Macron tem de escolher um novo primeiro-ministro. Que nomes estão em cima da mesa?
O sucessor de Michel Barnier tem de conseguir aprovar um Orçamento para 2025 num Parlamento profundamente dividido. Bernard Cazeneuve, Sébastien Lecornu e François Bayrou são hipóteses.
Depois da aprovação de uma moção de censura que ditou a queda do seu Governo minoritário, Michel Barnier apresentou esta quinta-feira a demissão do cargo de primeiro-ministro de França. Isto significa que, pela sexta vez desde que chegou ao Palácio do Eliseu, em 2017, o Presidente Emmanuel Macron deverá nomear um novo líder do Executivo, que, perante a fragmentação política da Assembleia Nacional, corre o risco de ter um mandato ainda mais curto do que Barnier.
Macron demorou sete semanas a escolher um primeiro-ministro na sequência das legislativas antecipadas de julho. Agora, face à impossibilidade de dissolução do Parlamento francês e de agendar novas eleições até junho do próximo ano, fontes próximas do Chefe de Estado dizem que não há outra hipótese senão nomear o sucessor de Michel Barnier num espaço de 24 horas.
Segundo a Reuters, o Presidente francês pretende revelar a sua escolha até 8 de dezembro, dia da cerimónia oficial da inauguração da Catedral de Notre-Dame, onde vai receber, entre outras figuras, o Presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Para já, está confirmado que Emmanuel Macron vai falar ao país esta quinta-feira, numa declaração agendada para as 20 horas locais (menos uma hora em Portugal).
Não obstante, ainda antes da aprovação da moção de censura nesta quarta-feira, já circulavam nomes de potenciais candidatos ao cargo na imprensa francesa. Entre aliados do partido de Macron, um antigo primeiro-ministro socialista e atuais e antigos governantes, quais são, afinal, as hipóteses em cima da mesa?
Bernard Cazeneuve
Cazeneuve tem uma extensa carreira política. Foi autarca de Octeville, deputado da Assembleia Nacional pelo Partido Socialista em dois mandatos (1997-2002 e 2007-2012), secretário de Estado dos Assuntos Europeus e do Orçamento e ministro do Interior do Governo liderado por Manuel Valls antes de lhe suceder em 2016 durante breves cinco meses.
Esteve ligado ao Partido Socialista até 2022, ano em que se desfiliou por se opor à decisão do partido de aderir a um acordo de coligação eleitoral que incluía o França Insubmissa.
Não é a primeira vez que o nome do antigo primeiro-ministro durante a Presidência de François Hollande é apontado para chefiar, mais uma vez, o Governo francês. De acordo com a imprensa gaulesa, Bernard Cazeneuve reúne consenso entre boa parte dos aliados de Macron, que consideram que um Executivo seu seria mais estável do que o de Michel Barnier.
Alegadamente, Cazeneuve percorreu França durante o mês de novembro para reunir apoiantes – entre os quais se incluía François Bayrou. No entanto, as divisões à esquerda, nomeadamente no seio dos socialistas e do França Insubmissa, que se opuseram a uma eventual nomeação sua no verão, podem travar as suas ambições.
François Bayrou
Este antigo aliado de Macron, que, depois de ter concorrido às presidenciais de 2002, 2007 e 2012, decidiu apoiar o atual Presidente francês nas eleições de 2017, pode bem vir a ser o próximo inquilino do Hôtel Matignon. Segundo avança a RTL, o fundador e líder do Movimento Democrático (MoDem), de centro-direita, será recebido esta tarde no Palácio do Eliseu.
Precisamente em 2017, após a vitória de Macron, Bayrou foi nomeado ministro da Justiça. Mas, um mês depois, demitiu-se do cargo na sequência de uma investigação sobre o emprego alegadamente fraudulento de assistentes parlamentares do MoDem.
Antes, foi ministro da Educação entre 1993 e 1997, tendo sido também membro da Assembleia Nacional durante quase duas décadas e eurodeputado (1999-2002). Atualmente, é presidente da Câmara de Pau, uma comuna dos Pirenéus Atlânticos, desde 2014.
