Exclusivo Candidatos à compra da Altice à espera do novo Governo

O processo de venda da Altice Portugal derrapou pelo menos mais um mês. Os dois candidatos à compra da operação em Portugal querem perceber se o novo Governo tem reservas ao negócio.

A crise política e as eleições de 10 de março acabaram por condicionar o processo de venda da Altice Portugal, que se arrasta há meses. Sob pressão dos credores para vender ativos e reduzir a dívida, a operação da Altice Portugal é das mais apetecíveis, o processo corre há meses, retomado depois da Operação Picoas, mas tem sofrido atrasos, e o último foi mesmo por causa das eleições, apurou o ECO junto de duas fontes conhecedoras da operação.

Oficialmente, ninguém faz comentários, mas há neste momento dois candidatos efetivos à compra da Altice Portugal: a Saudi Telecom e o grupo francês Iliad estão na corrida à aquisição do negócio que está debaixo da Altice International, holding que fechou 2023 com uma dívida líquida de quase 8,8 mil milhões de euros. São assim dois os candidatos que estão na corrida, apresentaram propostas não vinculativas e esperava-se que apresentassem propostas vinculativas até ao final de março, mas foi dado um novo prazo indicativo, para o final de abril. Por duas ordens de razões: por um lado, os candidatos estão a tentar proteger os riscos associados à Operação Picoas, e, por outro, querem perceber de que forma o novo Governo avalia a operação de venda da Altice, particularmente por causa da candidatura dos sauditas.

Em Portugal, há um instrumento legal que confere ao Governo poderes especiais para travar um negócio como este. É um decreto-lei aprovado em 2014, no Governo de Pedro Passos Coelho, e que define “o regime de salvaguarda de ativos estratégicos essenciais para garantir a segurança da defesa e segurança nacional e do aprovisionamento do país em serviços fundamentais para o interesse nacional, nas áreas da energia, dos transportes e comunicações“. No Governo de Luís Montenegro, o ministro das Infraestruturas é Miguel Pinto Luz.

Ora, dos dois candidatos, um poderá suscitar riscos geopolíticos na avaliação da Comissão Europeia, decisiva também na operação. A Saudi Telecom (STC), liderada por Olayan Mohammed Alwetaid, é uma empresa estatal da Arábia Saudita, quer ter influência no mercado europeu e até já pôs uma estratégia em marcha, tendo comprado, no ano passado, 4,9% das ações da Telefónica em Espanha, destronando o banco BBVA e tornando-se no maior acionista. Além disso, comprou outros 5% em instrumentos derivados, mas ainda aguarda aprovação para conseguir exercer os respetivos direitos de voto. Em Espanha, o processo motivou reações políticas violentas e o Governo já anunciou que o Estado vai voltar a ser acionista da Telefónica, o que foi lido como uma forma do Governo travar os ímpetos dos sauditas.

A Altice Portugal, recorde-se, detém importantes ativos, como o centro de dados da Covilhã, pontos de amarração de cabos submarinos.

O outro candidato é o grupo Iliad, que tem um peso relevante no panorama europeu das comunicações. A sede é em França, onde opera sob a marca Free, mas também está presente noutros mercados do continente, nomeadamente Itália e Polónia. Emprega cerca de 17.400 pessoas e presta serviços a 47,8 milhões de subscritores ativos.

Qual é o risco, neste momento? Se a Saudi Telecom for obrigada a desistir do negócio por imposição política, deixará de haver um concurso competitivo e concorrencial, com efeito direto no preço. A Altice nunca divulgou publicamente o valor a partir do qual estará disponível para vender a operação em Portugal, mas a imprensa internacional aponta para um Entreprise Value (capital e dívida) da ordem dos oito mil milhões de euros. E os credores da Altice também têm uma palavra a dizer no negócio.

De resto, ainda há poucos dias, o dono da Altice e os credores da Altice France entraram “em rota de colisão”. O braço de ferro instalou-se depois de a empresa de Patrick Drahi ter suscitado a hipótese de um perdão de dívida para permitir que a dona da operadora SFR em França atinja um rácio de alavancagem mais baixo do que o anteriormente proposto, explica o Financial Times.

A Altice France é um dos três grandes ramos do grupo internacional. Os outros dois são a Altice International (à qual responde a Altice Portugal) e a Altice USA, que é cotada em Wall Street. Mas tanto a Altice France como a Altice International já não negoceiam na bolsa.

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