Warren Buffett tem 190 mil milhões em caixa e não sabe onde os investir

  • ECO
  • 4 Maio 2024

A Berkshire Hathaway, a holding presidida por Warren Buffett, bateu um novo recorde de dinheiro em caixa, mas faltam oportunidades de investimento. Exposição à Apple foi cortada.

A Berkshire Hathaway, liderada pelo investidor Warren Buffett, registou um lucro de 12,7 mil milhões de dólares no primeiro trimestre, cerca de um terço do que tinha conseguido no mesmo período do ano passado. O que não impediu a holding de bater um recorde no dinheiro em caixa, que o CEO prevê que chegue aos 200 mil milhões de dólares até ao final de junho, face à falta de oportunidades de aquisição.

A área financeira, dominada pelo negócio segurador, teve receitas de 65.473 milhões, mais 3,2% do que no ano anterior. Já a área de energia, utilities e transporte ferroviário aumentou o volume de negócios em 11,2% para 24.396 milhões.

O resultado operacional atingiu um novo recorde trimestral, nos 11,2 mil milhões. A pilha de dinheiro em caixa na Berkshire Hathaway subiu para uns inéditos 189 mil milhões de dólares. Um dos motivos para esse aumento foi o significativo desinvestimento na Apple, com a participação na empresa liderada por Tim Cook a recuar 22%, o dobro da desvalorização registada pela tecnológica entre janeiro e março.

Na reunião anual da empresa em Omaha, conhecida como o “Woodstock dos capitalistas”, Buffett afirmou que “é seguro assumir” que o dinheiro em caixa irá atingir os 200 mil milhões até ao final do semestre.

Adoraríamos gastá-lo, mas não o gastaremos a menos que pensemos que estamos a fazer algo que apresenta muito pouco risco e que pode-nos render muito dinheiro, afirmou, citado pela Bloomberg. Disse mesmo que não saberia como aplicar o dinheiro que está em liquidez mesmo que as taxas de juro estivessem em 1% e não em 5,4%.

Sem oportunidades de aquisição de relevo, a Berkshire Hathaway gastou 2,6 mil milhões na recompra de ações nos primeiros três meses do ano, um montante recorde. Apesar de ter reduzido a exposição à Apple, Buffett afirmou que continuará a ser a maior posição financeira da holding, a menos que aconteça algo inesperado.

Com 93 anos, a idade do presidente, já afastado da gestão operacional, foi abordada com ironia por Buffett. “Sinto-me bem, mas sei um pouco de tabelas atuariais” ou “não devia aceitar contratos de trabalho de quatro anos”, foram algumas das tiradas, segundo a Reuters. O vice-presidente, Greg Abel, será o seu sucessor.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Trabalhistas vencem em Londres e reforçam ganhos nas autárquicas britânicas

  • Lusa
  • 4 Maio 2024

Khan recolheu 44% dos votos, contra 33% da candidata Conservadora, Susan Hall. É a primeira vez que um 'Mayor' de Londres é eleito para um terceiro mandato.

O presidente de Câmara Municipal de Londres, Sadiq Khan, foi hoje reeleito para um inédito terceiro mandato, coroando um bom desempenho do Partido Trabalhista nas eleições autárquicas de quinta-feira.

Os resultados oficiais anunciados esta tarde indicam que Khan recolheu 44% dos votos, contra 33% da candidata Conservadora, Susan Hall. Esta é a primeira vez que um ‘Mayor’ de Londres é eleito para um terceiro mandato.

Khan, que sucedeu a Boris Johnson em 2016, tem sido uma figura cada vez polémica nos últimos anos, com os críticos a queixarem-se do aumento da criminalidade, impostos sobre carros poluidores e permissão à realização de marchas pró-palestinianas quase todos os fins de semana.

Os apoiantes valorizam a expansão da construção de casas, refeições escolares gratuitas para crianças pequenas, custos dos transportes públicos comedidos e apoio aos grupos minoritários da cidade.

A vitória em Londres é mais um sinal positivo para o principal partido da oposição do Reino Unido pois, se os resultados das eleições autárquicas de quinta-feira se repetissem numa votação nacional, o Partido Trabalhista afastaria os Conservadores do poder pela primeira vez desde 2010.

O ‘Labour’ também viu reeleito os presidentes das Câmaras Municipais de Liverpool, Grande Manchester, East Midlands, West Yorkshire no sábado e aguarda os resultados em West Midlands, a área metropolitana de Birmigham, segunda maior cidade do Reino Unido.

Contabilizados os votos da maioria das 107 autarquias que foram a votos, o Partido Trabalhista elegeu 1.140 membros de assembleias municipais e de freguesias, mais 185 do que em 2021.

O Partido Conservador elegeu 513, menos 473, tendo sido ultrapassado pelos Liberais Democratas, que elegeram 521, mais 104 do que há quatro anos.

Apesar dos maus resultados, o primeiro-ministro, Rishi Sunak, reivindicou a reeleição do ‘mayor’ de Tees Valley, no nordeste de Inglaterra, como importante, enquanto espera que Andy Street se mantenha à frente da autoridade de West Midlands.

“Os resultados de quinta-feira mostraram que os eleitores estão frustrados”, reconheceu hoje, num texto publicado no jornal Daily Telegraph.

No entanto, alegou que o Partido Trabalhista comandado por Keir Starmer continua sem ganhar em muitas áreas, o que levou o líder da oposição a admitir problemas em áreas fortemente muçulmanas devido à posição pró-Israel relativamente à guerra em Gaza.

Sunak tem o poder de decidir a data das próximas eleições e indicou que será no segundo semestre de 2024, mas Starmer exortou-o a não esperar.

“Chegou a altura de virar a página do declínio do Partido Conservador e dar início a uma década de renovação nacional com o Partido Trabalhista”, escreveu na rede social Twitter.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Incêndio no Hospital de Ponta Delgada considerado extinto

  • Lusa
  • 4 Maio 2024

Incêndio terá começado num posto elétrico e colocou em causa fornecimento de energia e não causou vítimas. Foi considerado extinto às 16:11 locais, tendo provocado ferimentos ligeiros em 9 bombeiros.

O incêndio que deflagrou no Hospital de Ponta Delgada, nos Açores, foi declarado extinto às 16:11 locais (17:11 em Lisboa), tendo provocado ferimentos ligeiros em nove dos 104 bombeiros mobilizados, revelou este sábado a Proteção Civil. O fogo obrigou ao encerramento do Serviço de Urgência, Bloco de Partos e Bloco Operatório e à retirada de doentes da maior unidade de saúde dos Açores.

Às 16:11 demos o incêndio como extinto e iniciámos a fase de rescaldo. Lamentamos, ainda que sem grande significado, que nove bombeiros tenham sofrido ligeiros ferimentos, com queimaduras e intoxicação por força dos fumos”, avançou o responsável da Proteção Civil e Bombeiros dos Açores aos jornalistas no Hospital de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.

Rui Andrade destacou que o alerta foi dado pelas 9:15 locais (10:15 em Lisboa), tendo os meios sido “disponibilizados prontamente”. “Verificámos ao longo do dia que o incêndio, apesar de circunscrito, ganhou intensidade, o que fez com que chegássemos ao longo do dia com um acumulado de meios de 104 bombeiros, 18 carros vermelhos de combate a incêndios e 26 ambulâncias”, reforçou.

“Não há vítimas. De momento não há ninguém que corra qualquer perigo de vida”, disse a secretária regional da Saúde e Segurança Social, Mónica Seidi, em declarações aos jornalistas esta tarde, acrescentando que “a preocupação é garantir a segurança de todos os doentes” e “da população da ilha de São Miguel, cujo número está este fim de semana muito acima daquilo que é o habitual”, devido às festas do Santo Cristo.

Numa conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, a secretária regional explicou que o incêndio colocou em causa “o fornecimento de energia ao Hospital” e que “o fumo se propagou em diversas áreas” do Hospital do Divino Espírito Santo, na ilha de São Miguel.

A titular pela pasta da Saúde disse ainda que já foram transferidos os doentes que “estavam internados na unidade de cuidados intensivos neonatais e também nos adultos” e já foram “sinalizados doentes dos cuidados intermédios e dos cuidados paliativos para uma reposta mais diferenciada”.

Segundo explicou a governante, as autoridades entraram em contacto com a Unidade de Saúde da ilha de São Miguel que tem Centros de Saúde com capacidade de internamento e com o Hospital privado da CUF e com a clínica do Bom Jesus, na ilha de São Miguel, que “prontamente se disponibilizaram para ajudar”.

“Para garantir o acesso a cuidados de saúde à população de imediato acionamos as unidades básicas de urgência dos Centros Saúde que vão funcionar durante 24 horas, porque o serviço de urgência do Hospital de Ponta Delgada está de momento encerrado“, disse ainda Mónica Seidi.

Em caso de situações mais graves os doentes deverão ser encaminhadas para o Serviço de Urgência do Hospital privado da CUF, localizado na ilha de São Miguel, que está articulado com as equipas do Hospital de Ponta Delgada.

Quanto ao Bloco de Partos e Operatório, que estão também de momento encerrados, já foi definido, em articulação com a CUF, um plano para atender a urgências, por via do reforço de elementos do Hospital de Ponta Delgada.

“Há esta preocupação de garantir a segurança dos utentes e da população residente”, vincou a secretária regional, admitindo em caso de necessidade evacuar doentes para outras ilhas.

Mónica Seidi explicou que o incêndio “deverá ter começado num posto elétrico”.

“Quer o Serviço Regional de Proteção Civil, quer a EDA (Elétrica dos Açores) já estão no local e o Hospital tem geradores para tentar restituir a energia”, acrescentou.

A secretária regional revelou ainda que se prevê que “nos próximos quatro a cinco dias seja difícil restituir a energia normal do Hospital do Divino Espírito Santo”.

Por outro lado, os doentes do serviço de internamento do piso 1 que tem a seu cargo ortopedia, psiquiatria e pediatria “foram todos retirados” e “todas as consultas e cirurgias programadas terão de ser canceladas para já nestes primeiros dias”, segundo a secretária regional da Saúde.

(notícia atualizada às 19h47)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Iniciativa Liberal acusa PSD e PS de “ataque à democracia” por rejeitarem debates

  • Lusa
  • 4 Maio 2024

Rui Rocha considera que PS e PSD, ao rejeitarem o modelo de debates proposto pelos canais de televisão, estão "a tentar esconder os candidatos das outras forças políticas".

O presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, acusou hoje PSD e PS de infligirem “um ataque à democracia” por estarem a “tentar impedir” a realização de debates sobre as eleições europeias com todos os partidos.

“Soubemos ontem [sexta-feira] que o PSD e o PS estão a tentar impedir que se façam debates para as eleições europeias com a participação de todos os partidos. Eu diria que é um ataque à democracia“, criticou.

Rui Rocha, que falava aos jornalistas à margem de uma visita à feira agropecuária Ovibeja, disse que os dois partidos “não querem que os portugueses tenham o conhecimento necessário” sobre os candidatos e as propostas das restantes forças políticas.

Ninguém acredita que não se fazem os debates porque isso prejudica a campanha de rua“, salientou, contrapondo que “os debates são muito importantes, chegam a muitas centenas de milhares de pessoas e esclarecem os portugueses”.

Para o dirigente liberal, tanto o PS como o PSD, ao rejeitarem o modelo de debates proposto pelos canais de televisão, estão “a tentar esconder os candidatos das outras forças políticas”.

Já o Chega “certamente reclamará sobre esta questão, mas tem interesse em que o seu candidato fique escondido, porque tem simpatia pelo regime de Putin e pelo regime da Rússia”, acrescentou.

O semanário Expresso noticiou na sua página de Internet que PS e a Aliança Democrática (AD) rejeitaram o modelo de debates proposto pela RTP, SIC e TVI sobre as eleições europeias, inviabilizando 28 frente-a-frente entre os cabeças de lista dos partidos com assento parlamentar.

Segundo o Expresso, os dois partidos mostraram-se disponíveis para discutir uma solução alternativa.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Restaurantes têm 60 dias para deixar de vender para fora de copos de plástico de uso único

  • Lusa
  • 4 Maio 2024

Os estabelecimentos comerciais de bebidas e restaurantes de Lisboa têm dois meses para começar a aplicar regra. O não cumprimento desta prática pode ser punido com coima entre 150 a 1.500 euros.

Os estabelecimentos comerciais de bebidas e restaurantes de Lisboa vão dispor de 60 dias para começaram a aplicar as regras que proíbem a venda para fora de copos de plástico de utilização única, após o que arriscam ser multados.

A decisão de avançar com a concretização das regras e responsabilidades no que se refere à “limpeza diária das áreas confinantes dos estabelecimentos comerciais e respetivas zonas de influência, assim como a proibição de plásticos de utilização única ou descartáveis” consta de um despacho publicado a 2 de maio no Boletim Municipal da Câmara Municipal de Lisboa.

Em causa estão regras contempladas no Regulamento de Gestão de Resíduos, Limpeza e Higiene Urbana de Lisboa, com o referido despacho a determinar que sejam desencadeadas “com efeito imediato e por um período de 60 dias” pelos serviços da higiene urbana do município “ações de sensibilização junto dos estabelecimentos comerciais”, de forma a “reforçar a necessidade de cumprimento das disposições” constantes no referido regulamento.

O regulamento — cuja aplicação foi inicialmente alvo de adiamento devido à pandemia de covid-19, mas que se encontra em vigor — determina a proibição de “servir, para fora do estabelecimento, produtos provenientes da venda e consumo do mesmo, em plástico de utilização única ou descartável, nomeadamente copos”.

O não cumprimento desta prática pode ser punido com coima entre 150 a 1.500 euros, no caso de pessoas singulares, e entre 1.000 a 15.000 euros, no caso de pessoas coletivas, com o processamento destas contraordenações a caber à junta de freguesia territorialmente competente.

O mesmo regulamento prevê ainda novas regras para os estabelecimentos comerciais, nomeadamente de restauração e bebidas, “quanto à limpeza diária das suas áreas confinantes e respetiva zona de influência e ainda quanto à obrigatoriedade de colocação de cinzeiros e equipamentos para deposição de resíduos produzidos pelos seus clientes”, refere o despacho.

Apesar de as regras estarem em vigor, foi criada esta uma margem de tempo (60 dias) para os serviços sensibilizarem as empresas em causa para a necessidade de cumprirem o regulamento.

O despacho, assinado por Carlos Moedas, solicita ainda aos presidentes de todas as juntas de freguesia de Lisboa, que “exerçam as competências respetivas previstas” no regulamento em matéria de fiscalização e de contraordenações.

À Lusa, fonte oficial da Câmara de Lisboa adiantou que foi dado conhecimento deste despacho às juntas de freguesia, à Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) e ainda a empresas de distribuição.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Líder do PS rejeita estar a governar a partir da Assembleia. Grupos parlamentares não estão lá “só para assistir”

O secretário-geral do PS fez este sábado um balanço negativo da atuação do Governo nos primeiros 30 dias, acusando-o de "incapacidade política" e de criar "instabilidade".

“Em 30 dias não conseguiram tomar uma decisão de valor para o país”, afirmou este sábado o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, acusando o Governo de incapacidade política e de criar instabilidade. Rejeita também que os socialistas estejam a tentar governar a partir da Assembleia da República: “os grupos parlamentares não estão no Parlamento apenas para assistir e votar as medidas e as iniciativas do Governo”.

“Os primeiros 30 dias do Governo são muito preocupantes. Se tentar resumir a duas palavras só me ocorre ‘instabilidade’ e ‘incapacidade política’. Em 30 dias não conseguiram tomar uma decisão de valor para o país”, afirmou o líder socialista, após uma reunião da Comissão Nacional do partido, em Lisboa, em declarações aos jornalistas transmitidas pela RTP3.

Tivemos um fomento da instabilidade em alguns órgãos do Estado. Um pedido de exoneração, mas depois avisam que é crime se saírem”, disse, numa referência à demissão da administração da Santa Casa de Lisboa. “Criam-se condições para um diretor executivo do SNS sair e depois pede-se um plano para o verão”, acrescentou.

"Há um Governo de combate com tudo o que herdou, em vez de trazer esperança e estabilidade ao país. Só me consigo lembrar da mudança de logótipo.”

