Amorim volta a aumentar preço das rolhas em 2024 e faz “ultimato” ao negócio de revestimentos

Gigante da cortiça fala em "necessidade" de subir novamente os preços de venda, apesar do mercado ter "a expetativa de os ver a diminuir”. Produtos de revestimento têm de provar "aceitação".

A subida dos preços de compra de cortiça na última campanha vai obrigar a Corticeira Amorim a “aumentar novamente os preços de venda” das rolhas durante este ano, mesmo reconhecendo que “a implementação seja mais difícil do que nos anos anteriores”. “Decorrente dos aumentos de preços da campanha de 2023, a implementação do aumento de preços em 2024 é uma necessidade”, defende o grupo liderado por António Rios de Amorim no mais recente relatório anual consolidado, consultado pelo ECO.

Antecipando “um dos anos mais desafiantes” para o negócio, a produtora de Santa Maria da Feira sublinha que “o efeito do aumento do preço de consumo da cortiça em 2024 terá um impacto relevante nas contas”. E para contrariar também a “pressão significativa” para o crescimento dos gastos salariais e um contexto “menos favorável” nos preços da eletricidade, adianta que “será necessário implementar ajustamentos adicionais aos preços de venda, num mercado que tem a expectativa de ver os preços a diminuírem”.

Por outro lado, para assegurar a manutenção da rentabilidade na unidade de negócios das rolhas, que em 2023 foi responsável por 76% das receitas totais, o grupo nortenho diz que, além da “necessária redução do preço médio de compra” da cortiça, será “fundamental” manter a eficiência na aquisição de químicos, materiais de embalagem, madeiras e transportes, cujos preços estão ainda acima dos praticados antes da pandemia. “Com a estabilidade da economia, é expectável que seja possível beneficiar da redução de preços de todos estes materiais em 2024”, completa.

Ainda no que toca à Amorim Cork, nota que “as disrupções na cadeia de abastecimento estão ainda por resolver e poderão ter impacto também na evolução do negócio”, mas não espera constrangimentos na produção de rolhas, garantindo ter capacidade instalada para responder aos clientes e aprovisionada a matéria‑prima cortiça necessária. O arranque deste ano está a ser “lento”, em linha com a reta final de 2023, mas confia numa “recuperação durante o ano”. Espera crescer acima do mercado dos vinhos, fala em “mercados relevantes nos espirituosos ainda por explorar” e conta aproveitar “os condicionamentos aos vedantes de plástico”.

“Outra das linhas orientadoras para o ano centra‑se no controlo do capital investido a três níveis: após o reposicionamento dos stocks em 2023, uma gestão cuidadosa do nível de rolhas em todas as famílias de produtos (em Portugal e nas empresas do exterior), mantendo‑se um fluxo contínuo entre a produção e o cliente; gestão da dívida de clientes e foco na recuperação de imparidades; e maior contenção e consolidação dos investimentos efetuados nos anos anteriores, após o forte investimento realizado nos últimos anos”, lê-se no mesmo documento.

Revestimentos têm de provar “aceitação no mercado”

Apesar de ter visto os lucros caírem 9,7% para 88,9 milhões de euros e as vendas baixarem do patamar dos mil milhões de euros devido, sobretudo, à quebra da atividade na área dos revestimentos e pelo efeito cambial desfavorável, o presidente e CEO da Corticeira Amorim classifica o exercício de 2023 como “muitíssimo positivo”, salientando a melhoria de 7,8% do EBITDA consolidado, que atingiu 177 milhões de euros, com a expansão da margem para 18%.

Em declarações ao ECO, após a divulgação dos resultados no final de fevereiro, António Rios de Amorim salientou que para 2024, ano em que irá reforçar o fabrico em França e Itália, “o enquadramento ainda é de incerteza”, mas dizia estar “confiante num ano positivo, mas que exigirá muita resiliência” para ganhar quota e rentabilidade. Palavras que o gestor repete quase na íntegra na mensagem incluída agora no relatório anual consolidado, com uma nota final de confiança: “Os desafios são imensos, mas a nossa determinação é maior”.

António Rios de Amorim, CEO da Corticeira AmorimPaula Nunes / ECO

Num ano que deverá ficar marcado pelo “aligeiramento da política monetária e consolidação fiscal” e em que “o aumento dos riscos geopolíticos é uma forte possibilidade, estando as atenções centradas nas eleições presidenciais norte‑americanas”, a evolução cambial (euro/dólar) é “outra fonte de incerteza” que pode condicionar a performance. Ainda assim, traça o objetivo de voltar a ultrapassar em 2024 os mil milhões de euros de vendas consolidadas, “procurando alguma melhoria na rentabilidade”.

Depois de ter atingido em 2022 a fasquia dos mil milhões de euros, pela primeira vez na história de uma empresa que é familiar há 153 anos – a maioria do capital (70%) é detido pela família Amorim de forma direta ou indireta, e o restante por acionistas institucionais, na sua maior parte estrangeiros –, no último exercício as vendas da gigante industrial nortenha recuaram 3,5% em termos homólogos, para 985,5 milhões de euros. Baixaram desse patamar devido à quebra da atividade nos revestimentos (-30,1%) e nos compósitos de cortiça (-3,8%), e pelo efeito cambial desfavorável.

Neste relatório, o grupo alerta que o ano de 2024 será de “alteração profunda” para a Amorim Cork Flooring, conhecida pela produção de pavimentos e decorativos de parede de cortiça, que no ano passado registou um EBITDA negativo de 7,9 milhões de euros. Apesar do contexto desfavorável que afeta a indústria dos revestimentos, com a contração do setor da construção na Europa, terá de “retomar o caminho da rentabilidade que já teve anteriormente”. A administração deixa mesmo um aviso sério à navegação: “o ano de 2024 será determinante para o futuro da unidade de negócios. Ou o produto tem aceitação no mercado ou medidas mais aprofundadas em termos de estratégia de negócio vão ter de ser implementadas”.

Finalmente, na unidade florestal, a Corticeira Amorim, que é cotada desde 1988 e exporta para mais de uma centena de países, calcula que serão plantados este ano mais 250 mil sobreiros, depois dos 200 mil no ano passado. No âmbito do projeto de intervenção florestal, irá este ano continuar com as plantações de novas áreas na Herdade de Rio Frio por via de um “novo projeto de adensamento” de aproximadamente 400 hectares, e continuar a plantar novos sobreiros na Herdade da Baliza, numa área de 200 hectares, detalha a empresa.

A assembleia-geral de acionistas realizada na segunda-feira, que aprovou o pagamento do dividendo de 0,20 euros a 22 de maio, deu igualmente luz verde à proposta relativa à eleição do conselho de administração para o triénio 2024/2026. A principal novidade é a ascensão de Luísa Amorim a vice-presidente, por troca com Nuno Barroca. Este órgão passa a ter mais um elemento (são agora 11), com a saída de Marta Parreira Coelho Pinto Ribeiro – ao completar o terceiro mandato deixou, em termos legais, de ser considerada independente –, e a entrada dos administradores independentes João Castello Branco e Helena Cerveira Pinto.

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