Antigo ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, morreu aos 81 anos

Wolfgang Schäuble ajudou a negociar a reunificação alemã, em 1990, e que foi uma figura central no esforço de austeridade para tirar a Europa da crise da dívida.

O antigo ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, morreu aos 81 anos, em casa, de acordo com a agência de notícias alemã DPA que foi informada pela família.

O ex-presidente do Bundestag, que ajudou a negociar a reunificação alemã em 1990 e que foi uma figura central no esforço de austeridade para tirar a Europa da crise da dívida mais de duas décadas depois, “morreu pacificamente por volta das 20h, na noite de terça-feira, rodeado pela família”, segundo a DPA.

Wolfgang Schäuble tornou-se ministro das Finanças da chanceler Angela Merkel em outubro de 2009, pouco antes das revelações sobre o crescente défice orçamental da Grécia desencadearem a crise que envolveu o continente europeu e ameaçou desestabilizar a ordem financeira mundial. Ficou conhecido pela defesa da austeridade, uma receita que impôs a todos os países do sul da Europa, incluindo Portugal, e à Irlanda também, que pediram ajuda financeira à troika.

Apoiante de longa data de uma maior unidade europeia, ajudou a liderar um esforço de anos que visava uma integração mais profunda e um conjunto de regras mais rigoroso, nomeadamente um maior controlo dos défice orçamentais e uma redução da dívida pública, ainda que para isso fosse necessário privatizar empresas do perímetro do Estado. Contudo, a Alemanha foi alvo de críticas pela sua ênfase na austeridade, lida por muitos como falta de generosidade.

Apesar das críticas nunca duvidou das “vantagens dos resgates” que ocorreram em vários países na Zona Euro nos últimos anos. Na sua opinião foram os programas de ajustamento que ajudaram países, como Portugal, a regressar ao crescimento económico e a cimentar as suas finanças públicas, mostrando que a pressão exercida por estes programas “funcionaram”.

Portugal nunca deixou de ser alvo dos recados do economista. A 29 de junho de 2017 disse a António Costa que Portugal estaria “a cometer um erro grave” se não cumprisse “os compromissos assumidos”. “Os portugueses não querem [um segundo resgate], e também não precisarão dele se cumprirem as regras europeias”. Mas “têm de cumprir as regras europeias, caso contrário enfrentarão dificuldades”, salientou. Costa terá tomado boa nota do alerta já que Portugal tem agora um excedente orçamental e já deixou o grupo de países mais endividados da zona euro.

O esforço feito por Portugal foi reconhecido pelo alemão que inclusivamente apelidou Mário Centeno, o agora governador do Banco de Portugal, mas antigo ministro das Finanças, de “Ronaldo das Finanças”.

Depois de oito anos como ministro das Finanças, Schäuble consolidou o seu estatuto de estadista mais velho ao tornar-se presidente do Parlamento alemão – o último passo numa longa carreira política na linha da frente.

Foi um membro veterano líder dos Democratas Cristãos (CDU), nasceu em Freiburg em 1942, e chegou a estar perfilado para suceder ao chanceler Helmut Kohl no cargo político mais importante da Alemanha. Desempenhou vários cargos governamentais, nomeadamente como ministro do Interior. Foi nesse papel que, em 1990, foi alvo de uma tentativa de assassinato. Foi alvejado num comício por um homem mentalmente perturbado e os ferimentos acabaram por o confinar a uma cadeira de rodas para o resto da vida, já que ficou paralisado da cintura para baixo.

Wolfgang Schäuble deixa a mulher e quatro filhos.

A presidente da Comissão Europeia, numa reação à morte do antigo ministro alemão das Finanças disse ser “uma grande perda para a Alemanha e para a Europa”. “Com os seus atos e o seu exemplo, moldou a democracia alemã como nenhum outro. Pensou sempre em grande e com visão de futuro”, reagiu Ursula von der Leyen, numa publicação na rede social X (antigo Twitter).

Também a presidente do Banco Central Europeu (BCE) lamentou a morte de Schäuble, dizendo que era “um dos líderes europeus mais influentes da sua geração”. “Estou profundamente triste por saber da morte de Wolfgang Schäuble”, escreveu Lagarde numa publicação na plataforma social X. Endereçando os seus sentimentos à família, Christine Lagarde enalteceu que testemunhou “pessoalmente o seu compromisso para com a Europa, o seu rigor intelectual e o seu sentido de Estado”.

(Notícia atualizada)

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