BRANDS' ECO Matriz humana não é matriz do facilitismo. É matriz do crescimento das pessoas

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  • 21 Março 2024

José Crespo de Carvalho, Presidente do ISCTE Executive Education, partilha a sua visão de presente e futuro para a instituição.

Pelo terceiro ano consecutivo, o QS World University Rankings classificou o Iscte Executive Education (escola de formação de executivos do Iscte) como Top Performer em quatro áreas de avaliação. A avaliação foi feita em termos de perfil executivo, resultados de carreira, promoção de carreira, experiência dos participantes (network de executivos) e nível de excelência dos participantes. José Crespo de Carvalho, Presidente do Iscte Executive Education, partilha a sua visão de presente e futuro para a instituição.

José Crespo de Carvalho, presidente e CEO do ISCTE Executive Education
José Crespo de Carvalho, Presidente do ISCTE Executive Education

Porque insistem tanto na internacionalização do ISCTE Executive Education?

A insistência na internacionalização reflete a convicção de que, num mundo globalizado, a exposição a diferentes culturas, mercados e práticas de negócio enriquece a aprendizagem dos executivos e também o corpo docente, preparando ambos para liderar em contextos internacionais. Esta abordagem não só expande a visão de negócios dos participantes, mas também os da equipa com as competências necessárias para navegar na complexidade dos mercados globais.

E há aspetos muito práticos nesta abordagem. Primeiro porque faz parte da nossa estratégia e é o pilar número 1 da mesma. Segundo porque o mercado nacional é um red ocean puro e duro. E, terceiro, porque o mercado internacional, face à abertura da economia portuguesa e também ao envelhecimento da população (vide pirâmides etárias de Portugal) é apenas uma consequência racional da análise. Agora, a internacionalização demora muito tempo. E quem não a prepara agora não a terá daqui a 5 ou 10 anos.

Mas sendo a internacionalização importante é tão crítica como o mercado nacional?

Embora a internacionalização seja crucial para esta cross-fertilization organizacional e cultural em que apostamos, nunca dissemos que o mercado nacional não é fundamental. A estratégia de formação do ISCTE Executive Education é desenhada para equilibrar a importância de ambos os mercados, reconhecendo que os insights locais são igualmente vitais para o sucesso empresarial, especialmente para empresas que operam ou pretendem operar em Portugal e de Portugal para o mundo ou do mundo para Portugal.

Porquê a insistência em polarizar muitos dos conteúdos em Inteligência Artificial? Não acham que estão a facilitar a vida aos participantes e a deixar camadas de aprendizagem por fazer?

A ênfase em Inteligência Artificial (IA) visa preparar os participantes para o futuro dos negócios, onde a IA terá um papel incontornável. Não se trata de facilitar o caminho para os participantes, mas sim de assegurar que eles estejam aptos a liderar em ambientes inovadores e tecnologicamente avançados. Ao mesmo tempo, a formação é cuidadosamente balanceada para incluir aspetos fundamentais da gestão, garantindo uma base sólida em todas as áreas de aprendizagem.

Depois há a questão dos capazes e rápidos e dos incautos e lentos. Nós queremos estar nos primeiros e ser early adopters. Como já referiu Elon Musk numa das suas muitas tiradas, “a Inteligência Artificial não tem de ser má para destruir a humanidade; se a IA tiver um objetivo e a humanidade lhe aparecer à frente, a IA destruirá a humanidade de forma natural e sem hard feelings”. Até porque não tem sentimentos. Por isso é preciso preparar todos para, por um lado, deixarem de ser presas fáceis e, por outro, porque todos vão precisar da IA para melhorar substantivamente a eficiência dos seus trabalhos e terem mais e mais impacto na rendibilidade dos negócios. Bem como conseguirem impacto para o PIB dos países onde se enquadram. Não vendo pelo lado negativo, só nos podemos ligar a ela e apreendê-la como componente crítica das nossas vidas.

«O ISCTE Executive Education valoriza a diversidade e a ambição nos seus participantes. Os perfis mais apetecíveis são aqueles que demonstram não só competências técnicas boas mas, também, qualidades como liderança, criatividade, adaptabilidade e uma forte ética no trabalho»

Não se sente demasiado central como Presidente do ISCTE Executive Education? Às vezes parece querer levar a instituição às costas. É mesmo assim ou é um questão de posicionamento?

