“Temos uma cultura muito desfavorável ao negócio”, diz Vítor Bento
O presidente da Associação Portuguesa de Bancos considera que um dos entraves ao desenvolvimento da economia portuguesa é a cultura hostil às grandes empresas e ao lucro.
O presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Vítor Bento, defendeu esta terça-feira, numa iniciativa da Associação Business Roundtable Portugal, que a cultura “hostil à dimensão das empresas, ao lucro e ao capital” contribui para o baixo crescimento da economia portuguesa.
“Temos uma cultura muito desfavorável ao negócio e ao desenvolvimento da economia”, afirmou Vítor Bento. “Todos os países evoluem da mesma maneira, água mole em pedra dura. Há países em que a água é dura e a pedra é mole. Em Portugal, a água é muito leve e pedra muito dura. A resistência é muito grande”, acrescentou, durante o debate que se seguiu à apresentação de novos dados da iniciativa “Comparar para crescer”, que teve lugar no auditório da KPMG, em Lisboa.
“A cultura é fundamental para o sucesso da economia. A nossa cultura não está alinhada com uma estratégia de desenvolvimento“, disse, considerando que ela ainda é hostil “à dimensão das empresas, ao lucro e ao capital”, referiu ainda o presidente da APB, defendendo ser necessário “remover as barreiras ao crescimento das grandes empresas“.
Pedro Siza Vieira, advogado e antigo ministro da Economia, que também participou no debate, afirmou: “A capacidade de termos empresas que escalam depressa é muito crítica“, mas considerou que o país está a atravessar um período positivo.
“Portugal está a viver um momento bom que resiste às tricas do Orçamento e às mudanças de Governo, considera o antigo governante, apontando como vantagens a maior resiliência das finanças públicas e da poupança das famílias. “Estamos num processo de mudança, que está ainda a meio caminho, que nos permite colocar num patamar de ambição que nunca tivemos antes”, disse.
Produtividade e investimento abaixo da média da UE
Durante o evento, a Associação Business Roundtable (BRP), que representa 42 grandes empresas, apresentou dados comparativos de Portugal com a União Europeia e um grupo de países concorrentes (Itália, Espanha, Eslovénia, República Checa, Hungria, Estónia, Polónia e Grécia).
Um dos indicadores onde o país fica mal na fotografia é na produtividade. “O valor da produtividade por hora no nosso país não ultrapassou os 71% da média da UE, próximo do nível que registava em 2000”, destaca a BRP. Percentagem que fica longe dos 98% de Itália, 96% da Espanha ou dos 84% da Eslovénia.
Para a BRP, uma das razões que explica esta baixa produtividade é o peso muito reduzido das grandes empresas no tecido empresarial: 0,25%. Em Portugal, são responsáveis por 21,5% do emprego, enquanto na UE a chega a 36,4%.
A associação assinalou ainda que “Portugal tem uma das mais baixas taxas de investimento da UE, 19,4% do PIB em 2023, que compara com uma média europeia de 22,3%”. Face ao grupo de países concorrentes, só Espanha, Polónia e Grécia tem um investimento total mais baixo. No investimento público, tem mesmo o pior registo, com apenas 2,5% do PIB em 2023.
Outro fator apontado foi o tax wedge (a diferença entre o custo para as empresas com impostos e contribuições e o rendimento líquido recebido pelos trabalhadores), que em Portugal é de 42,3%, muito acima da média de 34,8% nos países da OCDE.
Segundo a BRP, se o tax wedge em Portugal fosse igual à média da OCDE, os trabalhadores em Portugal receberiam, em média, mais 2.200 euros por ano (157 euros por mês).
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