‘Investor relations’ vão estar mais envolvidos nos temas ESG

  • ECO
  • 20 Maio 2024

Ana Fernandes, 'investor relations officer' da Greenvolt considera "fundamental que haja um equilíbrio entre a supervisão regulamentar e os encargos impostos às empresas".

Ana Fernandes, responsável pelas relações com investidores da Greenvolt, é uma das nomeadas para IRO Award da 36.ª Edição dos Investor Relations and Governance Awards, uma iniciativa da consultora Deloitte. A investor relations officer (IRO) do grupo liderado por Manso Neto considera que o envolvimento nos temas ESG tenderá a ser cada vez maior, dada a importância dada pelos investidores.

A inteligência artificial irá ajudar os IRO “a identificar tendências, padrões e o sentimento dos investidores”, antecipa. Também poderá ser útil no compliance e processos de reporting, automatizando tarefas.

Ana Fernandes aponta que “os mercados bem regulamentados tendem a ser mais atraentes para os investidores”, mas considera “fundamental que haja um equilíbrio entre a supervisão regulamentar e os encargos impostos às empresas”.

A evolução da política monetária e o crescente risco geopolítico têm contribuído para uma maior volatilidade nos mercados financeiros. Que desafios coloca este contexto à gestão da relação com os investidores?

No geral, uma gestão bem-sucedida da relação com os investidores exige uma abordagem proativa, transparente e estratégica para enfrentar estes e outros desafios e ajudar a criar valor para os acionistas. Diria que é necessário avaliar permanentemente os riscos geopolíticos e o seu impacto concreto na atividade da empresa, estar atenta às mudanças de dinâmica do mercado e ser suficientemente flexível para ir adaptando a comunicação à volatilidade existente.

Que outros desafios enfrentam hoje os IRO na relação com os investidores?

Há inúmeros desafios que os responsáveis pela relação com o mercado de capitais enfrentam, mas destacaria:

  • Compliance e alterações regulatórias: Manter-se permanentemente a par das alterações regulamentares e implementar medidas de compliance eficazes é crucial para manter a confiança dos investidores e evitar riscos jurídicos.
  • ESG: Os temas ESG são considerados cada vez mais importantes para os investidores, que estão a colocar maior ênfase na sustentabilidade, na responsabilidade social corporativa e nas práticas empresariais éticas. Os IRO devem conseguir integrar considerações ESG nas suas comunicações com os investidores, divulgar métricas ESG relevantes e demonstrar o compromisso da empresa com a criação de valor sustentável. Neste contexto os ratings e índices ESG são ferramentas importantes para apoiar os investidores na avaliação dos modelos de negócio de uma empresa e é também por isso que o Grupo Greenvolt tem vindo a consolidar a sua posição de liderança num número crescente desses ratings, tendo conseguido, em 2023, melhorar o seu desempenho na Sustainalitycs, na S&P Global e demonstrado a robustez das suas práticas no MSCI ESG e ISS ESG, quatro das mais prestigiadas agências de classificação ESG do mundo.
  • Competição por Capital: Todos competimos pela atenção dos investidores e pelo acesso a capital, os IRO devem procurar diferenciar a sua empresa dos seus pares e atrair o interesse dos investidores. Isto envolve comunicar eficazmente a proposta de valor única da empresa, o potencial de crescimento e o desempenho financeiro que permita atrair e reter investidores.
  • Gestão de situações imprevistas: No caso de uma crise ou evento imprevisto que afete a reputação ou a estabilidade financeira da empresa, os IRO desempenham um papel fundamental na gestão da comunicação e na restauração da confiança dos investidores. Isto requer capacidades de resposta rápida, transparência e estratégias de comunicação eficazes.
  • Globalização: À medida que as empresas expandem as suas operações internacionalmente, os IRO enfrentam o desafio de interagir com um conjunto mais diversificado de investidores em diferentes regiões e fusos horários. Isto requer sensibilidade cultural, proficiência linguística e uma compreensão da dinâmica do mercado local para comunicar eficazmente a proposta de valor da empresa. Por exemplo, a Greenvolt é um Grupo que opera em 20 diferentes geografias e tem investidores em todos os continentes, o que coloca desafios e exigências só superadas com grande flexibilidade e capacidade de adequação às especificidades de cada mercado.
  • Ativismo: à medida que os investidores ativistas procuram influenciar a tomada de decisões corporativas, os IRO devem envolver-se proativamente com investidores ativistas, compreender as suas preocupações e comunicar eficazmente a estratégia e o desempenho da empresa para se defender contra este tipo de campanhas.

