Mais homens, com média de 48 anos e ‘repetentes’. O retrato da nova AR

Com uma média de idades de 48,6 anos, dois terços são homens e só 40% são "estreantes". Conheça o retrato dos futuros protagonistas com assento na casa da democracia.

Advogados, engenheiros, professores, músicos ou até youtubers. Com os resultados dos círculos da emigração apurados, está completa a lista dos 230 deputados eleitos para a Assembleia da República. Ainda assim, a lista pode mudar, uma vez que pode haver deputados que sejam designados para integrar o Governo ou até que optem por não integrar a composição do Parlamento.

Com uma média de idades de 48,6 anos, apenas nove têm menos de 30 anos e 12 com idade igual ou superior a 65 anos, segundo os cálculos do ECO. Dois terços são homens e quase 40% são “estreantes”.

De acordo com os resultados divulgados, nestas eleições a Aliança Democrática (AD) elegeu 80 deputados, considerando já os três parlamentares eleitos pelo círculo da Madeira e onde apenas foram coligados PSD e CDS-PP. Já o PS conquistou 78 assentos parlamentares, enquanto o Chega alcançou os 50.

Na quarta posição, a Iniciativa Liberal (IL) manteve os oito deputados que tinha na anterior legislatura. Também o Bloco de Esquerda (BE) manteve a sua bancada com cinco elementos, enquanto a CDU (Coligação Democrática Unitária, que junta PCP e PEV) viu a bancada encolher para quatro deputados. Já o Livre assegurou, pela primeira vez, um grupo parlamentar, ao eleger quatro deputados. Por sua vez, o PAN “segurou” a porta-voz do partido como a única parlamentar eleita. Mas, afinal, como estão distribuídos estes lugares?

Apesar da alteração à lei da paridade, em 2019, e que subiu de 33% para 40% o limiar mínimo da paridade aplicável às listas de candidaturas apresentadas à AR, ao Parlamento Europeu e aos órgãos eletivos das autarquias locais, bem como a vogal das juntas de freguesia, este objetivo ainda está longe de ser alcançado e deu “passos a trás” nestas eleições. Dos 230 parlamentares eleitos, 154 são homens (66,96% do total) e 76 são mulheres (33,04%). A fasquia fica aquém do registado nas eleições legislativas de 2022 (37% eram mulheres) e de 2019 (39% eram mulheres).

Os 80 deputados da AD incluem os três eleitos pelo círculo da Madeira e onde apenas foram coligados PSD e CDS-PP.

 

De acordo com a análise feita pelo ECO, em termos absolutos, é na bancada socialista que as mulheres estão em maior número (são 30 dos 78 deputados eleitos, isto é, quase 39%), seguido pela AD com 24 deputadas (30% do total). Segue-se o Chega, que dos 50 assentos parlamentares, 13 são mulheres (26%).

No entanto, em termos percentuais, e excluindo o PAN (que só elegeu Inês Sousa Real), o BE é o partido com maior representação feminina: dos cinco deputados eleitos, três são do sexo feminino (60% do total).

Apenas 9 são sub-30

Numa altura em que Portugal tem uma população cada vez mais envelhecida, a composição da AR não foge à regra. Os deputados têm, em média, 48,6 anos. E dos 230 parlamentares eleitos, apenas nove têm menos de 30 anos: três da AD, três do Chega, dois da IL e um do PS; enquanto 12 têm 65 ou mais anos, dos quais cinco do Chega, quatro da AD e três do PS.

É na faixa etária dos 50 aos 64 anos que estão agregados o maior número de deputados, no total são 94. Logo a seguir, com 87, fica a faixa etária dos 40 aos 49 anos. Com um menor número de deputados está a de 18 a 29 anos (nove deputados) e dos 65 ou mais (12 deputados)

A mais jovem é Madalena Simões Cordeiro. Natural de Vila Viçosa, a estudante de Direito na Universidade Católica tem 20 anos e foi eleita pelo Chega pelo círculo de Lisboa. Entre os mais jovens, está também Eva Brás Pinho, com 24 anos, que foi eleita pelo círculo de Lisboa da AD. A estagiária na sociedade de advogados Morais Leitão foi líder da Juventude Social Democrata de Cascais, onde é deputada municipal desde 2021.

Por seu turno, o mais velho é Manuel Alves, ex-militante do PSD e que encabeçou a lista do Chega pelo círculo fora da Europa. Natural de Oura, em Chaves, o deputado de 76 anos é advogado e estava radicado no Brasil, segundo a revista Sábado. Segue-se Diogo Pacheco de Amorim, antigo dirigente político do MDLP, movimento armado de extrema-direita, e ideólogo do Chega, com 75 anos. Neto de um monárquico íntimo de Salazar e sobrinho do fundador dos extremistas do Partido do Progresso no pós-25 abril, foi assessor do antigo presidente do CDS-PP e vice-primeiro-ministro, Diogo Freitas do Amaral. Na última legislatura substituiu André Ventura no Parlamento.

Entre os mais velhos está ainda Edite Estrela, com 74 anos. Foi eleita pelo círculo eleitoral de Lisboa do PS e não é novata na Assembleia da República, tendo estado presente em seis outras legislaturas. Na última legislatura foi vice-presidente da AR. A deputada já foi presidente da Câmara Municipal de Sintra, entre 1993 e 2001, e a vice-presidência da Área Metropolitana de Lisboa entre 1995 e 2002. Entre 2004 e 2014 foi deputada do Parlamento Europeu.

Das novas caras aos repetentes na AR

E quantos deputados se vão estrear no Parlamento português? No total são 90, o que equivale a cerca de 39% do total, face aos 140 (60,9%) que já desempenharam funções quer como deputados ou como assessores.

Entre os estreantes há vários presidentes de Juntas de Freguesias e Câmaras Municipais que renunciaram para ocuparem o lugar no Parlamento. Luís Carlos Piteira Dias (PS) renunciou a presidência da Câmara de Vendas Novas, Salvador Malheiro Ferreira da Silva (AD) a da Câmara de Ovar, Nuno Jorge Rodrigues Gonçalves (AD) a da Câmara de Moncorvo, Emídio Sousa (AD) renunciou a presidência de Santa Maria da Feira e Walter Chicharro (PS) a da Nazaré.

A ex-ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho também se vai estrear no Parlamento, após ter estado nos três Governos liderados por António Costa: de 2015 a 2019 foi secretária de Estado do Turismo e em outubro desse ano foi “promovida” a ministra. Fez também parte do gabinete do Secretário de Estado do Turismo do XVII Governo, liderado por José Sócrates.

Mas há mais ex-secretários de Estado nos bancos dos estreantes. Por exemplo, Ricardo António Beato de Carvalho foi secretário de Estado da Administração Local entre 2011 e 2013, Paulo Núncio secretário de Estado dos Assuntos Fiscais dos XIX e XX Governos Constitucionais (liderados por Pedro Passos Coelho) e Miguel Pinto Luz foi secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações no XX Governo.

Já Ana Sofia Antunes, que agora ocupa um lugar no Parlamento, foi secretária de Estado da Inclusão nos três Executivo de Costa. Por sua vez, Isabel Ferreira foi secretária de Estado do Desenvolvimento Regional de Portugal e secretária de Estado da Valorização do Interior de Portugal no segundo e terceiro, respetivamente, Governos de António Costa.

Destaque ainda, entre os estreantes, para João Valle e Azevedo que é coordenador do Banco de Portugal, pertencendo ao departamento de Estudos Económicos e membro do Comité de Política Monetária do Eurosistema.

Eleita pela AD, Ana Paula Martins já foi adjunta do ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, em 1992 e 1993, e adjunta do ministro da Educação, em 1993 e 1994. A A antiga bastonária da Ordem dos Farmacêuticos foi também presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), mas renunciou ao cargo e está a ser apontada com uma possibilidade para tutelar a área da Saúde no Governo que sai destas eleições.

No que conjunto dos 140 deputados (cerca de 61% do total) que já exerceram funções na Assembleia da República encontram-se, pelo menos, cinco que já foram assessores de grupos parlamentares e que são agora “promovidos”. É o caso de Luís Newton — que foi nomeado assessor do grupo parlamentar do PSD em 2013 e foi nessa altura notícia por o despacho inicial publicado em Diário da República ter referido, erradamente, que era licenciado — de Mariana Leitão, que era desde 2023 chefe do gabinete do Grupo Parlamentar da IL, ou de Patrícia Carvalho, do Chega.

15 membros do último Governo de Costa transitam para a AR

Tal como referido, uma das curiosidades é o facto de entre os parlamentares agora eleitores haver, pelo menos, 15 membros do último Governo liderado por António Costa. Destes, nove foram ministros. É o caso de Mariana Vieira da Silva, Manuel Pizarro, José Luís Carneiro, Ana Catarina Mendes, Ana Mendes Godinho, Fernando Medina, Ana Abrunhosa, Mariana Gonçalves e Pedro Nuno Santos.

Já no que toca a secretários de Estado, o número encolhe para seis: além das duas referidas acima (Ana Sofia Antunes e Isabel Ferreira) constam ainda Nuno Fazenda, Paulo Cafôfo, António Mendonça Mendes, Eduardo Pinheiro.

Outra das curiosidades nesta nova composição está na bancada do Chega, que inclui agora alguns “dissidentes” do PSD. É, por exemplo, o caso de Eduardo Teixeira, eleito pelo círculo de Viana do Castelo, que regressa ao Parlamento, dois anos mais tarde, mas desta vez como membro da equipa de André Ventura, sendo que foi também responsável pelo programa macroeconómico do partido.

Também Francisco Gomes, eleito pelo círculo da Madeira, foi deputado pelo PSD na XII legislatura, enquanto Henrique Rocha de Freitas foi parlamentar pelos social-democratas na VIII e X legislatura. Entre os diversos cargos que já ocupou na vida política, o agora deputado do Chega chegou a ser secretário-geral adjunto do PSD, bem como secretário de Estado da Defesa e Antigos Combatentes no Governo de Durão Barroso e secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação no Governo de Santana Lopes.

De notar que esta não será a composição definitiva da Assembleia da República, dado que alguns destes deputados serão chamados para integrar o Governo, pelo que terão de substituídos por outros, o que pode alterar o “retrato” feito por este artigo.

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