Pedro Nuno Santos

Secretário-geral do PS

“Há um Governo de combate com tudo o que herdou, em vez de trazer esperança e estabilidade ao país. Só me consigo mesmo lembrar da mudança de logótipo“, atirou. “Mesmo as reuniões com o setor público, todas as notícias que tem vindo a público não são boas sobra a capacidade deste Governo de promover compromissos e consensos”, disse, numa referências às negociações com professores, funcionários judiciais ou forças de segurança.

“Estamos a falar de um Governo que teve uma vitória curta, curtíssima, o que implica que procure compromissos, procure sobretudo dar esperança e estabilidade ao país. O Governo é neste momento o maior foco de instabilidade em Portugal, não é a oposição”, afirmou também.

PS não está a governar a partir do Parlamento

Os socialistas conseguir ver aprovada na quinta-feira a sua proposta de lei para acabar com as portagens nas ex-SCUT, a partir de 2025, com o apoio do resto da esquerda e do Chega. A medida não consta do programa do Governo.

Pedro Nuno Santos rejeitou que o PS esteja a governar a partir da Assembleia da República. “Os Grupos parlamentares não estão no Parlamento apenas para assistir e votar as medidas e as iniciativas do Governo. A Constituição da República Portuguesa consagra o direito aos grupos parlamentares de apresentarem projetos de lei“, argumentou.

"Não posso aceitar esse termo coligação negativa. Esse conceito tem de ser combatido. O PS não tem coligações com ninguém, nem negativas, nem positivas.”

Pedro Nuno Santos

Secretário-geral do PS

“O PS foi a eleições com um programa eleitoral. Os deputados do PS estão comprometidos com um programa eleitoral com que foram a votos, não com o programa eleitoral da AD”, aduziu. “Não é cá Governar a partir do parlamento. É o parlamento a fazer o seu trabalho“.

“No próximo ano comemoraremos 50 anos da Constituição da República. É muito importante que tenhamos consciência que a Assembleia Nacional já lá vai e que os grupos parlamentares têm existência própria e vão continuar a trabalhar”, insistiu.

O líder socialista criticou o uso do termo coligação negativa. “Não posso aceitar esse termo. Esse conceito tem de ser combatido. O PS não tem coligações com ninguém, nem negativas, nem positivas”.

Rejeitou que exista uma aproximação ao partido de André Ventura. “Falam em alianças do PS com o Chega, mas o PS não tem nenhuma aliança nem procurou nenhum acordo com o Chega. Aquilo que soubemos ontem pela voz do líder parlamentar do PSD é que procurou acordos. Quem procurou acordos com o Chega não foi o PS. Foi o PSD que procurou acordos para o IRS, procurou acordos para as portagens”. Sublinhou ainda que PS e Chega estão em “polos completamente opostos”.

“As campanhas não se fazem só nas televisões”

Pedro Nuno Santos abordou também a polémica sobre os debates, depois de PS e PSD terem recusado a proposta inicial das televisões, com frentes a frente entre todos os cabeças de lista.

As campanhas não se fazem só nos debates e nas televisões. Fazem-se no terreno, no território, com as pessoas”, afirmou, deixando, no entanto, a garantia de que “vai haver debates com todos os candidatos“.

"É muito importante que não limitemos e fechemos as campanhas nas televisões, como aconteceu nas legislativas, onde há um debate de 30 minutos e duas a três horas de comentários, que depois dão origem a candidatos para outras eleições.”

Pedro Nuno Santos

Secretário-geral do PS

“É muito importante que não limitemos e fechemos as campanhas nas televisões, como aconteceu nas legislativas, onde há um debate de 30 minutos e duas a três horas de comentários, que depois dão origem a candidatos para outras eleições”, disse, numa referência indireta ao cabeça de lista da Aliança Democrática, Sebastião Bugalho.

Questionado sobre o tema das reparações às ex-colónias, Pedro Nuno Santos considera que “já fomos ultrapassando esse tema. O nosso foco tem de ser na cooperação de Portugal com os países de língua portuguesa, com quem temos uma relação de amizade, relação histórica.”

Voltou a defender que a procuradora-geral da República seja ouvida no Parlamento, mas não “sobre casos em concreto”.

A Comissão Nacional do PS apreciou e votou a proposta de recomendação de datas para a realização das eleições das Comissões Políticas Concelhias, Secções e Estruturas Concelhias, do regulamento para a eleição dos presidentes das Federações e dos delegados aos Congressos Federativos, e a apreciação e votação do regulamento para as eleições dos presidentes das Comissões Políticas Concelhias das Estruturas Federativas.

(notícia atualizada às 15h40)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Catarina Martins atira a Sebastião Bugalho: “direita foi buscar candidato que nunca teve de defender ideias com contraditório”

  • Lusa
  • 4 Maio 2024

A cabeça de lista do BE às eleições europeias critica sociais-democratas e socialistas por recusarem debates frente a frente com todos os cabeças de lista.

A cabeça de lista do BE às eleições europeias, Catarina Martins, acusou hoje PS e PSD de quererem esconder os seus candidatos por terem rejeitado o modelo de debates proposto, e insistiu nos frente a frente.

“Soubemos ontem [sexta-feira] à noite que PSD e PS afinal não querem fazer debates entre cabeças de lista às europeias. Não deixo de registar que quem diz tantas vezes que é preciso combater a abstenção, quem diz tantas vezes que a política europeia é muito importante, quando chega ao momento de debater, acha melhor não debater“, afirmou.

Catarina Martins iniciou a sua intervenção no encontro “Segurança Social e pensões”, em Lisboa, abordando este tema, indicando que alterou a sua agenda para conseguir estar nos frente a frente e acusou PS e PSD de se quererem “esconder e esconder os seus cabeças de lista”.

A antiga líder do BE acusou estes dois partidos de terem apresentado “argumentos ridículos, como há 28 debates em 30 dias” e referiu que cada candidato “só tinha de fazer sete debates”, defendendo que “sete debates em 30 dias está seguramente à altura de qualquer pessoa que leva a eleições e democracia a sério”.

Já em declarações à Lusa e à RTP depois da abertura do encontro, a cabeça de lista do BE considerou que não haver debates “é absolutamente inaceitável” e que este formato permite “que as várias propostas estejam em confronto”.

“O Bloco Esquerda já aceitou a proposta de haver debates entre todos os cabeças de lista. Achamos é que tem mesmo de haver debates entre todos os cabeças de lista, frente a frente é que se trocam ideias”, defendeu Catarina Martins.

A cabeça de lista disse desconhecer a nova proposta, mas insistiu que deve haver “debates entre todas as candidaturas”.

Percebo que Sebastião Bugalho esteja mais habituado a dar notas aos debates dos outros do que a debater e a ter de mostrar as suas próprias ideias, que Marta Temido lhe faça o frete acho absolutamente inaceitável.

Catarina Marins

Cabeça de lista do BE às eleições europeias

Apontando que “não é a primeira vez que há frente a frente entre os vários cabeças de lista, porque quando não houve acordo entre todas as televisões, a RTP já fazia isso”, a candidata considerou que “a novidade será se não houver desta vez debates frente à frente entre os vários cabeças de lista”.

“Seria absolutamente inaceitável. Espero uma nova proposta, mas parece-me que a proposta que existia é a proposta possível e é proposta que cumpre com a democracia”, salientou.

“Percebo que Sebastião Bugalho esteja mais habituado a dar notas aos debates dos outros do que a debater e a ter de mostrar as suas próprias ideias, que Marta Temido lhe faça o frete acho absolutamente inaceitável”, criticou, sugerindo que talvez PS e PSD “prefirem até que não haja campanha para as europeias”.

Catarina Martins afirmou que “a direita foi buscar um candidato que é comentador, mas que na verdade nunca teve que estar a defender ideias com contraditório” e indicou que “defender ideias com contraditório é difícil, mas é assim mesmo que é a democracia”.

De acordo com o jornal Expresso, o PS e a Aliança Democrática (AD) recusaram o modelo de debates proposto pela RTP, TVI e SIC para as eleições europeias de 09 de junho, no qual estavam previstos 28 frente a frente entre os cabeças de lista dos partidos com representação na Assembleia da República.

Estas forças políticas alegaram tratar-se de um número elevado de duelos, que afetaria a campanha eleitoral, e admitiram aceitar um calendário mais leve.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Péter Magyar, a “superestrela” que ameaça Viktor Orbán nas Europeias

  • Lusa
  • 4 Maio 2024

Péter Magyar, líder do novo partido Respeito e Liberdade (TISZA), saltou para o segundo lugar nas sondagens para as eleições europeias.

A um mês das eleições europeias, em Budapeste inúmeros cartazes do partido no governo ecoam medos sobre migrantes, identidade de género e guerra, enquanto a ascensão de uma “superestrela” da oposição a Viktor Orbán ‘apaga’ os restantes partidos.

As eleições para o Parlamento Europeu estão marcadas para 09 de junho na Hungria (mesma data que em Portugal) e por estes dias já se veem em Budapeste grandes cartazes políticos com a imagem da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sentada numa poltrona juntamente com opositores de Orbán caracterizados como empregados de mesa, nos quais se lê “humildes servidores de Bruxelas” em questões como “migração, género e guerra”.

Da autoria do partido nacional-conservador Fidesz, que está no poder na Hungria há 14 anos, os cartazes juntam ‘rivais’ de Órban como o popular líder do novo partido Respeito e Liberdade (TISZA), Péter Magyar, o antigo primeiro-ministro socialista Ferenc Gyurcsany, a eurodeputada socialista Klára Dobrev e o presidente da Câmara de Budapeste eleito pelos Verdes Gergely Karácsony.

Mesmo que o Fidesz difunda a ideia de que a Hungria é “um país pró-família”, nomeadamente noutros cartazes colocados no aeroporto de Budapeste, certo é que, para o investigador Bulcsú Hunyadi do Instituto do Capital Político, a “imagem do governo de proteger as crianças foi afetada” com o recente escândalo relacionado com um indulto num caso de pedofilia.

“O governo utiliza os políticos da oposição e as organizações não-governamentais para alimentar a agenda anti-género e anti-LGBT, mas depois é o próprio a falhar”, compara Bulcsú Hunyadi, falando num contexto de “cereja no topo do bolo” para o surgimento de “uma superestrela”, Péter Magyar.

Bulcsú Hunyadi descreve a sua ascensão como uma “exceção na história política húngara recente, em que alguém consegue ter tanto apoio e mobilizar tantas pessoas num curto espaço de tempo”, principalmente alguém que “fazia parte dos círculos internos do regime”.

Numa altura em que se espera que o TISZA seja a segunda força mais votada, atrás do Fidesz, Péter Magyar diz em entrevista à Lusa que “as pessoas estão fartas desta elite política”.

“É por isso que eu e o meu partido somos tão populares e a popularidade está a crescer cada vez mais, porque as pessoas estão fartas destes tipos e gostariam de ter um sistema político completamente novo na Hungria“, afirma Péter Magyar.

