BCP na “Champions da banca”: quer dar três mil milhões aos acionistas até 2028

Miguel Maya quer ter acionistas "satisfeitos" com o BCP e pretende distribuir até 75% dos lucros de mais de quatro mil milhões de euros que projeta para os próximos quatro anos.

O BCP quer jogar na “Liga dos Campeões” da rentabilidade e promete entregar aos acionistas mais de três mil milhões de euros nos próximos quatro anos, através de dividendos e de recompras de ações.

O banco anunciou esta quarta-feira o novo plano estratégico para 2025-2028 com grande foco na geração de valor para os acionistas, algo que era largamente esperado pelo mercado. Como prometido, vai reforçar o payout (% de lucros para dividendos) dos 30% para os 50% já a partir do próximo ano, mas o banco vai dar mais dinheiro os investidores.

Em cima do dividendo, o BCP pretende aplicar até 25% dos lucros na recompra de ações, que estará dependente do cumprimento de objetivos do negócio em Portugal e nos mercados onde opera, incluindo manter um rácio de capital superior a 13,5%, e também da autorização do Banco Central Europeu (BCE).

“Depois de uma década em que os acionistas suportaram o banco, é tempo de retribuir a transformação do banco, mantendo sempre um banco muito robusto“, disse Miguel Maya na conferência de apresentação das contas. O banco chegou a setembro com lucros acima dos 700 milhões de euros, subindo quase 10% em termos homólogos.

“Ter acionistas satisfeitos é a melhor proteção”

Para o gestor, “ter acionistas satisfeitos é a melhor proteção” que um banco pode ter, isto depois de questionado sobre se o reforço da remuneração acionista visava manter a Fosun e Sonangol a bordo, dois acionistas de referência que já sinalizaram que podem abandonar da estrutura de capital do banco.

Miguel Maya sublinhou que não se trata de uma medida para “o acionista A ou acionista B”, mas sim para todos os 150 mil acionistas do banco, desde os grandes aos pequenos acionistas, e também potenciais investidores.

“Queremos ter uma relação com o mercado altamente positiva, que seja um título desejado para todos os portefólios de investimento”, afirmou.

Lucros de mil milhões ao ano

O banco projeta ter lucros de mil milhões de euros, ou mais, ao ano. Ou seja, no final de 2028, terá acumulado resultados entre quatro mil milhões e 4,5 mil milhões de euros, segundo as linhas gerais do plano estratégico. Contas feitas, na perspetiva de distribuir 75% dos resultados, os acionistas poderão receber cerca de três mil milhões de euros neste período.

Embora se perspetiva uma descida das taxas de juro, o BCP está a contar que o motor dos resultados continue a ser a margem financeira, que contribuirá com 3,1 mil milhões a 3,5 mil milhões de euros para os resultados acumulados. As comissões vão dar um contributo de cerca de mil milhões de euros.

Miguel Maya considerou que se trata de um plano ambicioso, mas como já demonstrou no passado e em circunstâncias de mercado mais desfavoráveis, “tem todas as condições para lançar o banco para um novo patamar”.

Campeão europeu? Sim, mas da rentabilidade

Esse novo patamar passa nomeadamente por alcançar um volume de negócios perto da marca dos 200 mil milhões de euros e mais de oito milhões de clientes. Do lado dos custos, pretende conter o rácio cost to income (relação entre proveitos e custos estruturais) abaixo dos 40% – atualmente está abaixo dos 35%.

O plano não fala em aquisições, apenas “crescimento orgânico”. Numa altura em que o BCE tenta promover uma agenda de “campeões europeus”, através de fusões ou aquisições de bancos na Europa como forma de concorrer com os gigantes americanos, Miguel Maya considera que a Champions do BCP não passa por ter “o maior estádio ou maior número de adeptos”.

“A Liga dos Campeões do BCP é a Liga dos Campeões da rentabilidade. É aí que nós queremos jogar. O nosso campeonato é para todos os investidores que querem ter um título com capacidade de geração de valor e que cria riqueza para o seu portefólio”, destacou.

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