“São necessárias PPP para estabilizar prémios e evitar extinção de seguros”

  • Francisca Pinto Goncalves
  • 25 Março 2024

Carlos Freire, CEO da AON Portugal, acredita que as seguradoras conseguem garantir cobertura de riscos voláteis através de Parceria Público-Privadas, onde cliente, Estado e seguradora assumem o risco.

O CEO da AON, Carlos Freire, critica o constante pagamento pelos Estados de 100% das perdas patrimónios provocadas por eventos climáticos, diz que desincentiva a prevenção pelos particulares e empresas, defendendo que a solução para garantir a cobertura destes riscos cada vez mais voláteis é o estabelecimento de parcerias público-privadas (PPP). Em entrevista ao ECOseguros, à margem do evento “Credit Solutions Conference 2024” organizado pela corretora em parceria com a seguradora CESCE Portugal e COSEC, assinala que “tudo o que é inovação a AON olha e analisa como pode proteger. Depois vai de mãos dadas com o mercado segurador” para oferecer as coberturas adequadas a empresas que utilizam inteligência artificial e criptomoedas, por exemplo.

Carlos Freire, CEO da Aon Portugal, acredita que as aquisições de seguradoras e corretoras no mercado português e europeu tornam o setor mais dinâmico, competitivo e desafiante. “Acho que no mercado concorrencial só temos a ganhar e os clientes também”, diz.

Os riscos que a AON analisa e disponibiliza coberturas ganharam “uma volatilidade completamente diferente” ao longo dos seus mais de 40 anos de história. Como é o caso dos fenómenos climáticos, refere o dirigente. “Talvez pudéssemos estimar há uns anos atrás, por exemplo, qual a época das chuvas, qual é a época do frio e qual é a época do calor. Com esta informação, nós podíamos perspetivar como podíamos aconselhar os nossos clientes a ter uma maior preocupação. Agora a volatilidade é imensa”, confessa Carlos Freire.

Seguros não servem para cobrir sinistros certos

As seguradoras por vezes saem de determinados mercados porque “os seguros servem para prever que determinadas coisas possam acontecer, mas que são incertas”,e nestas condições, em que o sinistro é certo, “eu não posso fazer seguro”, explica. Para responder eficazmente à transformação dos riscos que tornam os prémios mais caros, e, no limite, leva à extinção de coberturas, o CEO da AON acredita que são necessárias Parcerias Público-Privadas (PPP). Carlos Freire dá o exemplo do que acontece nos Estados Unidos da América, onde o “Estado dá uma garantia e a seguradora ou outras entidades que aportam capital ajudam um particular ou empresa a segurar o seu risco”.

Quanto à intervenção do Estado na cobertura de sinistros provocados por incêndios em Portugal, o CEO considera que a cobertura da totalidade dos danos patrimoniais desincentiva a prevenção, por gerar a crença nos particulares e empresas que “nunca vou ter que fazer nada porque sei que alguém está lá para me ajudar”. Ainda que reconheça que se “deva mitigar e ajudar as pessoas”, acredita que o “não responsabilizar” pela cobertura de danos patrimoniais é uma forma de estimular os mesmos comportamentos. Nesse sentido, as parcerias público-privadas, isto é, as seguradoras, o Estado e o cliente cobrirem parte do risco, “servem para ajudar as pessoas mas também lhes dar a perspetiva que elas têm que se prevenir”.

Aposta nos dados para otimizar as suas operações

Todas as interações da AON são baseadas em análises de dados. O primeiro passo antes de contactar o cliente é verificar os riscos daquela empresa “baseados em dados recolhidos de outras empresas semelhantes”. De seguida, verifica quais são as preocupações da empresa com base nos dados do setor, analisando os níveis de proteção que têm e onde “estão mais débeis”. Uma vez analisada esta informação, a AON verifica os dados da empresa para quantificar qual a “sua exposição ao risco”, ou seja, quais são as consequências operacionais e financeiras para a empresa, caso sofra algum sinistro. Tendo em conta este conhecimento, a empresa “analisa o seu balanço e capacidade financeira” para decidir qual é o “nível de cobertura que quer comprar no mercado”, e depois desta sinergia é que a corretora parte para o mercado segurador à procura da cobertura. “Portanto, o grande investimento da AON, todos os anos, é conseguir mais dados, cada vez obter mais informação, tanto do mercado segurador, como da economia, como dos clientes, para poder dar a informação e tomar melhores decisões.”

A mesma análise estende-se a empresas que utilizam inteligência artificial e criptomoedas, onde a empresa analisa os riscos que o uso dessas tecnologias pode provocar à própria empresa e a terceiros e de seguida fornece “produtos que mitigam o impacto financeiro que possam ter”. “Tudo o que é inovação a AON olha e analisa como pode proteger. Depois vai de mãos dadas com o mercado segurador” para oferecer as coberturas adequadas.

Aquisições tornam o mercado segurador “mais dinâmico”

Carlos Freire vê as aquisições de seguradoras e corretoras no mercado europeu e português como uma “atividade normal no setor”, por ser uma área de negócio atrativa e um mercado onde as empresas se podem desenvolver. O dirigente acredita que as fusões enriquecem o mercado por torná-lo “mais dinâmico (…) competitivo, que nos desafia, onde podemos trabalhar com os clientes e ser exigentes connosco”. “Acho que no mercado concorrencial só temos a ganhar e os clientes também” acrescenta.

Por enquanto, a AON não prepara nenhuma aquisição em Portugal sendo, no entanto, “uma área em que nós olhamos e se existir interesse, participaremos”, conclui Carlos Freire.

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