McKinsey antecipa vaga de industrialização em Portugal à boleia da revolução verde
Consultora considera que baixo custo das energias renováveis na Península Ibérica permitirá atrair fábricas de setores intensos em carbono e baterias. Investimento pode chegar aos 200 mil milhões.
“Portugal e Espanha têm vantagens competitivas que os tornam capazes de liderar a transformação industrial pela primeira vez em muitos anos”, considera José Pimenta da Gama, managing partner da McKinsey para a Península Ibérica. Segundo a consultora, os recursos naturais dos dois países colocam-nos na linha da frente para atrair investimento nas energias renováveis mas também nas indústrias intensivas em carbono, como o aço e alumínio. Valor pode chegar aos 200 mil milhões até 2030.
A abundância de sol e vento, as reservas de lítio, o potencial para a produção de hidrogénio verde e a existência de infraestruturas dão a Portugal e Espanha uma vantagem competitiva num mundo em que “o novo petróleo é a energia verde barata”, defende José Pimenta da Gama, numa apresentação aos jornalistas que decorreu, esta sexta-feira, em Frankfurt. Segundo as contas da consultora, a Península Ibérica consegue produzir energia que, em média, custa menos 20% do que no resto da Europa.
O que, para a consultora, cria uma oportunidade para uma reindustrialização dos dois países, “com a relocalização de indústrias intensivas em carbono em Portugal e Espanha”, assinala Maria João Ribeirinho, sócia sénior para as áreas de Energia e Infraestruturas. São exemplos o aço verde, o alumínio verde, a amónia verde, o plástico verde ou as baterias para carros elétricos. Setores que para conseguirem atingir as metas de descarbonização terão de utilizar fontes de energia renováveis. Para José Pimenta da Gama, há um ganho em localizar as fábricas perto destas fontes.
Contas da McKinsey indicam que já foram anunciados para os próximos anos investimentos de 20 mil milhões na reindustrialização da Península Ibérica e de 90 mil milhões na Energia. Segundo o cenário traçado pela consultora até 2030, a soma pode crescer até aos 200 mil milhões, estimando a construção de 1.500 projetos de energias renováveis e biogás, a criação de 15 a 20 hubs de produção de hidrogénio, e 20 a 25 fábricas nos setores industriais.
Investimentos que vão criar certa de um milhão de postos de trabalho e “acelerar a convergência económica da Península Ibérica com o resto da Europa”, acredita Maria João Ribeirinho.
Necessidades de capital sem precedentes desde a II Guerra Mundial
Chegar a estes números exige, no entanto, superar vários obstáculos. Uma citação de Ayrton Senna, antigo piloto de fórmula 1, serviu de mote: “Não se consegue ultrapassar 15 carros se estiver bom tempo, mas consegue-se se estiver a chover”. Um dos desafios será conseguir o acesso níveis de capital sem precedentes desde a II Guerra Mundial, refere o managing partner para a Iberia. Sendo ainda incerto de onde virão tão grandes somas, aponta que o investimento do capital de risco neste setor não baixou, ao contrário de outros, e que a consultora recebe regularmente contactos de investidores interessados.
Novos investimentos em tecnologia, o reforço do talento nestas áreas através da formação, a excelência na execução dos projetos e a colaboração entre as diferentes partes interessadas, incluindo empresas e governos, são outros fatores de sucesso apontados.
Os dois responsáveis foram também questionados sobre a situação política difícil de Portugal e Espanha, que não quiseram comentar. A instabilidade “não afeta porque as vantagens naturais estão lá, o talento está lá, as infraestruturas estão lá”, afirmou Maria João Ribeirinho, acrescentando que “as condições para capturar a oportunidade já existem”.
Outro desafio poderá ser o apoio das populações a projetos que têm impactos considerados negativos nas comunidades, de que são exemplo as minas de lítio. “Temos de clarificar nos nossos países a noção de que estas indústrias podem transformar o nosso mundo para melhor e tornar o processo inclusivo”, diz José Pimenta da Gama.
O jornalista viajou a convite da McKinsey
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
McKinsey antecipa vaga de industrialização em Portugal à boleia da revolução verde
{{ noCommentsLabel }}