BCE e Galp “ligam” máximos de uma década em Lisboa

2024 está a ser amigo para as bolsas. "Pior já ficou para trás", admitem analistas. Lisboa escala para máximos de dez anos. Galp brilha com descoberta de petróleo na Namíbia. O que esperar a seguir?

O ano de 2024 tem sido amigo para as bolsas. Lisboa acumula ganhos de 8% desde o início do ano e encontra-se a negociar no nível mais elevado em dez anos. A perspetiva de alívio dos juros está a animar os investidores. O Banco Central Europeu (BCE) poderá cortar as taxas já no próximo mês. E o facto de os principais índices de ações estarem em máximos históricos leva a crer que o pior já passou, segundo os analistas.

Apesar do bom desempenho, o PSI — que dá um pulo de mais de 1% esta sexta-feira, para 6.907,01 pontos, o valor mais elevado desde junho de 2014 — está longe de acompanhar os ganhos de 16% do Stoxx 600, o índice de referência europeu. Melhor performance regista o alemão DAX, que soma 20% no mesmo período.

Mas a praça nacional não sai tão mal na fotografia se compararmos com os desempenhos dos principais índices de Espanha e França: o madrileno IBEX-35 valoriza 9,4% e o CAC-40 de Paris avança quase 7%.

PSI escala para máximos de uma década

Fonte: Refinitiv

“O bom desempenho dos mercados bolsistas este ano (não só na Europa, mas também nos EUA) deve-se ao facto de o combate à inflação estar num bom caminho e de as perspetivas de alívio das políticas monetárias dos bancos centrais a curto prazo, em particular o BCE, estarem a apoiar as valorizações destes mercados”, explica Henrique Tomé, analista da XTB.

“Apesar de se a inflação ter vindo a revelar algo mais persistente do que o desejado pelos bancos centrais, limitando assim a sua margem de manobra em termos de cortes de taxas, a verdade é que assumiu uma tendência consistentemente decrescente que permite ao mercado projetar taxas de juro mais baixas para um futuro próximo, ajudando assim também a justificar as elevadas avaliações do mercado acionista”, completa Fernando Castro e Sollar, partner da Baluarte.

"A verdade é que já se assumiu uma tendência consistentemente decrescente que permite ao mercado projetar taxas de juro mais baixas para um futuro próximo, ajudando assim também a justificar as elevadas avaliações do mercado acionista.”

Fernando Castro e Solla

Partner da Baluarte

Tomé adianta ainda que com os principais índices bolsistas na Europa em máximos históricos, e numa altura em que começam a surgir sinais de melhorias na dinâmica económica, “os mercados estão a assumir que a pior fase em termos de macroeconómica já passou”.

Fernando Castro e Solla concorda: “Parece agora mais evidente que a temida recessão económica terá sido evitada“.

Em suma, estamos perante “um contexto que agrada aos mercados: crescimento com inflação controlada e resultados em alta“, destaca o responsável da Baluarte.

Stoxx soma o dobro do PSI

Fonte: Refinitiv

Namíbia dá asas à Galp

O ano tem sido particularmente positivo para meia dúzia de cotadas nacionais, com a Galp GALP 0,05% em grande evidência.

As ações da petrolífera já valorizaram quase 50% desde 1 de janeiro. Os ganhos aceleraram depois da descoberta de petróleo muito promissora na Namíbia e permitiram à Galp retirar à EDP o título de maior cotada da bolsa de Lisboa.

Para CTT, BCP, Navigator, Semapa e Altri o ano de 2024 também tem sido bastante positivo. Cada cotada tem uma história diferente para apresentar, mas todas acumulam ganhos na ordem dos 20%.

“Os resultados fortes e as suas perspetivas futuras impulsionaram os preços das ações dessas empresas. Estas empresas encontram-se em setores que beneficiaram dos seus contextos”, explica Henrique Tomé.

“BCP e CTT beneficiaram da subida das taxas de juro por parte do BCE. No caso da Galp, beneficiou do contexto geopolítico e da descoberta na Namíbia, e as produtoras de papel beneficiaram do preço da matéria-prima”, frisa o analista da XTB.

Winners and losers no PSI

Fonte: Refinitiv

Nem todos têm razões para sorrir, ainda assim. Três pesos pesados da bolsa registam perdas este ano, desempenhos que condicionam a performance geral do PSI.

A EDP Renováveis EDPR 0,20% perde mais de 21% este ano e a casa-mãe EDP EDP 1,01% cede quase 19%, o que também ajuda a explicar a ultrapassagem da Galp como cotada portuguesa mais valiosa.

As ações da Jerónimo Martins acumulam uma desvalorização de 13%.

"BCP e CTT beneficiaram da subida das taxas de juro por parte do BCE. No caso da Galp, beneficiou do contexto geopolítico e da descoberta na Namíbia, e as produtoras de papel beneficiaram do preço da matéria-prima.”

Henrique Tomé

Analista da XTB

O que esperar a seguir?

Para Henrique Tomé, os dados da economia estáveis dão margem para “mais aumentos generalizados em todas as empresas” do PSI, “em linha com os índices europeus”.

Ainda assim, o analista recomenda que se esteja atento à “trajetória da inflação” e, ligado a isso, ao rumo “das políticas monetárias”, e ainda aos resultados das empresas cotadas. Estes fatores devem estar no centro das atenções e “deverão ser o driver dos mercados” nos próximos tempos.

Fernando Castro e Solla sublinha o fenómeno da Inteligência Artificial que vai continuar a impulsionar, “em primeira linha, todo o universo de empresas tecnológicas mais diretamente ligadas ao ecossistema que lhe está associado, mas dando já alguns sinais de arrastamento de outras áreas da economia que por outras vias, nomeadamente por via dos ganhos de produtividade, são também beneficiários líquidos do fenómeno”.

Mas “há naturalmente um conjunto de riscos presentes no atual contexto e vários deles com potencial para perturbar este ambiente de glodilocks (de equilíbrio ideal)”, atira o partner da Baluarte.

“Até ao momento têm sido menos valorizados pelo mercado”, com os investidores mais atentos ao desempenho económico das empresas.

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