Considera que as crescentes exigências regulatórias e de compliance são necessárias ou a sua complexidade é um entrave à atração de capital e ao desenvolvimento dos mercados?

As crescentes exigências regulatórias e de compliance servem um propósito: garantir a transparência, a responsabilização e a proteção dos investidores. Os quadros regulamentares ajudam a estabelecer diretrizes claras para a governação corporativa, a construção de relatórios financeiros e as práticas de divulgação de informação, que são cruciais para construir a confiança dos investidores. Ao impor padrões de transparência e responsabilização, os regulamentos reduzem o potencial de criação e/ou manutenção de actividades fraudulentas, manipulação de mercado e abuso de informação privilegiada, aumentando assim a estabilidade do mercado e a confiança dos investidores.

Além disso, o compliance também pode contribuir para o desenvolvimento do mercado de capitais, promovendo a participação dos investidores, melhorando a eficiência do mercado e atraindo investidores institucionais que necessitam de uma supervisão regulamentar robusta. Os mercados bem regulamentados tendem a ser mais atraentes para os investidores, pois oferecem maior proteção, menor risco percebido e níveis mais elevados de conformidade.

No entanto, não é despiciendo pensar que muitas vezes representam desafios para as empresas porque todas têm recursos limitados à sua disposição e o cumprimento de todas estas (crescentes) obrigações não é barato. É fundamental que haja um equilíbrio entre a supervisão regulamentar e os encargos impostos às empresas, especialmente no que diz respeito a garantir que a regulação seja proporcional, simplificada e adaptada às necessidades dos diferentes players.

Que impacto pode vir a ter a inteligência artificial no trabalho de um responsável pelas relações com os investidores?

Por natureza prefiro ver o copo meio cheio e olho para o impacto da inteligência artificial (IA) mais como uma oportunidade do que como uma ameaça. Desde logo porque a IA pode analisar grandes quantidades de dados, ajudando os IRO a identificar tendências, padrões e o sentimento dos investidores. Depois porque, num futuro não muito longínquo, a utilização de chatbots com tecnologia de IA pode fornecer respostas em tempo real às dúvidas mais simples dos investidores, melhorando a eficiência da comunicação. Os algoritmos de IA podem prever movimentos de mercado e comportamentos dos investidores, auxiliando o planeamento estratégico e até mesmo a tomada de algumas decisões e finalmente, mas não menos importante, pode ser útil no compliance, ajudando a garantir o cumprimento de regras, automatizando a sua monitorização e os processos reporting.

Como é que os temas do ESG já estão a mudar o papel dos IRO e vão fazê-lo no futuro?

Um dos papéis dos IRO é facilitar o diálogo entre empresa e investidores e fornecer informações sobre iniciativas ESG. Cada vez mais o mercado exige que a comunicação seja transparente e consistente e os investidores estão cada vez mais interessados no desempenho ESG das empresas cotadas. Os IRO devem compreender os indicadores ESG mais relevantes para o seu sector e comunicar as iniciativas e métricas postas em prática de forma transparente e eficaz. Os investidores estão cada vez mais conscientes dos riscos e oportunidades ligados aos temas ESG e os responsáveis pela relação com o mercado de capitais devem saber como a empresa gere esses fatores e como isso afeta o desempenho financeiro a longo prazo.

Considero, por isso, importante e útil, também para as funções de IRO que desempenho na Greenvolt, o compromisso do Grupo em gerir e reportar, de forma transparente, os aspetos ESG da sua atividade. Os vários reconhecimentos externos e avaliações ESG positivas de investidores e analistas materializam a nossa abordagem à sustentabilidade e tornam-nos também mais cientes das oportunidades de melhoria das nossas práticas e processos.

No futuro, prevejo que profissionais de investor relations estejam ainda mais envolvidos nas discussões sobre os temas ESG e sejam responsáveis por comunicar e implementar estratégias relacionadas com esses temas, auxiliando as empresas a entender e responder às expectativas dos investidores. Para que estejam garantidos relatórios precisos e transparentes de métricas ESG, terá de haver uma maior colaboração com partes interessadas internas. Também neste processo pode haver ajuda da inteligência artificial, na análise de dados ESG, identificando tendências e fornecendo pistas úteis, quer para a gestão, quer para a comunicação com o mercado.

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