Sébastien Lecornu
Com 38 anos, Sébastien Lecornu é o mais novo dos nomes que estão a ser avançados pelos media para substituir Michel Barnier. No passado, esteve afiliado ao UMP, de inspiração gaullista, e aos Republicanos, mas, desde 2017, é membro do partido fundado por Macron, Renascimento.
Vindo da consultoria de comunicação e relações públicas, a carreira política de Lecornu começou a nível municipal, em 2014. Chegou a governante três anos mais tarde, quando foi nomeado Secretário de Estado do Ministro para a Transição Ecológica. Entretanto foi senador, ministro do Ultramar e ministro das Comunidades Territoriais, até ser escolhido para tutelar as Forças Armadas francesas, cargo que ocupa desde 2022.
Em declarações à rádio francesa RTL sobre a hipótese de ser nomeado o próximo residente do Hôtel Matignon, Lecornu limitou-se a dizer que “não é candidato a nada”, precisando que não abordou o assunto com o Emmanuel Macron durante a visita à Arábia Saudita nos últimos dias.
Ainda assim, comentou o estado da política interna para apelar à necessidade de se “estabelecerem compromissos” na Assembleia Nacional, de forma a evitar que o país fique muito tempo sem Governo e sem Orçamento. “Tudo deve ser feito para que os socialistas se distanciem do [partido de esquerda radical] França Insubmissa”, considera Lecornu.
Em causa está o facto de a líder dos deputados da França Insubmissa, Mathilde Panot, ter avisado que o seu partido iria “certamente” vetar qualquer primeiro-ministro indicado por Macron que não seja da aliança Nova Frente Popular (NFP), que reúne ecologistas, socialistas, comunistas e a esquerda radical.
François Baroin
De acordo com o jornal Le Parisien, o nome de François Baroin também é uma hipótese que “está a ser considerada muito seriamente” e o próprio “está muito interessado [no cargo de primeiro-ministro] e a fazê-lo saber”.
Baroin, de 59 anos, é dono de um sólido currículo na política francesa, desde deputado, senador e vice-presidente da Assembleia Nacional a ministro do Interior durante a Presidência de Jacques Chirac e porta-voz do Governo e ministro da Economia e das Finanças quando estava Nicolas Sarkozy no Palácio do Eliseu. Além disso, tem boas relações com o Partido Socialista.
Roland Lescure
O atual vice-presidente da Assembleia Nacional também tem sido mencionado como um possível candidato a substituto de Michel Barnier. Mas, embora vista as mesmas cores políticas que Macron, o discurso agressivo de Lescure contra a extrema-direita de Marine Le Pen – que ainda na segunda-feira descreveu como “Maquiavel com pés pequenos que brinca com o dinheiro dos franceses” – contraria o desejo do Presidente francês por “estabilidade política”.
Bruno Retailleau
O La Tribune Dimanche refere também a possibilidade remota de ser nomeado o atual ministro do Interior, que Macron considera “muito fiável e respeitador das instituições”. Bruno Retailleau, de 64 anos, foi deputado na Assembleia Nacional entre 1994 e 1997 e, sete anos mais tarde, chegou a senador – cargo que manteve até ir para o Governo de Barnier. É filiado do Partido Republicano desde 2015.
Governo tecnocrata
Para lá destas opções, nada impede Emmanuel Macron de voltar a nomear Michel Barnier como primeiro-ministro. Ou, por outro lado, pode optar por um Governo “tecnocrático”, que consiste na nomeação de ministros apartidários – uma solução frequentemente usada em Itália e que iria requerer o apoio dos diferentes partidos na Assembleia para aprovar decretos.
Mas, sem legitimidade nas urnas, é difícil manter a longo prazo um Executivo com esta configuração. E, face à polarização política no Parlamento francês, rapidamente se depararia com a dificuldade de aprovar um novo Orçamento para 2025.
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