“Quando Governo não é correto na sua conduta, belisca a imagem de Portugal”, diz Manuel Tarré

"O que aconteceu nos últimos meses deu uma visibilidade pouca digna de Portugal no estrangeiro", lamenta líder da Gelpeixe. "Algumas empresas não vão conseguir suportar" salário mínimo de 1.000 euros.

Quando o Governo não é correto na sua conduta belisca a imagem de Portugal“, diz o presidente da Gelpeixe. Em entrevista ao ECO, Manuel Tarré defende que os governos devem cumprir o que prometeram em campanha eleitoral, ser penalizados quando não o fazem, e acredita que muitas empresas não vão conseguir sobreviver se o salário mínimo aumentar para mil euros.

Tudo aquilo que aconteceu nestes últimos meses deu uma visibilidade de Portugal no estrangeiro pouco digna”, defende o empresário. “Tive situações desagradáveis de comentários de clientes meus, para onde exporto, a dizer que em Portugal aconteceu o que aconteceu no gabinete ao lado do primeiro-ministro”, conta Manuel Tarré numa alusão aos 75 mil euros em numerário que foram apreendidos no gabinete de Vítor Escária, o chefe de gabinete do primeiro-ministro, no âmbito da Operação Influencer que levou à demissão de António Costa.

“São imagens que ficam quando se tenta levar Portugal para uma imagem na exportação digna e de primeiro mundo, em pé de igualdade com todas as grandes empresas europeias ou mundiais. Temos unidades em Portugal capazes de o fazer E depois acontece no Governo aquilo que aconteceu. É, realmente, um desespero grande, uma nódoa negra muito grande na imagem que Portugal tem nas exportações”, desabafa o empresário, que se orgulha de trabalhar num dos “setores que tem mais crescido na exportação”, “o único que importa matéria-prima, transforma-a e exporta, como made in Portugal com valor acrescentado”.

Quando vimos todos a fazer um esforço e depois o Governo não é correto na sua forma de conduta, levanta muitas dúvidas em relação a algumas posturas, de seriedade, isso belisca a imagem de Portugal“, defende.

A sucessão de “casos e casinhos” faria prever que a Aliança Democrática (AD) tivesse conquistado uma distância mais confortável face ao PS, admite Manuel Tarré, mas o empresário desvaloriza as sondagens recordando que nas últimas eleições “não se perspetivava que o PS tivesse maioria e teve”. Uma maioria que entende ter sido uma oportunidade desperdiçada para fazer uma reforma do Estado.

Manuel Tarré considera que as empresas estão em stand by, à espera da definição política para tomar as decisões de investimento. “Claro, sem dúvida nenhuma”, diz –, mas sublinha que o mais relevante são as empresas estrangeiras que planeavam investir em Portugal.

O ano passado decidimos fazer um investimento na fábrica e já estava em curso. Mas outros investimentos que tínhamos em mente fazer ficam em stand by para ver o que é que vai acontecer”, admite, desdramatizando o facto de as empresas nacionais fazerem esta opção, porque “os investimentos podem ficar em stand by um pouco”.

As empresas que precisamos que venham fazer grandes investimentos em Portugal, são as empresas internacionais. Mas, ao olharem para todo o quadro que se tem passado ultimamente, provavelmente põe on hold os seus investimentos. Isso é que é realmente preocupante“, alerta o responsável da Gelpeixe, uma empresa familiar que já vai na terceira geração.

Igualmente preocupante é a perspetiva de aumento do salário mínimo para os 1.000 euros, como sugerem PS e PSD. “Algumas empresas não vão conseguir suportar”, afirma de modo perentório. “Já não suportam hoje e não vão suportar. Não se pode alinhar o salário mínimo só porque se quer fazê-lo. Toda a contingência global tem de ser avaliada”, defende, e a “rentabilidade da mão-de-obra tem também de ser revista”.

Muitas vezes não libertamos margens suficientes nos negócios para poder satisfazer esses requisitos que são ambiciosos, mas, por outro lado, também são dignos. Contudo, a produtividade das empresas não os pode comportar”, lamenta.

“Só espero que, seja qual for a cor política que venha a governar Portugal, haja um respeito pelos princípios de seriedade e tentar reduzir os custos públicos ao máximo para conseguirmos dar melhor qualidade de vida aos pessoas e serem bons exemplos como gestores”, defende Manuel Tarré.

Para o empresário, a primeira medida que gostaria de ver implementada pelo próximo Executivo era “cumprir a palavra que dada na campanha eleitoral, uma opção que coloca à frente de uma bandeira que o move há anos: que o IVA dos produtos alimentares baixe para a taxa mínima para que quem compra um bife do lombo não pague IVA a 6% e quem compra uma lata de salsichas pague IVA a 23%. Uma disparidade que acaba por penalizar quem mais precisa, recorda.

Manuel Tarré, presidente do conselho de administração da Gelpeixe, em entrevista ao ECO - 04MAR24
“Tenho de ser muito honesto. Oiço muitas campanhas e não me identifico com aquelas verdades. Agora que vai haver eleições, estamos perante uma situação delicada: em quem acreditar ou quem é que mente menos? Não deveria ser assim”, diz Manuel Tarré, presidente do conselho de administração da Gelpeixe, em entrevista ao ECO.Hugo Amaral/ECO

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