Rotura de negócio na Alemanha leva Inapa à falência

A Inapa pediu 12 milhões à Parpública, maior acionista, para evitar a falência da subsidiária na Alemanha. Sem esses fundos, vai pedir a falência da própria Inapa IPG "nos próximos dias".

A Inapa comprou em 2018 a empresa alemã Papyrus Deutschland, com uma faturação da ordem dos 550 milhões de euros e que, somado à operação que já tinha naquele mercado, levaria a faturação global da distribuidora de papel para 1400 milhões de euros. Agora, em situação limite, a administração da Inapa pediu uma injeção de urgência ao maior acionista, a Parpública, da ordem dos nove milhões de um total necessário de 12 milhões de euros, para pagar salários e fornecedores na operação alemã, e deu a indicação ao acionista público de que teria de haver uma decisão até ao final do dia de segunda-feira, sob pena da subsidiária alemã entrar em insolvência. Agora, a gestão informou oficialmente o mercado de que a insolvência da operação alemã terá como consequência a falência da própria Inapa IGP.

Atentos os impactos imediatos que a apresentação à insolvência da Inapa Deutschland terá na Inapa IPG, o Conselho de Administração da Inapa IPG reuniu e analisou a sua situação financeira, tendo concluído pela consequente e eminente insolvência da Inapa IPG, pelo que deliberou também apresentar a Inapa IPG à insolvência nos termos da lei portuguesa, o que será formalizado nos próximos dias“, lê-se num comunicado.

“A Inapa – Investimentos, Participações e Gestão, S.A. (“Inapa IPG”) vem comunicar ao mercado que em virtude de uma carência de tesouraria de curto prazo da sua subsidiária Inapa Deutschland, GmbH (“Inapa Deutschland”), em montante de 12 milhões de euros, para a qual não se encontrou solução de financiamento no prazo estabelecido de acordo com a lei alemã, pese embora todos os esforços atempadamente desenvolvidos pela administração da Inapa junto de credores e dos acionistas, em especial junto do seu maior acionista detentor de cerca de 45% do capital social, a Parpública – Participações Públicas (SGPS), S.A., será a Inapa Deutschland apresentada à insolvência no dia 22 de julho”, lê-se no comunicado enviado à CMVM.

Já depois da publicação desta notícia, o ECO apurou que a Inapa terá comunicado à Parpública — que tem 44% das ações e é o maior acionista — que precisaria de uma injeção de tesouraria de 12 milhões de euros, no total, dos quais cerca de nove milhões caberiam ao acionista público, e os restantes ao Novobanco (6,55%) e Nova Expressão (10,85%).

De resto, no passado dia 11, as ações do Inapa foram suspensas. À data, a distribuidora anunciou se preparava para adiar o reembolso de uma linha de obrigações convertíveis, instrumento que foi desenvolvido precisamente para comprar a operação em 2018 na Alemanha e que foi anunciada como um novo ciclo do grupo. Mas a suspensão das ações terá apanhado o Governo desprevenido, sem informação da Parpública.

Fonte: Euronext Lisbon

 

A história da Inapa na última década é, no mínimo, conturbada, seja do ponto de vista operacional, seja do ponto de vista acionista.

Por um lado, a operação de compra da empresa na Alemanha foi vendida como uma saída para ganhar escala e viabilizar um novo futuro na empresa. “É uma operação de enormíssimo impacto porque a Papyrus Deutschland tem um nível de faturação de 550 milhões. A Inapa – que em 2018 faturou 860 milhões – não só crescerá para 1.300 a 1.400 milhões, como será o “player” número 1 nos dois maiores mercados europeus, o que nos permitirá escala de operação. A nossa expectativa é que a integração seja feita este ano [2019], garantia, à data, o presidente Diogo Rezende. Em 2023, a faturação da Inapa caiu para menos de mil milhões de euros.

Por outro, verificaram-se mudanças relevantes na estrutura acionista da distribuidora de papel. O BCP chegou a ser um acionista de referência, com mais de 8% do capital, mas deixou de ter uma posição de referência. E em janeiro de 2019, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) anunciou a venda da participação que detinha na Inapa, precisamente à Parpública, por 15,8 milhões de euros, o que resultou numa menos-valia até 600 mil euros para o banco. Nesse momento, a Parpública passou a deter mais de 44% do capital, mas apenas 33% dos direitos de voto, de acordo com os estatutos da empresa. Facto curioso é que os membros do conselho de administração da Inapa, no final de 2023, declararam não ter uma ação ou obrigação da companhia.

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