Momento para começar ajustamento orçamental é agora, defende Vítor Gaspar

  • Lusa
  • 14:36

Diretor do Departamento de Finanças Públicas do FMI alerta para riscos dos níveis elevados da dívida pública mundial e alerta que atraso no processo de ajustamento orçamental é arriscado.

O diretor do Departamento de Finanças Públicas do Fundo Monetário Internacional (FMI) defendeu esta quarta-feira, em entrevista à Lusa, que o momento para os países combaterem o crescimento da dívida pública através de um ajustamento orçamental “é agora“.

“A dívida pública a nível global é muito alta, está a crescer e tem associados riscos consideráveis, para este ano prevemos que chegue a 100 biliões de dólares e num caso de cenário adverso pode chegar aos 100% do PIB mundial até ao final da década“, disse Vítor Gaspar na entrevista à Lusa em Washington, no dia em que é apresentado o Fiscal Monitor, um relatório sobre as finanças públicas mundiais, no âmbito dos Encontros Anuais do FMI e do Banco Mundial, que decorrem esta semana na capital norte-americana.

O antigo ministro das Finanças de Portugal enfatizou que “os riscos associados a este crescimento da dívida são mais importantes do que podem parecer à primeira vista, e em quase todo o mundo o tempo de atuar para controlar a dívida e os riscos a ela associados é agora”, alertando que “um atraso no processo de ajustamento orçamental é custoso e é arriscado” devido à atual conjuntura.

As circunstâncias macroeconómicas “são favoráveis ao ajustamento neste momento porque as condições financeiras estão relativamente fáceis, os bancos centrais de economias importantes estão num ciclo de descida das taxas de juro diretoras e, portanto, há possibilidade de compensação dos efeitos do ajustamento orçamental sobre a atividade económica e o emprego por via da política monetária“.

Por conseguinte, “é difícil imaginar uma situação mais favorável para começar um processo de ajustamento“, concluiu Vítor Gaspar.

Questionado sobre quais as recomendações do Fundo para os países acautelarem o crescimento económico e o emprego em face da austeridade necessária para reduzir a dívida pública, Vítor Gaspar admitiu que o trabalho dos ministros das Finanças “é difícil”, mas salientou que é preciso proteger o investimento público.

É muito importante proteger o investimento público, dada a sua importância para o crescimento e a competitividade; este tipo de investimento é também pressionado para ser bem sucedido nas transições energéticas e para uma economia de informação e da digitalização, e também por esse lado temos pressões sobre a despesa pública”, acrescentou, admitindo que uma subida de impostos nunca é popular, além de estar pura e simplesmente impossibilitada nalguns países por decisão política.

A tributação nunca é popular e em muitos países há linhas vermelhas políticas ao acréscimo de tributação, isso é visível nos títulos dos jornais e nas aberturas dos noticiários em todo o mundo, mas a situação de hoje, em que a dívida é elevada, o crescimento é baixo, e existem pressões sobre a despesa e restrições sobre a receita, cria o risco de os défices acumularem-se, a dívida aumentar e isso cria problemas, dificuldades e desafios para a sustentabilidade da dívida e também riscos para a estabilidade monetária e financeira“, afirmou, lembrando que este “é o trilema de política orçamental que cristaliza as escolhas dos ministros das Finanças”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Momento para começar ajustamento orçamental é agora, defende Vítor Gaspar

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião