“Piso zero de um edifício de escritórios é cada vez mais um mega lobby de um hotel”, diz CBRE
O que está a mudar nos espaços de trabalho? Logo à entrada, os edifícios estão a passar por uma "hotelização", realça André Almada. Resistir ao regresso ao escritório pode prejudicar a carreira, diz.
O mundo do trabalho está em transformação e, à boleia, também os edifícios de escritórios estão a mudar. Hoje o piso zero de um desses edifícios é “cada vez mais um mega lobby de um hotel“, onde tanto é possível trabalhar sozinho, como fazer encontros de equipa ou até reunir com os clientes. A tendência é identificada por André Almada, diretor sénior da área de escritórios da CBRE Portugal, que, em declarações ao ECO, deixa também um sinal de alerta para quem está resistir ao regresso ao trabalho presencial.
“Cada vez mais, assistimos à hotelização dos pisos zero dos edifícios de escritórios. Um groundfloor de um edifício de escritórios é cada vez mais um mega lobby de um hotel, onde posso estar a trabalhar e ter alguma tranquilidade, como posso estar a ter uma reunião com colegas de trabalho sobre um determinado projeto, como posso receber um cliente de uma forma mais informal, sem estar fechado numa sala, como posso ter um work café, com bebidas e snacks“, descreve o especialista.
André Almada sublinha que os edifícios têm “claramente” de disponibilizar esses espaços, de modo a “criar experiências e facilitar a vida das pessoas“. Até porque, quanto melhor estas se sentiram, “mais produtivas são“. “E este é um dos objetivos das grandes organizações neste momento, porque o talento é cada vez mais escasso e mais desejado“, acrescenta o diretor sénior.
Em conversa com o ECO, o responsável nota também que os espaços de trabalho — expressão que prefere a escritório, já que considera esse último termo um tão “bafiento” — são cada vez mais lugares onde as empresas tentam que “a sua cultura, valores, estratégia, objetivos e dinâmicas” se concretizem e “se fundam com os seus trabalhadores”. “São espaços de colaboração, de bem-estar e de partilha de conhecimento e de experiências”, afirma André Almada.
Ter espaços de trabalho pensados para responder às “ambições e necessidades dos trabalhadores” seja importante para que estes tenham vontade de lá estar, cumprindo dias de trabalho presencial, e não se ficando apenas pelo teletrabalho, reconhece o diretor sénior. Mas não tarda a atirar que há outros fatores a ter em consideração para tornar esse regresso ao escritório mais atrativo, como os planos de carreira e a atratividade dos projetos.
Ainda assim, André Almada deixa um aviso: “quem efetivamente resiste mais ao presencial — e o presencial não tem de ser o presencial cinco dias por semana, das 9h00 às 18h00 – progride menos“. Por isso, projeta: “as pessoas que não são convencidas pelas palavras vão perceber [a importância do trabalho presencial] através do que vão sentir na pele: uma progressão mais lenta“.
O renascimento do cowork
Sim, os espaços de coworking sofreram muito com as restrições que ficaram associadas à pandemia, mas, agora que as economias voltaram a abrir e a vida tem tentado regressar à normalidade, estes têm um futuro promissor à sua frente, sinaliza o diretor sénior da área de escritórios da CBRE Portugal.
“Os espaços de coworking foram os primeiros a sofrer com o lockdown [confinamento], porque em 2020 havia muitos contratos de curta duração. Portanto, quando há o lockdown [confinamento], muitos ocupantes tiveram de dar apenas um pré-aviso de um mês para saírem e acionaram essas cláusulas. Os espaços ficaram completamente vazios em dois, três meses”, recorda André Almada, que diz que os primeiros dois anos da Covid-19 foram “muito difíceis” para estes operadores.
“Mas também foram dos primeiros a começar a recuperar“, realça. Isto porque, conta o responsável, as empresas começaram “a arriscar voltar” à normalidade, “através da flexibilidade contratual que estes espaços permitem”.
“Os resultados em Portugal no final de 2023 já foram extraordinários: colocaram-se cerca de seis mil postos de trabalho nestes espaços, dos quais 5.500 em Lisboa. Hoje a taxa de ocupação anda acima dos 85%, com os valores por workstation [estação de trabalho] a subir de forma relevante”, adianta André Almada.
Além disso, frisa o mesmo, cada vez mais os contratos já não se cingem apenas a um ou dois postos de trabalho, abrangendo, antes, várias dezenas de empregos. “Este ano, já colocamos só com uma empresa 240 postos de trabalho“, destaca o diretor sénior.
À parte da flexibilidade, que continua a ser muito valorizada pelos utilizadores destes espaços, André Almada assinala o facto de estarem “concebidos para que os seus utilizadores possam ter experiências de última geração“, bem como o sentido de comunidade que tem sido criado.
“Com uma membership [subscrição] de um determinado operador, que tem outros centros em Portugal, posso mudar entre localizações, em comunidade. Este espírito também está a ser criado com bastante força“, sublinha.
De resto, as estatísticas que têm sido recolhidas e divulgadas pela CBRE Portugal, quanto aos espaços de coworking, confirmam a sua recuperação pós pandemia. Os contratos hoje são cada vez mais longos e já não abrangem somente pequenas empresas ou freelancers, mas, sim, “empresas das mais diversas dimensões e setores que optam por estes espaços pela flexibilidade que oferecem, pelo facto de entregarem um full service [serviço completo]”.
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