Autoconsumo e biogás ajudam a reduzir emissões no agroalimentar
O setor agroalimentar é crucial na transição energética, sendo responsável por uma fatia importante das emissões globais. Apostar em fontes renováveis, como o biogás ou a biomassa, é uma das soluções.
O setor agroalimentar desempenha um papel crucial na transição energética global, representando 25% das emissões de gases com efeito de estufa. A adoção de fontes renováveis de energia, como a biomassa, a implementação de soluções de eficiência energética, a circularidade e a gestão criteriosa dos recursos, representam uma oportunidade significativa para tornar os processos produtivos mais sustentáveis.
Temas abordados na terceira edição do think tank “A inovação energética e a competitividade setorial”, uma iniciativa da Helexia Portugal, com a Deloitte, a PLMJ e o ECO.
Rita Ferreira Santos, Partner da Delloite Legal, sublinhou a importância do pacto Ecológico Europeu, lançado em dezembro de 2019 pela União Europeia. “Pretende-se, não só para o setor agroalimentar, mas de uma forma transversal, que haja uma mudança de paradigma relativamente ao crescimento económico e que este não seja baseado em economias lineares, mas numa transição justa e equitativa no sentido da descarbonização da economia e da sustentabilidade social, com preocupações relativamente aos temas humanitários e aos problemas da exploração de pessoas em determinadas áreas de atividade”, explica.
Um dos objetivos deste pacto é, através de medidas em distintos setores de atividade, colocar a Europa como o primeiro continente neutro climaticamente até 2050.
Para o setor agroalimentar, Rita Ferreira Santos destacou três pactos que devem ser implementados, como a estratégia Farm to Fork, o Plano de Ação para a Economia Circular e o Fit for 55. Incentivar a agricultura regenerativa biológica, a redução do uso de pesticidas nocivos para o ambiente, a reciclagem, a reutilização de embalagens e plásticos são algumas das medidas inseridas nestes pactos, que devem ser cumpridas para que se reduza a emissão de gases com efeito de estufa até 2030.
A relevância do agronegócio
Tomás Ribeiro, partner na PLMJ, considera que Portugal evoluiu bastante na forma como pratica agricultura. “Nem os mais otimistas antecipariam há 20 anos que o setor do agronegócio estaria no ponto em que está hoje”, refere.
O partner na PLMJ sublinha a relevância económica e social do setor, afirmando que representa cerca de 10% do PIB, ao incluir a indústria transformadora e os serviços relacionados. Além disso, “cerca de 10% da população ativa está empregada neste conjunto de atividades a que fiz referência e, portanto, não pode deixar de ser relevante”, acrescenta.
As exportações são outro indicador realçado por Tomás Ribeiro. “Estamos a falar de cerca de 5,5 mil milhões de euros em exportações de bens transacionáveis em vários setores com histórias, todas elas muito interessantes”, afirma.
Alguém tem dúvidas que um dos fatores que mais promove o turismo é a agricultura? Podemos falar de ecoturismo, ecoturismo, turismo rural… Estou a referir-me à capacidade que o agronegócio também tem de trazer turistas para Portugal.
Tomás Ribeiro sublinha ainda a relação estreita entre o agronegócio e o turismo. “Alguém tem dúvidas que um dos fatores que mais promove o turismo é a agricultura? Podemos falar de ecoturismo, ecoturismo, turismo rural… Estou a referir-me à capacidade que o agronegócio também tem de trazer turistas para Portugal”.
Pepsico vai transformar resíduos orgânicos em biogás
Este panorama de crescimento e impacto económico do agronegócio em Portugal é sustentado também pelas iniciativas de sustentabilidade implementadas por empresas do setor, como é o caso da PepsiCo. Com uma fábrica em Portugal, a empresa já iniciou a sua jornada para reduzir a pegada carbónica, demonstrando como o setor alimentar pode aliar competitividade económica e compromisso ambiental.
Nelson Sousa, diretor da fábrica da PepsiCo Portugal no Carregado, diz que a empresa já conta com 25% de autonomia relativamente à eletricidade. “Estes 25% de autonomia provêm de mais de 8.600 painéis fotovoltaicos que temos vindo a implementar desde então”, explica, acrescentando que os painéis são 100% autossuficientes durante o dia.
Ainda na energia, a PepsiCo anunciou em 2023 que iria implementar o primeiro biodigestor do sul da Europa. Este sistema permite transformar resíduos orgânicos gerados na fábrica — como cascas de batata, resíduos das operações de produção e lamas da estação de tratamento de águas residuais — em energia renovável. Através de um processo de ausência de oxigénio, esses resíduos são convertidos em biogás, que é posteriormente purificado e transformado em bioetanol. Esse bioetanol é, então, injetado na rede e utilizado como fonte de energia para diversas operações da fábrica, como fritura, secagem e aquecimento de água, tanto para processos industriais quanto para fins sanitários, como nos balneários.
Este projeto está previsto para entrar em funcionamento entre junho e julho do próximo ano, contribuindo para uma redução de 30% na pegada de carbono associada ao uso de gás.
Descarbonizar a energia térmica
Em resposta à questão sobre o que pode ser feito na indústria agroalimentar, Pedro Alves, Diretor Comercial da Helexia Portugal, começa por mencionar as duas grandes necessidades energéticas do setor: a eletricidade e a energia térmica, que na Europa é tradicionalmente fornecida através de gás natural.
Este tema foi destacado como central, dado que a indústria na União Europeia é responsável por cerca de 30% das emissões de gases com efeito de estufa, incluindo as emissões diretas e as relacionadas com o consumo de eletricidade, que ainda não é totalmente gerada a partir de fontes renováveis.
Embora já existam avanços significativos na eletrificação e descarbonização da geração de eletricidade e do transporte, a energia térmica continua a ser uma fonte significativa de emissões que as próprias indústrias podem controlar. Pedro Alves diz que estudos recentes mostram que, com a tecnologia disponível, é possível reduzir até 78% das emissões relacionadas com a energia térmica, substituindo o uso de gás por alternativas como caldeiras elétricas, bombas de calor e biomassa, desde que alimentadas por eletricidade de origem renovável.
“Usar a biomassa para gerar vapor é competitivo e não tem emissões”, refere o diretor comercial da Helexia.
Além disso, Pedro Alves chama atenção para o surgimento de novas tecnologias. “Estamos a começar a ver sistemas de armazenamento térmico que permitem ao cliente ter uma central fotovoltaica que gera eletricidade e que armazena energia térmica que pode ser utilizada durante a noite”, explica.
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