OPA da Bondalti: Grupo de acionistas com 27% do capital da Ercros recusa ofertas
Os preços das ofertas lançadas pela Bondalti e pela italiana Esseco já foram ultrapassados pelas ações em bolsa. Títulos da Ercros negoceiam 7,5% acima da contrapartida da química portuguesa.
Um grupo de 150 acionistas da Ercros, que representa cerca de 27% do capital da gigante espanhola, anunciou que não aceita nem a oferta pública de aquisição (OPA) lançada pela portuguesa Bondalti, nem a OPA concorrente da italiana Esseco. Os investidores da empresa já tinham manifestado contra as operações na assembleia geral de acionistas do passado dia 28 de junho, por considerarem que as contrapartidas oferecidas nas duas ofertas [3,6 e 3,84 euros, respetivamente] são demasiado baixas. Os preços das OPA já foram ultrapassados em bolsa, com os investidores a mostrarem que não acreditam no sucesso destas OPA, aos preços atuais.
Num comunicado enviado ao regulador espanhol, este grupo de acionistas, que inclui o casal Joan Casas Galofré e Montserrat García Pruns (6,015%+3,61%), que juntos controlam perto de 10% do capital, declara a sua “vontade irrevogável de não aceitar nenhuma das ofertas públicas de aquisição voluntárias” lançadas sobre a empresa.
No manifesto enviado à CNMV, o regulador espanhol, os acionistas declaram que não têm nenhum acordo, entendimento ou pacto “de qualquer natureza, verbal ou escrita, com nenhum outro acionista da Ercros para o exercício concertado de direitos de voto nem para qualquer outra ação concertada em relação à Ercros“.
A Bondalti anunciou no passado mês de março o lançamento de uma OPA sobre a totalidade do capital da Ercros por 3,6 euros por ação [preço entretanto ajustado para 3,505 euros após o pagamento do dividendo de 0,096 euros brutos], uma oferta que avaliava a espanhola em 329 milhões de euros.
Em resposta à Bondalti, a italiana Esseco lançou, no passado dia 28 de junho, uma proposta concorrente à oferta realizada pelo grupo português, propondo-se a pagar 3,84 euros [ajustados para 3,745 euros para deduzir o dividendo pago pela empresa] por cada ação da Ercros. Apesar do preço oferecido ser 7% superior à contrapartida da Bondalti, ainda não chega para convencer os acionistas a vender, conforme mostra a evolução bolsista da empresa. As ações da Ercros seguem a negociar nos 3,87 euros, um preço que fica acima dos valores oferecidos nas duas ofertas, um comportamento que evidencia que os mercados estão a antecipar que, a estes preços, as OPA não avançam.
Analistas antecipam novas ofertas e melhorias de preço
Os analistas que acompanham a empresa já tinham adiantado que consideram que o preço “muito abaixo do valor intrínseco da Ercros” proposto nas ofertas públicas de aquisição (OPA) da portuguesa Bondalti e da italiana Esseco deixa tudo em aberto na luta pelo controlo da gigante espanhola. Os analistas antecipam o surgimento de outras ofertas e dizem que a Bondalti, se não quiser ficar para trás, terá que melhorar a contrapartida oferecida na operação. Para já, o grupo português não quer comentar qual será o seu próximo passo, afirmou uma fonte da empresa ao ECO.
Os especialistas continuam a considerar as contrapartidas oferecidas insuficientes para compensar os acionistas pelo potencial de sinergias, que os analistas calculam que ronda os 50 milhões de euros. “Face aos múltiplos pouco exigentes e ao potencial de sinergias [de 50 milhões de euros], esperamos que ambos os concorrentes melhorem os preços das suas respetivas ofertas” para aumentar a probabilidade de sucesso das OPA, argumenta o analista da Mirabaud, que considera o preço oferecido pelos italianos — 7% superior à contrapartida da Bondalti — “baixo” e que “não partilha o potencial de sinergias com os acionistas da Ercros”.
A OPA da “Bondalti atraiu a atenção de outras partes interessadas na Ercros dada a sua posição dominante no mercado espanhol”, comenta Jose Ramon Ocina, analista da Mirabaud, numa primeira reação à OPA lançada pela Esseco no passado dia 28 de junho.
O banco de investimento, que avalia a empresa com um preço-alvo de 4,55 euros — um “target” que diz não incluir as potenciais sinergias que poderão resultar da concentração de ativos num grande grupo –, refere que este é “um excelente timing para ambas as ofertas”, com o setor sob pressão.
Depois de ter fechado o último ano com uma faturação de cerca de 750 milhões de euros e lucros de 27,5 milhões de euros, a empresa espanhola comunicou ao mercado que deverá passar de lucros de 16,5 milhões de euros a prejuízos de 2 milhões na primeira metade do ano, arrastada pela crise que afeta o setor.
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