Horta Osório e Francisco Lacerda apontados à EDP

Depois da anunciada a saída de João Talone da presidência do Conselho Geral e Supervisão da EDP, os principais acionistas avaliam alternativas e querem um perfil técnico e de gestão.

Após o anúncio de João Talone de que não está disponível para um segundo mandato como presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, surpreendente e que resulta de divergências com os principais acionistas relativamente a regras de governação na companhia elétrica, abriu a discussão sobre a escolha do chairman para os próximos três anos e, segundo apurou o ECO junto de duas fontes, ressaltam dois nomes entre os principais acionistas: António Horta Osório e Francisco Lacerda, gestores com perfil técnico e que não têm quaisquer funções executivas.

António Horta Osório é chairman da Bial, não executivo em grupos como a Impresa e os Mello, consultor de instituições com o Mediobanca, e foi recentemente noticiado o seu envolvimento numa operação para comprar a Altice Portugal. Já Francisco Lacerda é administrador não executivo na Endesa, além de consultoria na área financeira. São dois gestores referenciados por alguns dos principais acionistas e têm o perfil técnico e profissional, e alinhados com o perfil da própria comissão executiva, liderada por Miguel Stilwell. A decisão sobre o novo presidente do Conselho é da responsabilidade dos acionistas, terá de ser tomada ao mais tardar até ao final de fevereiro e nenhum nome terá sido ainda contactado.

Quando João Talone foi escolhido, em março de 2021, para suceder a Luís Amado como presidente do CGS da EDP, uma das justificações apontadas pelos acionistas foi a necessidade de ter um perfil diferente na liderança daquele órgão fiscalizador da atividade da comissão executiva. Os acio­nistas como a China Three Gorges (CTG) e a Masaveu pretendiam mudar o perfil do presidente do CGS para competências mais técnicas e profissionais. Talone foi mesmo presidente executivo da EDP e responsável pela entrada da EDP em Espanha entre 2003 e 2006, quando o Estado ainda era acionista da companhia.

O nome de Rui Moreira foi noticiado nos últimos dias, primeiro pelo Expresso, como possível candidato à liderança do Conselho, decorrente de um alegado acordo com o primeiro-ministro António Costa. Oficialmente, ninguém faz comentários a este cenário, mas uma fonte próxima do presidente da Câmara Municipal do Porto garantiu ao ECO que não existia qualquer acordo, tanto mais que há dois ou três meses, período apontado para esse entendimento, não se antecipava a saída de João Talone. Além disso, outra fonte próxima da EDP estranha o envolvimento do primeiro-ministro numa empresa totalmente privada, embora admitindo que o principal acionista, chinês, seja sensível à posição do Estado.

De facto, de acordo com duas fontes que conhecem as discussões na EDP, a China Three Gorges, que tem 20% da EDP, defendia a continuidade de Talone num segundo mandato e terá mesmo feito saber ao gestor esta decisão. Mas não foi sensível, pelo menos até ao momento, aos argumentos de Talone sobre a necessidade de reforçar o número de independentes no conselho que tem como função fiscalizar a atividade da comissão executiva da companhia, liderada por Miguel Stilwell. O Conselho Geral e de Supervisão é composto por 16 membros, cinco dos quais são representantes do acionista chinês e dois do acionista espanhol, além de nove membros independentes, incluindo o próprio João Talone.

Nas últimas semanas, o presidente do conselho e antigo presidente executivo da companhia tinha manifestado a visão de que a EDP deveria reduzir o número de membros do CGS, passando a CTG a ter três ou, no máximo, quatro membros, enquanto a família Masaveu teria um representante. Talone apresentou uma proposta aos acionistas e terá dado o prazo do final do ano para ter uma resposta dos acionistas, que não chegou. Mais tarde, a EDP comunicou oficialmente ao mercado a decisão de Talone.

Assim, os nomes de António Horta Osório e de Francisco Lacerda preenchem os requisitos de perfil técnico e profissional defendido pelos principais acionistas, requisitos que também são defendidos pela Comissão Executiva da EDP, liderada por Miguel Stilwell. Outra fonte contactada pelo ECO recorda que a EDP foi, durante anos, uma empresa por onde passaram ex-ministros e políticos próximos do chamado bloco central, o PS e o PSD.

Com a entrada de Talone e a redução do número de membros da comissão executiva, e para salvaguardar a empresa de qualquer contaminação política, os acionistas optaram por criar uma espécie de ‘veto’ a membros não executivos de perfil político, como seria o caso de Rui Moreira, apesar da sua experiência empresarial prévia à presidência da Câmara do Porto. Moreira era acionista da empresa de transportes Transinsular e posteriormente presidente da Associação Comercial do Porto, de onde saiu quando se candidatou ao município.

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