Exclusivo Amorim exige “resiliência” para ganhar quota e rentabilidade em 2024. Corticeira reforça fabrico em França e Itália

Apesar do “enquadramento de incerteza” para 2024, Amorim confia que Corticeira tem “condições para crescer em vendas e rentabilidade”. Sem aquisições “em vista”, aumenta capacidade em Itália e França.

Apesar de ter visto os lucros caírem 9,7% para 88,9 milhões de euros e as vendas baixarem do patamar dos mil milhões de euros (-3,5%) devido, sobretudo, à quebra da atividade na área dos revestimentos e pelo efeito cambial desfavorável, o presidente e CEO da Corticeira Amorim classifica o exercício de 2023 como “muitíssimo positivo”, salientando a melhoria de 7,8% do EBITDA consolidado, que atingiu 177 milhões de euros, com a expansão da margem para os 18%.

Já perspetivando um ano de 2024 “influenciado pelo nível de consumo do mercado”, António Rios de Amorim admite ao ECO que “o enquadramento ainda é de incerteza”. “No entanto, estamos confiantes e pretendemos que seja mais um ano positivo, mas que exigirá muita resiliência da nossa parte. Apesar de estarmos perante um mercado que não cresce, temos condições para melhorar as vendas, através de uma oferta muito competente e tecnicamente desenvolvida para todas as soluções que temos no mercado”, sublinha.

Tendo em conta os investimentos realizados nos últimos dois anos em todas as unidades de negócio, nomeadamente em tecnologias aplicadas às várias áreas de intervenção, o líder da gigante industrial sediada em Mozelos (concelho de Santa Maria da Feira), a maior empresa mundial de produtos de cortiça, aspira a “continuar a disponibilizar produtos e soluções inovadores e a ganhar quota de mercado, reforçando os níveis de rentabilidade”.

“Atualmente, os riscos e oportunidades para o negócio da Corticeira Amorim residem na variação da procura e do consumo dos produtos dos nossos clientes, nomeadamente dos vinhos, espumantes e bebidas espirituosas. Juntamente com a desejável recuperação dos mercados de construção e renovação, especialmente na Europa, assim como a evolução dos emergentes negócios de novas aplicações de cortiça, como a indústria aeroespacial, energia ou mobilidade”, descreve.

Voltar a ultrapassar o patamar dos mil milhões de euros de vendas já em 2024? Ambicionamos continuar a crescer e julgo que temos condições de concretizar esse crescimento: em vendas e em rentabilidade.

António Rios de Amorim

Presidente e CEO da Corticeira Amorim

Atingir a fasquia de vendas de mil milhões de euros em 2022, pela primeira vez na história de uma empresa cuja origem remonta ao ano de 1870, foi “muito significativo”, um “motivo de orgulho para a equipa” e uma “motivação adicional”. Acredita que é possível voltar a atingir esse valor mítico já em 2024? “Ambicionamos continuar a crescer e julgo que temos condições de concretizar esse crescimento: em vendas e em rentabilidade”, responde o presidente e CEO da Corticeira Amorim.

Em declarações ao ECO, o histórico empresário nortenho, que há dois anos sucedeu a Isabel Furtado na liderança da COTEC Portugal, salienta, por outro lado, que “o vasto plano de investimento, a gestão rigorosa e os programas de melhoria contínua e de eficiência produtiva, implementados nos últimos anos, foram cruciais para os níveis atuais de rentabilidade operacional, mesmo neste contexto tão exigente e incerto”.

Sem “nada em vista” para comprar

A compra de uma participação de 55% na empresa suíça de produtos enológicos VMD por 12 milhões de euros, a par do acréscimo das necessidades de fundo de maneio (108 milhões), do aumento do investimento em ativo fixo (95 milhões) e do pagamento de dividendos (39 milhões) – aos 20 cêntimos por ação somou um extraordinário de nove cêntimos pago no último mês do ano passado –, fizeram a dívida remunerada líquida do grupo corticeiro aumentar no final de dezembro para 241 milhões de euros. Traduz um aumento de 112 milhões face há um ano, depois de já ter triplicado de 2021 para 2022. Segundo contabilizou em setembro a CFO, Cristina Amorim, mais de metade da dívida já é “financiamento verde e sustentável”.

A aquisição do grupo sediado em Pully e até agora detido pela família Druz foi anunciada em agosto, mas a contribuição para os resultados consolidados da Corticeira Amorim apenas se registou no último trimestre do ano. A parceria com esta produtora e comercializadora de rolhas, cápsulas, produtos enológicos, barricas e equipamentos para adegas, que opera através de três filiais, permitiu à multinacional portuguesa, que emprega cerca de 5.000 pessoas, “associar-se a um grupo de grande reputação e uma relação privilegiada com uma sólida base de clientes, permitindo reforçar a presença na Suíça”.

“É uma operação ainda bastante recente, mas acreditamos firmemente na parceria estabelecida com o líder de mercado suíço. (…) Este mercado é composto por numerosos players, geralmente de reduzida dimensão, que necessitam assim de um apoio e serviço mais localizado — competência essa que a nossa empresa possui. Por isso, as nossas expectativas para o futuro reforçam-se, dada a importância da VMD no cenário fragmentado deste mercado”, resume.

Em 2024, o principal foco será no aumento da capacidade de duas das nossas unidades, uma na Itália e outra na França, mercados relevantes para a Corticeira Amorim.

António Rios de Amorim

Presidente e CEO da Corticeira Amorim

Familiar há 153 anos – a maioria do capital (70%) é detido pela família Amorim de forma direta ou indireta, e o restante por acionistas institucionais, na sua maior parte estrangeiros – e cotada desde 1988, a Corticeira Amorim exporta para mais de uma centena de países. Nos últimos anos tem andado às compras dentro e fora de portas, com destaque para a aquisição de 50% da italiana Saci por 49 milhões de euros, no início de 2022; e da Herdade de Rio Frio, que teve um custo total aproximado de 50 milhões e completou na sequência de um acordo com o Novobanco.

“Estamos sempre disponíveis para analisar oportunidades, mas neste momento não temos nada em vista”, salienta António Rios de Amorim. Sobrinho do já falecido Américo Amorim, chegou em março de 2001 à presidência da maior fabricante mundial de produtos de cortiça, que diz ter 30 mil clientes e que detém atualmente 30 unidades industriais, das quais dez de matéria-prima, e 63 empresas de distribuição espalhadas pelo mundo.

Corticeira Amorim plantou cerca de 200 mil sobreiros em 2023 e prevê plantar mais 250 mil em 2024

Nos últimos dois anos, o grupo realizou investimentos no valor de 160 milhões de euros, com destaque para o aumento de capacidade de produção nos espirituosos e nas rolhas microaglomeradas através da tecnologia Xpür, e ainda para o acréscimo da oferta nos revestimentos com uma nova impressora digital.

O empresário adianta ao ECO que para 2024 “o principal foco será no aumento da capacidade de duas das unidades [do grupo], uma na Itália e outra na França, que são mercados relevantes” para a líder corticeira. Em causa está o reforço da atividade nas unidades de finalização e distribuição da Amorim France em Eysines (Nova Aquitânia) e da Amorim Cork Italia, sediada em Conegliano (região de Veneto).

A sustentabilidade tem sido outro vetor forte de investimento para o conglomerado de Santa Maria da Feira, que a cada nove anos perde 15% da produção de sobreiros. Concretizado através do esforço financeiro em investigação e desenvolvimento (I&D) e visível em ações como a plantação de sobreiros de quase 500 mil sobreiros entre 2023 e 2024. Também para este ano está prevista a conclusão dos projetos fotovoltaicos para produzir energia para autoconsumo, correspondente a cerca de 20% da eletricidade consumida pela Corticeira Amorim.

De acordo com um ranking internacional divulgado em fevereiro e elaborado pela Morningstar Sustainalytics, a Corticeira Amorim foi a cotada do PSI com melhor pontuação ao nível dos critérios ESG (sigla inglesa que resume os critérios ambientais, sociais e de governança). Com dados referentes a 2023, obteve um nível de risco baixo, registando 11,4 pontos nesta lista que serve para avaliar a exposição das organizações a este tipo de riscos.

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