Sete anos depois, Visabeira arranca “em breve” com obras para hotel nos pavilhões das Caldas

  • Ana Petronilho
  • 23 Fevereiro 2024

Concessão dos Pavilhões D. Carlos I foi atribuída à Visabeira em 2017, através do Revive, mas as obras ainda não arrancaram, tendo sido furado o prazo de dois anos para o início das intervenções.

Quase sete anos depois de ter assinado o contrato de concessão através do Revive, a Visabeira vai arrancar “muito brevemente” com as obras para a recuperação dos telhados e do sótão dos Pavilhões do Parque D. Carlos I, nas Caldas da Rainha, para depois avançar com a transformação dos três edifícios num hotel de luxo. O investimento no futuro Montebelo Bordalo Caldas da Rainha Hotel, de cinco estrelas, ronda os 15 milhões de euros.

É nisto que acredita a Câmara Municipal das Caldas. “Temos nota que a obra de recuperação do incêndio que sofreram os Pavilhões em Setembro de 2023 se iniciará muito brevemente” e “cremos que este início de obras se ligará com todo o projeto de construção”, disse ao ECO a autarquia presidida pelo independente Vítor Marques, que reuniu com a administração da Visabeira para discutir o assunto. No entanto, ao ECO, nem a autarquia nem a Visabeira avançam com qualquer data mais específica para o arranque das obras.

Os Pavilhões do Parque D. Carlos I foram, através de um dos concursos públicos do programa Revive, concessionados à Visabeira, a única candidata, sendo que o contrato foi assinado a 8 de setembro de 2017. O plano inicial seria inaugurar a nova unidade hoteleira de cinco estrelas em dezembro de 2020. Mas, até agora, as obras nunca arrancaram, tendo sido furado o prazo de dois anos previsto no caderno de encargos.

De acordo com os contratos do Revive, gerido pelo Turismo de Portugal, o incumprimento dos prazos para o arranque das obras pode levar ao fim da concessão. E questionada pelo ECO sobre a possibilidade do fim da concessão, a autarquia das Caldas da Rainha diz apenas que “de todos os contactos regulares havidos com a administração da Visabeira retemos o sentimento da boa intenção de conclusão da obra”. Já o Turismo de Portugal não deu qualquer resposta até à hora de publicação deste texto.

O atraso para o arranque das obras passa por várias alterações ao projeto, tendo em conta que se trata de um imóvel classificado pela Direção-Geral do Património Cultural sendo, por isso, obrigatório o “envolvimento de diversas entidades”, explicou ao ECO Jorge Costa, vice-presidente do conselho de administração da Visabeira Turismo, Imobiliária e Serviços SGPS, S.A. E os pareceres necessários das diversas entidades geraram “um processo de licenciamento complexo” que complicou em altura de pandemia. “Os pareceres sobre a intervenção nos edifícios dos Pavilhões do Parque de diversas entidades determinaram sucessivas paragens e reanálises do projeto”, disse ainda Jorge Costa.

Tudo isto levou a que só passados seis anos, a 16 de setembro de 2023, a Câmara das Caldas tivesse enviado à empresa Empreendimentos Turísticos Montebelo, da Visabeira, um ofício a comunicar que a “licença se encontra em condições de ser levantada e a dar-se início às obras”, conta ao ECO fonte oficial da autarquia.

Mas há ainda um outro motivo para o atraso das obras: falta de verbas. Ao ECO, a Visabeira confirma já ter recebido a autorização para levantar a licença mas, agora, a empresa está “à espera da abertura de candidaturas” para apoios a fundo perdido do Portugal 2030. Isto porque, escreveu o Público, os 15 milhões investidos seriam financiados em 3,5 milhões com capitais próprios, 7,2 milhões por empréstimo bancário a que se somam quatro milhões de incentivos do então Portugal 2030.

Enquanto os Pavilhões do Parque D. Carlos I aguardam o arranque das obras, em setembro do ano passado, poucos dias depois da aprovação da licença para as obras, deflagrou um incêndio numa das alas do edifício junto à antiga Casa da Cultura, tendo destruído o telhado e o sótão. As causas do incêndio estão a ser investigadas e, de acordo com o Jornal das Caldas, a Visabeira acionou o seguro para cobrir as despesas.

Hotel com espírito e ADN Bordalliano

Depois das várias alterações ao projeto, o Montebelo Bordalo Caldas da Rainha Hotel – que tem a assinatura dos arquitetos do grupo Visabeira Paula Fonseca Nunes e Tiago Araújo – vai contar com 124 quartos, restaurante, salas para eventos e multiusos, um spa com um circuito de águas termais, duas piscinas, entre outas instalações e serviços, onde cabe uma área para eventos de cultura, sobretudo ligados à cerâmica, com exposições e atelier.

A ideia é, diz ao ECO a autarquia liderada por Vítor Marques, que “todo o design de interiores e decoração do Hotel reflita o espírito e ADN Bordalliano”, em homenagem ao artista caldense do século XIX.

Até porque, desde 2009, a Fábrica de Faianças Bordalo Pinheiro está nas mãos da Visabeira, tendo sido comprada quando enfrentava risco de insolvência. Um negócio que mereceu a atenção do Governo de então, liderado na altura por José Sócrates que, tal como o seu ministro da Economia, Manuel Pinho, marcaram presença na cerimónia de aquisição da fábrica nas Caldas da Rainha.

Os Pavilhões do Parque foram construídos nos finais do século XIX (1896) por Rodrigo Berquó, engenheiro e arquiteto de raízes açorianas, para serem o novo hospital termal D. Carlos I. O projeto previa a construção de sete pavilhões, destinados a enfermarias, uma galeria com 55 metros de comprimento e instalações sanitárias. Mas Berquó morreu antes da conclusão do projeto e os pavilhões nunca chegaram a cumprir essa função, tendo servido, durante mais de 100 anos, para albergar um quartel militar, uma esquadra da polícia e várias escolas, uma do magistério primário, uma secundária e uma profissional. Desde 2005 que os edifícios estão devolutos.

Até 2015 a propriedade dos edifícios era do Ministério da Saúde – que chegou a ter planos para vender os imóveis – tendo passado, nesse ano, para as mãos da Câmara das Caldas da Rainha.

O contrato de concessão com a Visabeira tem um prazo de 48 anos e prevê o pagamento de uma renda mensal de 3.500 euros, a que se soma 23% de IVA, que só começa a ser paga cinco anos depois da abertura da unidade hoteleira.

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