Mas apesar de Péter Magyar ser um nome recente nestes cartazes, nenhum dos temas abordados causa estranheza a responsáveis associativos, incluindo ao coordenador do projeto Háttér (representativo de pessoas LGBT na Hungria), que quase conformado admite à Lusa em Budapeste que “o governo tem usado estes cartazes como um truque de comunicação para criar medos irreais e dizer que vão salvar a população”.

Para Vivien Vadasi, consultora jurídica da Associação Húngara para os Migrantes Menedék, estes grandes cartazes, que contrastam com os pequenos posters dos partidos da oposição, visam apenas criar “ruídos brancos” junto da população, que hoje em dia “já nem liga”.

Na ala conservadora húngara, este tipo de mensagens não são vistas como antidemocráticas, mas antes “uma abordagem soberanista” às “exigências da União Europeia”, diz o diretor executivo do Colégio Mathias Corvinus em Bruxelas, Frank Füredi.

Antigo comunista e hoje populista democrático, Frank Füredi argumenta que “as pessoas não pediram migração em massa ou integração da identidade de género na política”.

Também o secretário de Estado da Comunicação Internacional, Zoltán Kovács, diz em entrevista à Lusa apenas estarem em causa “regras que têm de ser seguidas” para migração regular, mudança de sexo só após os 18 anos e foco na paz em vez da guerra.

Esta não é a visão da investigadora Zsuzsanna Szelenyi, que começou a sua carreira como membro do partido Fidesz e o deixou quando Orbán assumiu a liderança. Falando à Lusa em Budapeste, a analista qualifica esta como uma “propaganda governamental muito desagradável” na qual são gastos “milhões de euros dos contribuintes” para garantir “o domínio” dos cartazes políticos, pagar a influenciadores pró-governo e limitar o acesso à oposição no espaço mediático.

Partidos da oposição ouvidos pela Lusa reconhecem que a popularidade de Péter Magyar está a causar a “luta pela sobrevivência” dos outros partidos, segundo diz à Lusa Gábor Harangozó, do socialista MSZP.

O eurodeputado e presidente do partido de centro-direita Jobbik, Márton Gyöngyösi, corrobora que “todos os partidos da oposição estão em dificuldades”.

Também Márton Tompos, vice-presidente do liberal Momentum, admite que Péter Magyar está a “levar metade dos [seus] eleitores” por ser “insanamente popular”, enquanto János Árgyelán, do partido de extrema-direita A Nossa Pátria, estima uma redução entre 2% a 3% dos seus eleitores para este “novo messias”.

Pelos Verdes LMP, Örs Tetlák fala num “sintoma da frustração e da desilusão de centenas de milhares de eleitores húngaros”, mas diz que Péter Magyar “não faz nem diz nada de novo” e é “um oportunista”.

Se Ágnes Vadai, do socialista DK, desvaloriza e fala numa “fenómeno temporário”, Marietta Le do satírico Partido Húngaro do Cão de Duas Caudas refere que o seu partido é mais dedicado à cidadania e não à ação popular.

Artigo de Ana Matos Neves, enviada da Agência Lusa

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

António Costa deixa “bicada” a mudança dos Assuntos Europeus para o MNE

O antigo primeiro-ministro defende o seu legado num artigo de opinião no Correio da Manhã, assinalando a convergência da economia com a média da UE após 2015.

António Costa voltou a escrever opinião para o Correio da Manhã e na estreia deixa uma crítica à mudança da pasta dos Assuntos Europeus para o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) pelo Governo de Luís Montenegro. Assinala também a convergência da economia portuguesa com a média da UE durante o seu tempo como primeiro-ministro.

“Os Assuntos Europeus até voltaram ao MNE, como se fossem ‘negócios estrangeiros’…”, escrever António Costa no artigo, onde assinala que Portugal faz parte do processo de decisão europeu. “Diz-se que se ‘vem da Europa’, como se Portugal não fosse Europa, ou “Bruxelas decidiu”, como se não participássemos na decisão”, escreve. “A generalidade da legislação europeia tem de ser sempre votada pelo governo que nos representa e pelos eurodeputados que elegemos”, acrescenta.

No último Executivo de António Costa os Assuntos Europeus estavam diretamente sob o primeiro-ministro. A pasta era liderada pelo secretário de Estado Tiago Antunes. Nos dois primeiros, a área esteve debaixo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com a secretária de Estado Ana Paula Zacarias.

O ex-primeiro-ministro sublinha ainda o crescimento mais rápido do PIB após 2015, durante os seus mandatos, que permitiu convergir com a média europeia.

A média de crescimento nos últimos 8 anos foi dez vezes superior e, com a exceção de 2020, o mais dramático ano da pandemia, a economia portuguesa cresceu sempre acima dos 2% e todos anos convergiu com a UE, ou seja, todos os anos cresceu acima da média europeia”, escreve.

“A verdade é que nestes 8 anos a economia portuguesa reduziu a sua distância em relação à Alemanha, à França ou à Espanha, e, vale a pena acrescentar, ao contrário do que foi propalado, em 2023 Portugal destacou-se da Roménia e recuperou a sua posição face à Polónia e à Hungria“, acrescenta.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Financiamento da Segurança Social não deve ser feito pelo trabalho, defende economista Luís Cabral

  • Lusa
  • 4 Maio 2024

Luís Cabral, professor de Economia na Universidade de Nova Iorque, aponta como alternativa uma combinação de IVA, imposto sobre heranças e sobre propriedades e a tributação sobre empresas.

O economista Luís Cabral defende que o financiamento da Segurança Social não tem necessariamente de ser feito pelo trabalho, propondo como alternativas uma combinação de IVA, imposto sobre heranças e sobre propriedades e a tributação sobre empresas.

Em entrevista à Lusa, o professor de Economia na Universidade de Nova Iorque (NYU) e colaborador na AESE Business School afirmou que “não há nenhum motivo de teoria económica ou na análise económica que diga que o financiamento da Segurança Social tem de ser feito, ou deve ser feito, através da relação laboral”.

A reforma, por exemplo, ou a segurança das pessoas, a rede de solidariedade social, não pode e não deve estar dependente de uma relação laboral estável. Até porque, neste século, será cada vez mais o caso em que o emprego é uma relação menos estável do que foi durante o século XX”, aponta.

Neste sentido, considera que o Ministério do Trabalho e o da Segurança Social deveriam ser separados, passando a ser autónomos.

Luís Cabral, que esteve em Portugal para apresentar a sessão “Por que motivo não cresce a economia portuguesa?”, no âmbito da primeira edição de 2024 do Observatório de Economia & Finanças da AESE Business School, admite à Lusa que estas medidas obrigariam a fontes alternativas de financiamento para a Segurança Social.

Temos de ir buscar o dinheiro a algum sítio, não é? Diria a outras partes da economia. Pode ser uma combinação de IVA, de imposto de heranças, de imposto sobre propriedades.

Luís Cabral

Professor de Economia na Universidade de Nova Iorque (NYU)

“Temos de ir buscar o dinheiro a algum sítio, não é? Diria a outras partes da economia. Pode ser uma combinação de IVA, de imposto de heranças, de imposto sobre propriedades. Ou, mesmo a nível empresarial, não quero pôr as empresas ainda com maiores dificuldades, mas estudaria seriamente a possibilidade de ter uma reforma neutra para as empresas, isto é, em que diminuiria muito a tributação do trabalho”, exemplifica.

O economista salienta que a contribuição da Segurança Social, em boa parte, é também uma contribuição da empresa, pelo que a alternativa seria “fazer uma reforma em que compensasse esse alívio para a empresa de tributação do trabalho, com um aumento da tributação do rendimento da empresa”.

Quais são os motivos por que nós tributamos tanto o trabalho? São dois. Primeiro, é fácil. A retenção na fonte é uma das invenções mais geniais do século XX. Por aquilo que faz, simplifica imenso. Não precisamos de ter fiscais a cobrar. De facto, é muito atrativo. E, em segundo lugar, o trabalho não foge”, argumenta.

Luís Cabral considera “um pouco triste, por assim dizer, que o desenho do sistema fiscal esteja muito baseado na facilidade de tributação”. “É um fator importante, mas não pode ser o fator mais importante”, argumenta.

Ainda assim admite que a ideia levanta desafios, entre os quais, o aumento da tributação sobre os lucros das empresas, estas poderem levar as sedes para outros países, pelo que a solução passaria, diz, por “um processo não só nacional, mas multinacional”.

“Já demos um passo importante com a criação ou o acordo de uma taxa mínima de IRC de 15%. Esta taxa mínima deveria ser superior e o mesmo se diga em relação a outras dimensões do imposto. Isto é, um dos objetivos da União Europeia, deste consenso político que corresponde à União Europeia, deveria ser evitar países fiscais, tipo a Irlanda”, refere.

“Acordo de princípio” entre PS e PSD

Para Luís Cabral, há alguns entraves ao crescimento da economia portuguesa “em que seria possível chegar a um acordo de princípio” entre os dois maiores partidos com representação parlamentar.

“Por ser um governo minoritário, seria bom que este Governo tivesse essa mentalidade. Muitas destas reformas não podem ser umas reformas de governo, têm de ser umas reformas de regime”, disse.

Segundo Luís Cabral, este acordo “poderia ter uma natureza ou de acordo político ou até de algo com reflexo legal entre o Partido Social-Democrata (PSD) e o Partido Socialista (PS)” com o objetivo de “criar uma certa estabilidade para atacar diretamente” os “problemas que têm entravado o crescimento da economia”.

[O arrendamento] é um mercado que funciona muito mal. Porque é que funciona muito mal? Porque a cada dois anos, cada novo governo, as coisas vão mudando um bocadinho. Se é um governo mais socialista, fica mais favorável ao inquilino. Se é um governo mais PSD, fica mais favorável ao senhorio.

Luís Cabral

Professor de Economia na Universidade de Nova Iorque (NYU)

O colaborador na AESE Business School defendeu a criação de uma agência independente de avaliação de legislação e o mercado de habitação em Portugal, cujo principal problema considera ser o arrendamento. “É um mercado que funciona muito mal. Porque é que funciona muito mal? Porque a cada dois anos, cada novo governo, as coisas vão mudando um bocadinho. Se é um governo mais socialista, fica mais favorável ao inquilino. Se é um governo mais PSD, fica mais favorável ao senhorio. As coisas vão mudando um bocadinho ao longo desta dimensão”, apontou.

Na prática, criou-se durante as últimas décadas um clima de instabilidade jurídica, que é prejudicial, indica.

Questionado sobre as perspetivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Governo, o economista considera que “não são objetivos, são esperanças”. “Se estamos a falar de uma questão de previsões, francamente, a resposta é que não sei. Acho que as pessoas dizem que sabem, de facto, não sabem, porque previsões a nível macroeconómico são muito difíceis, e, especialmente a um prazo tão grande como um ano”, considera.

