BRANDS' CAPITAL VERDE “Portugal vive um momento que não pode desperdiçar”

  • BRAND'S CAPITAL VERDE
  • 6 Maio 2024

O plano 2024-2027 da Veolia pretende implementar soluções para despoluir, descarbonizar e regenerar os recursos. Em entrevista ao ECO, José Melo Bandeira, CEO da Veolia Portugal, explica o projeto.

O novo programa estratégico da Veolia – de 2024 a 2027 – pretende acelerar a implementação de soluções para despoluir, descarbonizar e regenerar os recursos, com foco no desenvolvimento de tecnologias da água e novas soluções, no tratamento de resíduos, nas bioenergias, na flexibilidade e na eficiência energética.

A nível global, este plano conta com um investimento de quatro mil milhões de euros, sendo cerca de 200 milhões investidos no plano estratégico de Portugal, ao longo de quatro anos. De forma a melhor perceber como é que este valor será investido e o que resultará deste programa, José Melo Bandeira, CEO da Veolia Portugal, explicou, em entrevista ao ECO, os principais objetivos e desafios deste plano.

“Estes planos são ciclicamente feitos, desenhando aquelas que são as nossas expectativas para os quatro anos seguintes. Portanto, este plano não é algo que surge agora, é algo em que temos vindo a trabalhar e que vem na sequência de todo um conjunto de planos”.

De acordo com José Melo Bandeira, há oportunidades que se podem e devem aproveitar neste período e que podem acelerar este processo de transição: “Nós acreditamos que Portugal vive um momento que não pode desperdiçar. Obviamente que as empresas têm de fazer o seu papel principal, mas também tem de ser criado o ambiente certo para este tipo de movimentos. Nós achamos que estamos a viver esse momento, até porque se reúnem, talvez pela primeira vez, três fatores que consideramos relevantes – o primeiro é que hoje já existe todo um enquadramento de legislação e regulação que incentiva este tipo de comportamentos. Por outro lado, há hoje, talvez como nunca, capacidade de investimento e financiamento disponível para este tipo de processos, que tanto significa construir novos ativos e infraestruturas, como recuperar e regenerar as existentes, e, desta forma, permitir a evolução neste sentido. Por outro lado, há uma pressão social muito relevante hoje em dia”.

Assim, e aproveitando estas oportunidades, o CEO da Veolia Portugal considera que será possível acelerar o processo de ajudar a indústria e as cidades na melhoria das suas capacidades e competências ao nível das alterações climáticas, quer seja do ponto de vista da adaptação, quer da mitigação. “E é daí que surge este programa, chamado Green Up, que, na realidade, chamamos de Green Up, Speed Up and Scale Up, ou seja, a ideia é sempre no sentido não só de tornar mais verde, mas de conseguir acelerar e aproveitar este momento que está a ser criado e fazer o Scale Up no sentido de podermos melhorar os processos produtivos e operacionais, bem como a qualificação das pessoas”, disse.

Nesse sentido, explicou ainda que este plano torna-se bastante relevante para Portugal pelo facto de permitir a sua reindustrialização: “Nós acreditamos que este é o tempo em que Portugal pode aproveitar para fazer aquilo que definimos de reindustrialização de Portugal.

Para isso, a aposta será em “tudo o que tenha a ver com água, energia e resíduos”. “Na água, vocacionada para a reutilização de águas ou reaproveitamento de novas fontes, como a dessalinização. Depois, tudo o que tem a ver com os resíduos, nesta perspetiva da despoluição, mas, no nosso caso, queremos conseguir a economia circular, ou seja, o reaproveitamento das matérias secundárias. E este, de facto, é um conceito que não é fácil de implementar, já que obriga a criação de um ecossistema que funcione nesta perspetiva. No limite, resíduos não recicláveis podem produzir energia e é aqui que nós também nos concentramos, na utilização de Combustíveis Derivados de Resíduos. E, na energia, tudo o que tem a ver com a eficiência energética, com a tentativa, sempre que possível, de utilizar energias renováveis, numa base de proximidade e descentralizada”, explicou.

Quatro mil milhões de euros de investimento no plano global

Ao todo, este plano estratégico da Veolia, a nível global, conta com um investimento de quatro mil milhões de euros, sendo dois mil milhões aplicados nas três alavancas de crescimento da empresa, nomeadamente as tecnologias e novas soluções da água; o tratamento de resíduos; as bioenergias, flexibilidade e eficiência energética.

“Porquê essas três alavancas? Na água, pelas tecnologias da água, que achamos que vão ter um impacto grande, não só pela reutilização da própria água, mas pelo aproveitamento dos nutrientes existentes nestas águas a reciclar, e também o tratamento de poluições difíceis. Quanto mais difícil for, maior é o desafio para nós, mas também mais nos permite diferenciar e tornar o nosso impacto ainda maior. Depois, no que à energia diz respeito, nós não somos produtores de energia, nós somos aqueles que podem encontrar as soluções de produção descentralizada, localizada, de utilização relativamente próxima, mas sobretudo de caráter descarbonizante e renovável. Com o aumento da produção de origem renovável, maior vai ser a exigência nas redes para a gestão desta oferta e procura. Nós achamos que o tema da flexibilidade das redes vai ser fundamental, portanto é uma das áreas em que estamos a investir, de momento com sistemas próprios de gestão. E, no que à eficiência energética diz respeito, sabemos que aquilo que mais pode contribuir para a redução das emissões é a não utilização da energia e isso faz-se com maior eficiência“, descreveu.

