Exclusivo Governo vai inverter a lógica das candidaturas ao Porta 65

Um jovem com determinado rendimento dirige-se ao IHRU, vê a sua candidatura aceite e só depois vai ao mercado procurar casa. Deixa de ser necessário ter previamente uma promessa de contrato.

O Governo pretende inverter a lógica das candidaturas ao Porta 65, o programa que apoia o arrendamento destinado aos jovens até aos 35 anos. A ideia é que a candidatura seja decidida com base no rendimento. Depois, perante uma resposta positiva, é que os jovens vão ao mercado à procura de casa.

Na nova estratégia para a habitação, Construir Portugal, apresentada no passado dia 10 de maio, o Governo comprometeu-se, no espaço de 15 dias, a reformular o Porta 65 para “colocar a realidade económica do jovem em primeiro lugar, acabando com exclusões em função de limites de rendas”. Isto quer dizer, segundo a secretária de Estado da Habitação, que “um jovem, com determinado rendimento, dirige-se ao IHRU, vê a sua candidatura aceite e depois vai ao mercado procurar a sua casa”. “É uma inversão completa”, sublinha Patrícia Gonçalves Costa, na Advocatus Summit, uma iniciativa do ECO, a decorrer até esta quinta-feira. “Hoje em dia é preciso já ter uma casa, ter uma promessa de contrato e só depois se vai ao IHRU”, acrescentou.

“Portanto, é inverter a lógica: o jovem com um determinado rendimento tem direito àquele X [de apoio] e depois vai procurar a sua casa”, precisou a responsável.

As regras atuais determinam que os beneficiários do Porta 65 estão sujeitos a tetos máximos de rendas com as quais se podem candidatar. Tetos esses que variam de acordo com a tipologia e a localização das casas. Por exemplo, em Lisboa, uma família a viver num T1 só poderá beneficiar do programa se a renda tiver um valor máximo de 900 euros.

Patrícia Gonçalves Costa explicou ainda que a “inversão de ónus” da medida, “que está a ser desenhada em parceria com o Ministério da Juventude e da Modernização”, visa também “viabilizar e tentar desonerar o IHRU daquilo que é uma gestão incalculável de candidaturas”.

A secretária de Estado defendeu a necessidade de “uma reestruturação do IHRU”, com reforço de meios. Mas recusou confirmar a saída do atual presidente do instituto e se esta faz parte do processo de reestruturação. “Isso foi uma notícia que saiu sem qualquer fundamento prático. Não houve qualquer demissão”, sublinhou Patrícia Gonçalves Costa.

O IHRU foi completamente assoberbado de competências. É quase o único agente na concretização das candidaturas do PRR, dos programas de apoio à renda, do inventário dos imóveis públicos. E não houve a consciência que, para alguma coisa acontecer, são precisas pessoas”, afirmou a secretária de Estado. “Quando uma medida é lançada é necessário ter a perfeita noção do que é preciso, que tem de estar desenhada em todas as suas especificidades: os recursos humanos, o esforço financeiro, o tempo” que leva, elenca. “O IHRU não foi redesenhado para acautelar as responsabilidades”, lamentou, sublinhando a necessidade de “haver uma reestruturação de tudo”, porque é importante haver “um instituto de referência e um observatório que estude todas as tendências, evoluções e dinâmicas no âmbito da habitação”.

A reestruturação do instituto ainda dirigido por António Gil Leitão vai passar por “expurgar aquilo que o IHRU não tem vocação”, avançou a secretária de Estado da Habitação. Ou seja, “dar a construção pública à antiga Parque Escolar, que tem essa vocação, essa aptidão, para desenvolver esses projetos”, acrescentou.

A lógica de toda esta reorganização vai naturalmente dotar o IHRU de meios e de recursos para continuar a levar a bom porto” as respostas habitacionais, disse Patrícia Gonçalves Costa, recordando que “há vida para além do PRR”.

Em março do ano passado, o Governo de António Costa já tinha determinado que a Parque Escolar passaria também a construir habitação pública e passaria para a tutela do Ministério da Habitação. A Parque Escolar foi criada em 2007, durante o Executivo de José Sócrates, para requalificar as escolas públicas. Desde junho do ano passado que renomeada Construção Pública pode transformar imóveis devolutos do Estado em habitação, em parceria com o IHRU. Sendo que as obras serão suportadas com verbas alocadas ao PRR.

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