Bosch garante que 1.200 empregos na fábrica de Ovar estão “protegidos”. Portugal já não é “apenas manufatura”

Os 1.200 trabalhadores da fábrica de Ovar, em processo de venda, vão manter os empregos e as condições, assegura Carlos Ribas. Bosch vai construir uma segunda linha das bombas de calor em Aveiro.

Os 1.200 postos de trabalho da Bosch na fábrica de Ovar não serão afetados pela venda da unidade pela multinacional alemã. A garantia é deixada pelos responsáveis da empresa, que no ano passado voltou a faturar mais de 2.000 milhões de euros em Portugal e que empregava mais de 7.000 pessoas no final do ano passado. Quanto às restantes operações, o grupo nota que Portugal assume uma “posição estratégica”, que vai bem além da manufatura.

“A Bosch quer estar no top 3 dos negócios em que está presente. Negócios pequenos para a Bosch não fazem sentido. Não somos competitivos”, justificou Carlos Ribas, responsável pela operação nacional, em conferência de imprensa realizada esta quarta-feira no Porto. na apresentação dos resultados anuais de 2023 esteve também presente Javier González Pareja, presidente da Bosch para Portugal e Espanha.

Carlos Ribas garantiu que, apesar de a empresa ter decidido reestruturar a sua divisão Building Technologies para se focar no mercado de integração de sistemas — alienando a maior parte do negócio de produtos, incluindo as unidades de negócios de Vídeo, Acesso e Intrusão e Comunicação –, a Bosch procurou um comprador para a unidade de Ovar “alinhado com uma estratégia de futuro e que assegure a continuidade das pessoas”, mantendo as condições de trabalho.

Em termos de negócio, Ribas refere que o “impacto será o [que a fábrica tem] da faturação em Portugal”. Embora não detalhe a divisão das vendas pelas várias unidades de negócio no país, apontou que Braga é a área de negócio com maior peso na faturação, entre “60% a 65%”, enquanto o resto das vendas é “mais ou menos dividido” entre Aveiro e Ovar. Isto significa que a venda da fábrica de Ovar poderá ter um impacto até 20% na faturação gerada em Portugal.

Centenas de vagas abertas

Depois de ter contratado mais 450 pessoas no ano passado, o grupo alemão, que é um dos maiores empregadores e exportadores do país, prevê continuar a reforçar a sua força de trabalho, que já supera os 7.000 colaboradores.

O grupo diz ter abertas centenas de vagas de trabalho nas várias unidades do grupo, estando neste momento a recrutar para Braga, Ovar e também Lisboa. “Em Aveiro já contratámos no ano passado”, acrescenta. A Bosch tem atualmente 3.700 funcionários em Braga, 1.600 em Aveiro, 1.200 em Ovar e 650 no centro de serviços em Lisboa.

Quanto a grandes investimentos, depois do anúncio de um investimento de cerca de 100 milhões de euros em Aveiro, até 2026, para aumentar a produção de bombas de calor nessa fábrica, o grupo prevê continuar a “investir em todas as linhas da Bosch em Portugal”. A garantia foi dada por Carlos Ribas, notando que esta é uma empresa tecnológica e “o investimento em tecnologia é extremamente caro”.

Segunda linha de bombas de calor em Aveiro

Com importantes unidades de negócio no país para o grupo, que a nível global faturou 91,6 mil milhões de euros em 2023, Portugal tem vindo a crescer em várias áreas de negócio e assume hoje operações que nunca tinham saído da Alemanha, sublinha Carlos Ribas.

“Portugal já não é, para a Bosch, um país apenas de manufatura”, garante o responsável da multinacional em Portugal, acrescentando que o grupo está a deixar que a parte do conhecimento, da inovação e serviços também venham para Portugal.

Aveiro é uma fábrica extremamente importante para Bosch. É o centro de competência a nível global para desenvolver soluções de água quente

Carlos Ribas

Responsável da Bosch em Portugal

É o que está a acontecer, por exemplo, com alguns serviços partilhados no centro de Lisboa, mas também em Aveiro, apontada como “uma fábrica extremamente importante” para o grupo. É o centro de competência a nível global para desenvolver soluções de água quente, como esquentadores elétricos e a gás, e também bombas de calor. Segundo Carlos Ribas, a parte da competência e do desenvolvimento do produto está centralizada em Aveiro, mesmo que nem tudo seja fabricado nesse local.

Esta unidade está “em fase de crescimento” e vai produzir também bombas de calor, estando já garantida uma “autorização para construir uma segunda linha das bombas de calor” na fábrica de Aveiro, detalha o mesmo responsável. “Acreditamos que vai ser a energia de futuro”, conclui.

Já na fábrica de Braga, uma das maiores do grupo a nível mundial, a Bosch continua a apostar em nova tecnologia na área da mobilidade, estando neste momento a apostar no desenvolvimento de computadores de bordo, sensores, câmaras e radares. A condução autónoma é outra das áreas que está focada na unidade minhota.

Depois do grupo ter fechado o último ano com um ligeiro crescimento das vendas em Portugal – 1,7%, para 2,1 mil milhões de euros -, Ribas nota que “o mercado está bastante instável e numa fase de indefinição”. Por exemplo, no segmento automóvel, a maior percentagem dos negócios do grupo — cada novo carro produzido tem 600 euros de material da Bosch, contabiliza –, a “tecnologia em si, dependendo dos construtores automóveis, não é igual em todos”. “Há uma indefinição em termos de tecnologia”, completa.

Por outro lado, a tendência em termos de produção automóvel é para que se produzam menos carros. O ano de 2017 marcou um máximo na produção, com 97 milhões de novos carros produzidos a nível global. No ano passado, esse número situou-se em 90 milhões.

Face a esta indefinição em várias áreas, desde a tecnologia, à sustentabilidade, Carlos Ribas antecipa uma fase de estabilização ao nível das vendas nos próximos dois a três anos, “para depois passar para a fase seguinte quando a tecnologia estiver mais madura e voltar a crescer”.

Quanto à possibilidade de realizar aquisições para crescer no mercado nacional, Javier González Pareja garante que “não há nada em vista em Portugal”.

Já em termos de mercados, a China, que se tornou o maior mercado do grupo, superando a Alemanha com um peso de 20% nas vendas, é o grande motor de crescimento. “A China é um parceiro, um grande cliente e um tremendo concorrente”, conclui Carlos Ribas.

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