Esta atuação nestas três áreas tem merecido a atenção de cada vez mais pessoas e prova disso são os resultados da 2ª edição do barómetro global sobre a Transformação Ecológica, desenvolvido pela Veolia e pela Elabe, divulgados no passado dia 22 de abril: “Nós partilhamos um barómetro, a nível mundial, que mostra, hoje em dia, que mais de 90% das pessoas consideram-se expostas às consequências das alterações climáticas, nomeadamente no que à saúde diz respeito. Outro dado que eu acho relevante é que hoje quase 80% das pessoas estão disponíveis para consumir produtos que tenham sido de alguma maneira produzidos ou regados com águas reutilizadas e mais de 2/3 das pessoas (66%) estão disponíveis para beber água reciclada, o que é fantástico. Foi um aumento enorme desde os últimos dois anos, o que significa que há aqui uma preocupação maior, mas também uma disponibilidade para alterar os comportamentos. E é isto que eu acho que cria este momento para os próximos quatro anos, que podemos aproveitar ou pelo menos ajudar a transformar”.

Em termos locais, a Veolia Portugal também dá a sua contribuição para que os objetivos do plano sejam alcançados nas três alavancas da empresa: “Neste ano, entre o processo de aquisição e o investimento em ativos próprios, nós temos previstos 50 milhões de euros, que contamos repetir em todos os anos deste plano. Portanto esta é a nossa pequena contribuição ao nível do nosso país para aquilo que é o plano global. Parece pequeno, mas ao nível do país é relevante”.

Ainda dentro do programa, a Veolia comprou a participação do fundo de investimento português Explorer Investments na Micronipol, uma empresa de micronização e reciclagem: “Este é um dos passos que faz parte do nosso plano estratégico. Foi uma das aquisições que nós antecipamos como necessárias. Aliás, um dos temas principais é promover a redução da produção do plástico, até 2040, em cerca de 60%. A reciclagem de plásticos joga um papel relevante neste processo da transformação industrial porque quanto mais plástico reciclado for disponibilizado em qualidade para ser integrado nas cadeias de produção, menos plástico virgem será necessário. Portanto, faz parte do nosso plano, e vai completar esta oferta que podemos ter, de tratamento de várias matérias secundárias para a indústria em Portugal”.

Quais os maiores desafios?

Apesar de considerar os objetivos do plano estratégico ambiciosos, José Melo Bandeira considera que a Veolia tem reunidas todas as competências e capacidade humana para dar resposta ao que se propuseram. “Na realidade, o plano não é mais do que um guia para os próximos tempos, que nós, somando isso àquilo que é o nosso propósito, a nossa organização interna, usamos muito como bússola e referência. A verdade é que quando dizemos que vamos desenvolver determinados projetos, que vamos obter determinadas vendas, com determinados resultados, pode não correr exatamente assim em todas as áreas, cabe-nos a nós encontrar soluções capazes de atravessar os desafios que nos vão surgindo”.

Esses contratempos, de acordo com o CEO, podem realmente surgir e há até alguns que ele já consegue antecipar. “Todos estes temas são caracterizados por uma urgência enorme, o processo está em curso, as alterações climáticas estão a acontecer, as consequências estão aí, e nós temos de nos preparar para lhe fazer face. Aquilo que eu acho que é talvez o maior desafio é criar as condições para que outras indústrias ditas verdes se possam também instalar em Portugal. Estou a referir-me ao hidrogénio, que é o mais falado, mas também ao biometano, ao lítio, ao aço verde, à amónia verde. Há uma capacidade de áreas de possíveis investimentos em Portugal, assim que Portugal seja capaz de criar condições para que eles se desenvolvam. E isto, sim, pode promover um impacto enorme, tanto na nossa indústria como na nossa economia também”, referiu.

Este impacto refletir-se-á, uma vez alcançados os objetivos deste plano, na descarbonização da economia: “Se atingirmos os nossos objetivos, significa que conseguimos contribuir para este processo de descarbonização. Em 2023, conseguimos evitar quase 100 mil toneladas de CO2 aos nossos clientes. Mas pensamos triplicar este impacto. E isso significa que, desta forma, também estamos a contribuir para que este processo ocorra. Por outro lado, de acordo com o nosso propósito e a nossa forma de estar, isto acontece e melhora do ponto de vista ambiental, mas não pode acontecer a qualquer preço, ou seja, melhora com preocupações muito fortes do ponto de vista da ética e do compliance, da diversidade e da inclusão, da criação de emprego de qualidade, do pagamento de salários acima da média, ou seja, há todo um conjunto que integramos na nossa equação no negócio. Não é o ambiente a qualquer preço, é o ambiente de uma forma económica e inclusiva“.

Posto isto, e quando questionado sobre se o futuro poderia ser realmente mais verde, o CEO da Veolia Portugal não teve dúvidas em responder que realmente acreditava nisso, no entanto explicou que isso poderia acontecer com “mais ou menos dor”. “Nós estamos a lutar para que seja com menos dor, mas a pressão está aí e nós sabemos que este passar do tempo, estas alterações das condições e este agravamento das condições. Acontece, independentemente da nossa vontade, e com uma tendência a acelerar cada vez maior, até muito mais rápida do que os modelos científicos previam. Daí a ideia do Green Up, Speed Up e Scale Up”, concluiu.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

“Portugal vive um momento que não pode desperdiçar”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião