Os negócios e os acionistas da nova empresa da Euronext Lisboa

A Vila dos Números é a terceira SIGI a entrar na bolsa nacional. Nas contas dos investidores, as fortes ligações familiares entre acionistas e administração são só um dos pontos que merecem atenção.

Cláudia Daniela Constance Leal, presidente e acionista da Vila dos Números, foi apresentadora do programa “Bem-vindos” da RTP-África entre 2012 e 2018. Atualmente, além de liderar a mais recente SIGI a chegar à bolsa nacional é também correspondente da estação televisiva moçambicana Televisão de Moçambique em Portugal.

A Vila dos Números é hoje admitida à negociação na Euronext Lisbon Access com uma capitalização bolsista de 6 milhões de euros. É apenas a terceira sociedade de investimento e gestão imobiliária (SIGI) a negociar na bolsa de valores nacional desde que o regime da SIGI foi aprovado há cerca de cinco anos.

Este marco na indústria das SIGI é também um episódio relevante na trajetória desta empresa, que após ter sido fundada a 15 de fevereiro de 2010 por Nuno Filipe Jardim Leal com um capital social de 5 mil euros, apresenta atualmente uma estrutura acionista fortemente marcada por laços familiares entre os seus acionistas e membros da administração, contando inclusive na sua “estrutura acionista com capital africano de Moçambique”, refere Cláudia Daniela Constance Leal, presidente do conselho de administração da Vila dos Números, no evento de apresentação da empresa que decorreu esta terça-feira na Euronext Lisboa.

A Vila dos Números é detida integralmente pela Léxico SGPS, uma sociedade gestora de participações sociais, que tem nos irmãos João Ricardo Jardim Leal e Nuno Filipe Jardim Leal os beneficiários efetivos da empresa – este último é ainda diretor na empresa britânica Unistate Invest.

Os resultados líquidos da Vila dos Números referentes a 2023 mostram uma melhoria de 16% face aos resultados de 2022, mas as contas continuam a mostrar prejuízos 114 mil euros.

Na administração da Vila dos Números figuram as mulheres dos dois irmãos Jardim Leal: Cláudia Daniela Constance Leal, que além de ser presidente do conselho de administração da empresa é ainda administradora na Léxico SGPS e correspondente da Televisão de Moçambique em Portugal, e Ana Lúcia Jardim Leal que, responsável pela direção fiscal e financeira da Vila dos Números, assim como da direção comercial e planeamento, depois de ter sido administradora da Voxatlas até ao ano passado — empresa que foi posteriormente fundida com a Vila dos Números em 2023.

Um dos episódios mais significativos na história recente da Vila dos Números foi justamente a incorporação da Voxatlas na empresa, que resultou na transferência total do seu património para a Vila dos Números.

Entre os ativos transferidos da Voxatlas destaca-se um terreno com mais de 24 mil metros quadrados em Boliqueime, na Patã de Cima, avaliado em 1,9 milhões de euros e que está destinado a abrigar uma unidade de turismo rural. Esta operação foi responsável por grande parte do aumento de 32% dos ativos fixos tangíveis da Vila dos Números entre 31 de dezembro de 2022 e 30 de setembro do ano passado para mais de 9 milhões de euros, segundo as contas apresentadas no documento informativo da empresa disponibilizado no site da Euronext.

Património imobiliário

A Vila dos Números apresenta um capital social de 5 milhões de euros (mínimo exigido por lei para ser considerada uma SIGI), dividido em 50 mil ações com um valor nominal de 100 euros cada (17% abaixo do preço do IPO). A empresa revela que a sua avaliação assenta “no valor do ativo deduzido do passivo e de quaisquer imparidades ou contingências que possam ocorrer”.

O documento informativo da empresa revela que o relatório do auditor independente para o ano de 2022 destacou uma reserva em relação a um montante a receber de quase 857 mil euros de uma empresa do grupo da Léxico SGPS (a Estrato Real Unipessoal), em que os auditores “consideraram que não obtiveram evidência suficiente e apropriada que lhes permitisse concluir sobre a sua correta valorização”.

Dos seis imóveis que a Vila dos Números detém em carteira, apenas uma propriedade está arrendada. Trata-se de uma morada de cinco andares em Cascais que está arrendada por 20 mil euros por mês, que confere uma yield de 6,7%.

A empresa dos Jardim Leal esclarece que essa situação já era identificada nas contas de 2021 (apesar de o montante em causa ser de menor dimensão) e que em 2023 obteve uma carta de conforto por parte da Estrato Real Unipessoal a reconhecer que tem uma dívida para com a Vila dos Números, “e em que se comprometem a liquidar a dívida nos próximos 84 meses, sendo a primeira tranche a ser realizada em março de 2024.” A 30 de junho do ano passado, o montante desta dívida ascendia a mais de 1,7 milhões de euros.

À margem do evento de apresentação da empresa aos investidores nas instalações da Euronext, Hugo Pelicano, presidente do conselho fiscal, revela que não só a primeira tranche da dívida foi paga em março como estava previsto, como atualmente é “de cerca de 800 mil euros”.

Os resultados líquidos da empresa referentes a 2023 mostram uma melhoria de 16% face aos resultados de 2022, mas as contas continuam a mostrar prejuízos 114 mil euros. “O resultado líquido é negativo atendendo à empresa estar em investimento ininterrupto desde 2017”, refere a empresa, sublinhando ainda que “os anos de 2022 e 2023 têm-se traduzido num esforço superior pelas empreitadas levadas a cabo em Cascais e na Patã.”

Atualmente, além do terreno na Patã de Cima que após a conclusão de obras ficará, segundo a empresa, avaliado em 3,3 milhões de euros, a Vila dos Números detém ainda mais cinco imóveis, em que apenas um está atualmente arrendado:

  • Prédio construído em 1928 para habitação com quatro pisos e uma área de construção de 239 metros quadrados em Campo de Ourique, Lisboa, renovado com um valor de mercado de 1.4 milhões de euros e uma renda potencial de quase 6 mil euros mês.
  • Espaço comercial com 215 metros quadrados em Oeiras, avaliado em 307,7 mil euros e com uma renda potencial de 3 mil euros.
  • Moradia de cinco pisos, em Cascais, construída em 1962 e renovada e ampliada em 2023, com uma área de 680 metros quadrados e uma área de terreno de 1460 metros quadrados, que está avaliada em 3,6 milhões de euros e arrendada por 20 mil euros mês.
  • Apartamento construido em 1995 na cidade de Faro com uma área de 132 metros quadrados, avaliado em 320,7 mil euros e com uma renda potencial de 1.350 euros.
  • Terreno rústico sem construção ou em ruínas em São Brás de Alportel, em Pero de Amigos, com uma área de quase 2 hectares numa “zona sem habitações e com terrenos com grandes desníveis de difícil acesso”, que está avaliado em 780 mil euros.

Cláudia Leal destaca na apresentação da empresa na bolsa de Lisboa que os próximos investimentos da empresa passam por imóveis localizados em “áreas de grande crescimento como Lisboa e Algarve”, destacando que a empresa “já identificou várias propriedades imobiliárias que irá apresentar muito em breve”, mas sem especificar que imóveis se tratam.

Notícia atualizada às 16h57 com declarações de Cláudia Leal e Hugo Pelicano.

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