recuperar parte das perdas, e as empresas mais afetadas a recuperarem quase as suas quedas iniciais.”
Recorde-se que a 7 de novembro, assim que logo de manhã se soube das buscas e detenções em torno do negócio da concessão do hidrogénio verde e do lítio, e de negócios envolvendo a criação de um data center em Sines pela empresa Start Campus, que o PSI começou a resvalar, contabilizando perdas de quase 3% nesse dia.
No entanto, o PSI acabou por recuperar algumas dessas perdas no dia seguinte e, deste então até ao início da tarde desta sexta-feira, acumulava uma valorização de 0,44%, ao mesmo tempo que as yields das obrigações do Tesouro continuam a alongar a dinâmica de queda que estava a ser construída.
“As yields de referência a 10 anos continuam a recuar e, pelo menos para já, afastam o cenário de perda de credibilidade do país nos mercados internacionais, o que poderia ter um impacto negativo nos juros da dívida portuguesa”, refere Henrique Tomé.
Recentemente, a Standard & Poor’s afirmou que a demissão de António Costa não representa riscos imediatos para a avaliação do risco creditício do país pela agência à dívida soberana portuguesa, atualmente em ‘BBB+’.
Para Mário Martins, analista da ActivTrades, “não obstante a demissão do primeiro-ministro ter sido um evento disruptivo para a vida política, ao nível económico no curto prazo as consequências são limitadas, tendo em conta a decisão do Presidente da República em manter o executivo até pelo menos ser aprovado o Orçamento de Estado.”
O mercado continua a tomar decisões de investimento e de desinvestimento mais com base nas variáveis macroeconómicas do que em situações políticas.
Os mais recentes dados do mercado acionista como do mercado secundário de dívida revelam que a crise política não está a influenciar as tomadas de decisões dos investidores. “É praticamente neutral”, refere João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, notando ainda que “o mercado continua a tomar decisões de investimento e de desinvestimento mais com base nas variáveis macroeconómicas do que em situações políticas“.
Mário Martins acredita que apesar de poder haver alguma reação adversa no imediato, “tanto o PSI como as yields das obrigações do Tesouro deverão estabilizar rapidamente”, sublinhando que “não é expectável grandes oscilações [nos mercados] mesmo no pior dos cenários, visto que a dívida pública, devido ao aumento da inflação, tem estado a reduzir-se versus o PIB.”
Para João Queiroz, o risco para os mercados e para os investidores advirá da instabilidade e da incerteza que possam sair dos resultados eleitorais na eventualidade de daí surgir um “elenco disruptivo daquilo que se espera”.
O mesmo foco de alerta é apresentado pela agência de rating Standard & Poor’s que, no relatório publicado na quarta-feira, notou que, do resultado das eleições legislativas que terão lugar a 10 de março de 2024, poderá sair um Governo com uma política económica que possa “levar a um desvio do longo historial de prudência orçamental de Portugal após 2024 e desacelerar a redução da dívida pública”.
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