BRANDS' CAPITAL VERDE “Em Portugal, só 12% dos edifícios têm classificação A ou A+”

  • BRAND'S CAPITAL VERDE
  • 15 Maio 2024

Construção sustentável e transição energética no sector da habitação foi o tema de um debate organizado pelo novobanco na Nova SBE, em Carcavelos.

É possível construir mais edifícios de forma sustentável? A resposta é positiva, mas os oradores presentes no debate “Transição energética no setor imobiliário”, integrado num evento do novobanco e da Nova SBE dedicado à sustentabilidade, defendem que não basta continuar a construir – é preciso investir na reabilitação urbana, em novas técnicas de trabalho e em novos materiais. “Temos de olhar para os edifícios que existem não como um futuro resíduo de construção, mas como um extraordinário banco de materiais que temos de saber reutilizar e reincorporar nas novas construções”, afirma João Pedro Matos Fernandes.

João Pedro Matos Fernandes
João Pedro Matos Fernandes, Ex-Ministro do Ambiente e da Ação Climática

O antigo ministro do Ambiente e da Ação Climático aceita que possa existir “dificuldade” no aproveitamento material de um prédio com 70 anos, mas recusa a ideia de que “um edifício projetado e construído hoje não seja aproveitado em 95% quando vier a ser desconstruído daqui a 60 ou 70 anos”. Na União Europeia (UE) onde o setor da construção tem hoje metas de sustentabilidade ambiciosas – em 2030, os novos edifícios têm de ser neutros em carbono -, a reutilização de materiais é ainda muito baixa. Na Holanda, que lidera a tabela, a taxa de reaproveitamento é de 30%, mais do dobro da média europeia (12%) e muito superior ao registado em Portugal, que não vai além dos 2,3%. “É sobretudo no fabrico de materiais e na reutilização de matérias-primas que, de facto, podemos dar aqui um grande salto [em matéria de sustentabilidade]”, reafirma.

José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties
José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties

José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties, considera improvável que seja possível alcançar as metas de renovação dos edifícios ou da nova construção. “Estas coisas têm de ser programadas com muito tempo e, no nosso caso, o desafio português é muito grande. A pressão regulatória, europeia e nacional, mas também da banca, vai ser muito importante para acelerar”, aponta. Há ainda um longo caminho a percorrer para tornar as casas e os espaços comerciais mais amigos do ambiente e eficientes do ponto de vista da utilização da energia. “Em Portugal, só cerca de 12% dos edifícios têm classificação A ou A+. Temos muito ainda para reabilitar”, perspetiva.

Inês Soares, Diretora Central e do Gabinete ESG do novobanco
Inês Soares, Responsável do Gabinete ESG do novobanco

Inovação é essencial

No painel moderado por Inês Soares, responsável do gabinete de ESG do novobanco, inovação foi uma das palavras-chave. Quer a Vanguard Properties, quer o Grupo Casais estão a apostar fortemente no conhecimento como arma para liderar o novo capítulo da construção em Portugal. “A inovação é fundamental. Estamos a falar de uma indústria que é muito tradicional, que se habituou a trabalhar de forma muito repetitiva com recurso a materiais e soluções construtivas que não mudaram nos últimos 50 anos”, assinala António Carlos Rodrigues, CEO do Grupo Casais.

António Carlos Rodrigues, CEO do Grupo Casais
António Carlos Rodrigues, CEO do Grupo Casais

O empresário tem investido no aumento da produtividade, por um lado, mas também na utilização de novos materiais e técnicas de construção, nomeadamente a madeira. “Se olharmos para a utilização de madeira, estamos a utilizar material endógeno que nos ajuda a resolver o problema da gestão florestal”, reforça. A ligação da indústria à academia é, diz José Cardoso Botelho, essencial para acelerar a inovação no sector. E isso reflete-se de muitas formas que não apenas nos materiais utilizados. Um exemplo é a plataforma que a Vanguard vai lançar até ao final do ano e que permitirá desenhar, com apoio da inteligência artificial, uma casa com preço e data de entrega em pouco tempo. “O cliente constrói a casa com todos os acabamentos que pretende e tem um desenho em 3D. Este é o tipo de inovação que responde às necessidades do mercado”.

Para acelerar o ritmo da disponibilização de habitação, José Cardoso Botelho diz ser preciso aumentar o poder de compra dos portugueses, porque o custo da construção e da reabilitação é necessariamente elevado. Mas a burocracia também podia ser melhorada, acredita. “Em Portugal temos um código complexo, já podia ter sido atualizado. Com pouco poder de compra e custos mais altos, é uma equação difícil de resolver”, lamenta.
Os especialistas falavam durante o debate integrado no Simpósio Internacional Sustainability and Green Transition, que resulta de uma parceria entre o novobanco e a Nova SBE.

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