A liderança no ISCTE Executive Education é, quero acreditar, vista como uma liderança servidora, onde o objetivo é elevar e impulsionar a instituição para o sucesso coletivo. E a trabalhar para o exterior. Descentralizar, dar liberdade criativa, responsabilizar, fazer crescer pessoas. Centrado numa pessoa que é a primeira a descentralizar, a abrir a porta do gabinete, a responsabilizar-se, a trabalhar em grupo, a procurar a criatividade, a querer que as pessoas cresçam. Se isso é andar com a instituição às costas então desconheço por completo o conceito de liderança.

É certo que o posicionamento ativo e visível de uma pessoa pode, às vezes, parecer centralizador, mas a intenção é exatamente a contrária para, antes, inspirar pelo exemplo, promovendo uma cultura de excelência e de comprometimento transversais.

Em que tipo de pessoas o ISCTE Executive Education aposta mais? Em traços gerais quais os perfis mais apetecíveis?

O ISCTE Executive Education valoriza a diversidade e a ambição nos seus participantes. Os perfis mais apetecíveis são aqueles que demonstram não só competências técnicas boas mas, também, qualidades como liderança, criatividade, adaptabilidade e uma forte ética no trabalho. Agora, como já disse e repito, não andamos à procura das últimas bolachas do pacote. Procuramos as mais vulneráveis, as mais humanas e as mais genuínas. As pessoas que não tenham medo de crescer connosco e que saibam que aqui vão crescer. A instituição aposta, portanto, em pessoas que buscam não só avançar nas suas carreiras, mas também contribuir positivamente para a sociedade e, muito, muito mesmo, para o enobrecimento do seu lado humano e de construção de uma network para a vida. Talvez por isso sejamos grandes promotores da colaboração, onde nos revemos, e muito menos na competitividade entre participantes.

Qual a necessidade dos rankings internacionais para a operação da formação de executivos? Tem impacto? Não tem impacto?

Os rankings internacionais são importantes pois servem como um indicador de qualidade e reconhecimento no mercado global de educação executiva. Estar no ranking do Financial Times World em formação de executivos é fundamental. Estar no Top é crítico. Ter um Executive MBA nos 100 primeiros do mundo é crítico. Ter um EMBA – Executive MBA – nos 50 melhores da Europa em termos de QS é vital. Sabe quantos MBA acreditados pela AMBA – Association of MBAs existem na Europa? Mais de 300. Estar nos 50 melhores parece-me que é estar num quartil interessante. Mais, ser uma operação muito internacional, inclusiva, cosmopolita, com importantes contributos para a redução da pegada de carbono é igualmente importante e é importante que tal seja reconhecido pelos rankings e pela sociedade civil como um todo.

E muito embora os rankings não sejam o único fator a considerar, ajudam a aumentar a visibilidade da instituição, a atrair talento de qualidade e a fortalecer a sua reputação internacionalmente, o que, por sua vez, tem um impacto positivo na operação e no desenvolvimento dos programas de formação de executivos.

Refere muitas vezes que pretende um ensino de gestão com uma componente humana. De que componente humana está exatamente a falar? E o que significa ensinar gestão ou como colocar o coração do lado certo, uma expressão que tem vindo a empregar?

Para lhe dar um exemplo, a proximidade docente-aluno é um ativo humano que não encontrará por aí em cada esquina. E com isto são possíveis, por exemplo, teses nas áreas tecnológicas (mestrado em tecnologias digitais para o negócio ou mestrado em gestão aplicada) e de gestão de programas com vertentes mais profissionais que são verdadeiramente cutting edge na esfera das tecnologias, produtos já muito avançados em termos do uso de IA como de algumas tools de gestão muito sofisticadas. Estes resultados são possíveis porque há também uma preocupação efetiva com o desenvolvimento humano, próximo, das pessoas.

Portanto, ao falar de uma componente humana no ensino de gestão, refiro-me à importância de desenvolver líderes que valorizem o bem-estar das pessoas, a ética nos negócios, a responsabilidade social, a proximidade. E isso não significa facilitar. Ensinar gestão colocando o coração do lado certo significa preparar executivos para tomar decisões que não beneficiem apenas os resultados oportunistas mas que também considerem o impacto social e ambiental, entre outros, promovendo assim um futuro sustentável e ético para os negócios. Diria, se me permite, mais humano. Quando for mais humano tudo o resto virá por acréscimo.

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