Construtoras espanholas “combatem com armas diferentes” nos impostos, imigração e financiamento, diz CEO da Mota-Engil
Carlos Mota Santos atribui preços agressivos dos espanhóis às vantagens comparativas na fiscalidade, imigração e financiamento. Políticos portugueses têm “medo” e são “cada vez menos competentes".
A carga fiscal, a política de imigração e o acesso a financiamento estão a dar às empresas espanholas a “capacidade de fazer um preço mais agressivo” nos grandes concursos públicos em Portugal. “Não é por serem melhores, combatem com armas diferentes. Mas são as regras do jogo, é nesse mercado que temos de competir”, apontou o CEO da Mota-Engil.
No caso concreto do concurso público para o primeiro troço da Alta Velocidade, em que o preço pesa 70%, Carlos Mota Santos adivinha uma “concorrência muito forte” por parte dos agrupamentos de empresas espanholas. Por via da maior competitividade fiscal, financeira e nos recursos humanos, e “acrescida por terem muita experiência em infraestruturas de Alta Velocidade e equipamentos já amortizados”. “Seguirão as mesmas regras, mas com condições diferentes”, completa o gestor.
Numa intervenção durante a 6.ª edição da Fábrica 2030, uma conferência organizada pelo ECO na Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, no Porto, o líder da Mota-Engil contabilizou que a carga fiscal sobre as empresas portuguesas está cinco pontos acima da que incide sobre as espanholas. E por via da fiscalidade sobre os rendimentos do trabalho, os seus colaboradores também “auferem mais” ao final do mês.
“Por outro lado, as empresas espanholas também têm acesso a mais recursos humanos, por via de uma menor emigração e uma melhor imigração. É um dos problemas de Portugal: temos uma alta emigração e uma política de imigração que está desencontrada dos recursos que faltam às empresas. As empresas portuguesas têm mais dificuldade no acesso a recursos humanos, em quantidade e em qualidade”, elencou Carlos Mota Santos.
Num painel sobre “as empresas e a criação de riqueza”, que contou também com representantes da EDP, da Altice e da Logoplast, o CEO da maior construtora nacional salientou também que as concorrentes espanholas conseguem ter “acesso a financiamento a custo mais baixo”. “Hoje, a estrutura de financiamento das empresas portuguesas é mais difícil e mais cara” face às concorrentes do país vizinho, explicitou.
Políticos têm “medo” e são “cada vez menos competentes”
A um mês das eleições legislativas, o empresário nortenho pediu para a próxima legislatura um “quadro de estabilidade a quatro anos” e ao próximo Governo que tenha capacidade de decisão, argumentando que “os estudos estão mais do que feitos [e] não vale a pena continuar a diagnosticar” e criticando o “emaranhado burocrático” que gera uma “complexidade que inibe e afasta o investimento”.
Qualquer decisão é logo atacada a nível político e em milhares de programas de televisão. Os decisores políticos ficam com medo – e também são cada vez menos competentes.
E isso acontece, continuou o mesmo responsável, também porque em Portugal “qualquer decisão é logo atacada a nível político e em milhares de programas de televisão por especialistas em tudo e mais alguma coisa”. “Os decisores políticos ficam com medo – e também são cada vez menos competentes”, criticou.
Na mesma conferência, organizada pelo ECO no Porto, Carlos Mota Santos lamentou ainda que “a exigência nas grandes empresas passou a ser diabolizada e mal vista”. “O meu filho tem provas de aferição, em vez de ser avaliado. Estamos numa economia de aferição. Estamos sempre a aferir e não a exigir. Não há uma perda de cultura de exigência, há uma diabolização da exigência. Parece mal sermos exigentes e rentáveis”, concluiu.
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