Ganhos de “arregalar os olhos” pertencem ao passado, avisa Buffett em carta aos acionistas

O conhecido investidor afirma na carta aos acionistas da Berkshire Hathaway que "os mercados apresentam agora um comportamento muito mais semelhante ao dos casinos".

Os resultados de “arregalar os olhos” da Berkshire Hathaway dificilmente se vão repetir, avisa o CEO, Warrent Buffett na carta anual aos acionistas do conglomerado. Na missiva, deixa também, como habitual, conselhos aos investidores. E alerta que “os mercados apresentam agora um comportamento muito mais semelhante ao dos casinos”.

“Resta apenas um punhado de empresas neste país capazes de realmente fazer a diferença na Berkshire, e elas têm sido incessantemente escolhidas por nós e por outros. Algumas podemos ainda valorizar, outras não. Se pudermos, terão de ter preços atrativos. Fora dos EUA, não existem candidatos que sejam opções significativas para aplicar capital da Berkshire. Em suma, não temos possibilidade de um desempenho de arregalar os olhos“, escreve Warren Buffet na carta publicada este sábado.

O montante em liquidez do conglomerado atingiu um valor recorde de 167,6 mil milhões de euros no final do ano passado, perante a escassez de oportunidades para aquisições de relevo.

Buffett salientou que a Berkshire Hathaway tem, “de longe”, o maior património líquido de qualquer empresa nos EUA, de 561 mil milhões de dólares. As restantes 499 empresas do índice S&P500 era de 8,9 biliões em 2022. “Por esta medida, a Berkshire ocupa agora perto de 6% do universo em que opera. Duplicar a nossa enorme base simplesmente não é possível no espaço de, digamos, cinco anos, sobretudo porque somos muito avessos a emitir ações”, explica o bilionário.

A Berkshire deverá ter um desempenho um pouco melhor do que a média das empresas americanas e, mais importante, deverá também operar com um risco materialmente menor de perda permanente de capital. Qualquer coisa além de ‘um pouco melhor’, porém, é uma ilusão.

Warren Buffett

CEO da Berkshire Hathaway

A Berkshire deverá ter um desempenho um pouco melhor do que a média das empresas americanas e, mais importante, deverá também operar com um risco materialmente menor de perda permanente de capital. Qualquer coisa além de ‘um pouco melhor’, porém, é uma ilusão. Esta aspiração modesta não era o caso quando Bertie [a irmã] apostou tudo na Berkshire – mas é agora”, aponta na Buffett.

Na carta, o CEO da Berkshire fala várias vezes da irmã, que aos 46 anos decidiu colocar todas as suas poupanças em alguns fundos de investimento e em ações da Bershire, não voltando a mexer nelas ao longo de 43 anos. “Nesse período, ela ficou muito rica, mesmo depois de realizar grandes ações filantrópicas (pense em nove dígitos)”.

A Berkshire Hathaway fechou o exercício de 2023 com lucros de 96 mil milhões, mais 6,7% do que no ano anterior. Os lucros operacionais, o indicador preferido de “Oráculo de Omaha”, como também é conhecido, aumentaram 12,3% para 37,4 mil milhões. As acções da holding valorizaram 15,8% em 2023, contra 24% do índice S&P500. Só nesse ano gastou 9,2 milhões milhões na recompra de ações, para puxar pelo seu valor.

O bilionário, com uma fortuna avaliada pela Forbes em 137,4 mil milhões de dólares, conta que desde 11 de março de 1942, quando comprou as primeiras ações, sempre teve a maoria do património investido em ações. Na altura, o Dow Jones andava em redor dos 100 pontos, agora anda pelos 38.000. “A América tem sido um país fantástico para os investidores. Tudo o que precisam de fazer é sentarem-se sossegados e não ouvirem ninguém”, escreve.

Apostas na Coca-Cola, American Express ou Apple são para manter

Se há alguém que os investidores ouvem e seguem com atenção é Warren Buffet, que como habitual fala na carta de alguns dos principais investimentos da holding, em particular aqueles que estão na carteira numa perspetiva de longo prazo. São os casos da Coca-Cola, American Express, Apple ou a Occidental Petroleum. O CEO da Berkshire Hathaway salientou também a aposta em cinco ações da bolsa japonesa — Itochu, Marubeni, Mitsubishi, Mitsui e Sumitomo –, que esta semana bateu um novo recorde ao fim de 34 anos.

Buffett salientou ainda a robustez financeira do conglomerado, que “tem dinheiro em caixa e uma posição em bilhetes do Tesouro americano que excedem em muito o que a sabedoria convencional consideraria necessário”.

“A velocidade da comunicação e as maravilhas da tecnologia facilitam a paralisia mundial instantânea, e percorremos um longo caminho desde os sinais de fumo. Esses pânicos repentinos [dos mercados] não acontecerão com frequência – mas acontecerão”, alerta.

Seja quais forem as razões, os mercados apresentam agora um comportamento muito mais semelhante ao dos casinos do que quando eu era jovem.

Warren Buffett

CEO da Berkshire Hathaway

Embora o mercado de ações seja enormemente maior do que era nos nossos primeiros anos, os participantes ativos de hoje não são nem mais estáveis emocionalmente nem mais bem conhecedores do que quando eu estava na escola. Seja quais forem as razões, os mercados apresentam agora um comportamento muito mais semelhante ao dos casinos do que quando eu era jovem. O casino agora reside em muitas casas e diariamente tenta os seus ocupantes.

“Uma regra de investimento na Berkshire não mudou e não vai mudar: nunca arriscar uma perda total de capital”, garante. E acredita que “a Berkshire consegue ultrapassar um desastre financeiro de uma magnitude maior do que até aqui foi experienciada”.

No arranque da missiva aos investidores, Warren Buffett homenageia Charlie Munger, que foi vice-presidente da Berkshire e faleceu em novembro com 99 anos, considerando-o o “arquiteto” da Berkshire Hathaway. Lembra também o seu preciso conselho: “compra negócios magníficos a preços justos e desiste de comprar negócios normais a preços magníficos”.

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