Excesso de regulação e falta de eficiência do sistema de Justiça são bloqueios ao crescimento

O economista considera que a falta de eficiência do sistema de Justiça e de ambição são dos principais bloqueios ao crescimento da economia portuguesa.

Um fator importante é o excesso de regulação e regulamentação de alguns setores de atividade. Diria que a construção é um bom exemplo. É um caso, um setor em que, por motivo de regulamentação europeia, regulamentação nacional, a nível municipal, a nível nacional, se criou todo um conjunto de regras que tornam o custo de construção não só muito arriscado, mas também muito custoso. Toda a parte da burocracia, de licenciamentos, de planos de impacto, etc., realmente, penso que esta terá sido a década em que menos se construiu, talvez, do último século”, aponta.

“Requisitos mínimos das habitações, por exemplo, ou planos de construção regionais e municipais, tudo isso são coisas boas em si, com efeitos diretos bons, mas parece-me que nem sempre são vistas como um conjunto, nomeadamente estimando o impacto que isso pode ter, neste caso, na oferta de habitação”, argumenta.

Para o economista, mais do que a simplificação da legislação, o foco deve ser “no próprio processo de criação da legislação”. Neste sentido, defende uma “avaliação da legislação, quer ex-ante, quer ex-post”, de forma a verificar aquando da criação de uma lei não somente do efeito direto que vai ter de acordo com os seus objetivos, mas também quais os custos de oportunidade que a legislação poderá implicar ao nível de atividade económica.

“Esse exercício, que é muito importante, não tem sido feito. Isto nem é culpa de nenhum governo em concreto, é culpa de todos os governos que temos tido em Portugal nas últimas décadas. Muitas vezes, são feitas simplificações de processos burocráticos que são mais pensos rápidos do que reformas estruturais”, considera.

Luís Cabral aponta ainda como entrave ao crescimento da economia o sistema da justiça civil, considerando haver espaço para o aumento de eficiência.

Por outro lado, advoga que “pode parecer um bocadinho estranho, mas para diminuir o efeito negativo da burocracia, pode ter de aumentar-se um bocadinho a burocracia”.

“Isto é levar a sério esta ideia de ter uma agência governamental independente, portanto, não governamental, mas, no fim, estadual, independente, de avaliação do custo da legislação. Eu gosto de sempre dizer: ‘se eu agora fosse nomeado ministro das portas e janelas, a primeira coisa que ia fazer é criar medidas mínimas para portas e janelas’”, exemplifica.

Muitas vezes existe um recurso de uma economia que tem um efeito direto muito positivo, mas pode ter um efeito indireto negativo, isto é, absorve ou dirige tanto os recursos da economia em desfavorecimento de outras partes da economia.

Luís Cabral

Professor de Economia na Universidade de Nova Iorque (NYU)

O economista destaca ainda que a produtividade da economia portuguesa “em média é baixa”, existindo grandes variações entre setores.

“Diria que reflete mais um fator, na minha opinião, de abrandamento do crescimento da economia portuguesa, que é o que alguns economistas referem como a maldição dos recursos, em que muitas vezes existe um recurso de uma economia que tem um efeito direto muito positivo, mas pode ter um efeito indireto negativo, isto é, absorve ou dirige tanto os recursos da economia em desfavorecimento de outras partes da economia”, indica.

Para o economista, um dos exemplos é o setor do turismo em Portugal, para o qual defende que exista uma aposta, mas tem implicações.

“É uma solução relativamente fácil abrir um restaurante, abrir um hotel. É um modelo de negócio que está bem determinado e que rende. O problema é que são investimentos que geram valores para os investidores, mas que não gerem um valor muito grande adicional para a economia”, considera.

Artigo de Ânia Ataíde, da agência Lusa

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Projeção coloca PPE à frente e confirma subida de populistas nas Europeias

  • Lusa
  • 4 Maio 2024

Projeção da Europe Elects dá 22,9% dos votos ao bloco de centro-direita, que integra o PSD, e 18,3% ao grupo Socialistas e Democratas, que inclui o PS. O bloco onde está o Chega surge em quinto.

Uma projeção da Europe Elects sobre as eleições europeias, que decorrem dentro de um mês, dá a vitória ao Partido Popular Europeu (PPE) e confirma a subida de nacionalistas e populistas.

O bloco de centro-direita, que integra PSD e CDS-PP, continuaria com a atual liderança, com 22,9% dos votos, enquanto o grupo Socialistas e Democratas (S&D), que inclui os eleitos do PS, manteria os 140 assentos, com 18,3%.

O terceiro lugar é disputado pelo grupo Renovar a Europa (RE, liberais, inclui a Iniciativa Liberal) e pelos Conservadores e Reformistas (ECR, nacionalistas conservadores), com a projeção a atribuir 86 lugares a cada bancada.

Com este resultado (11,8%), os liberais perderiam 16 lugares (102 agora), enquanto o ECR, com 11,2%, ganharia 18 eurodeputados (face aos atuais 68).

O Renovar a Europa teve o seu melhor resultado nas eleições de 2019, impulsionado pelo “grande entusiasmo em torno dos partidos políticos que imitavam o movimento [do Presidente francês, Emmanuel] Macron”, mas que entretanto arrefeceu, até porque, recordou à Lusa Tobias Schminke, do Europe Elects, “estar no governo durante uma crise de custo de vida é difícil e os liberais tendem a estar mais tempo no governo do que, por exemplo, a direita radical”.

Os liberais franceses deverão reduzir a presença no Parlamento Europeu de 23 para 17 lugares, os alemães do Partido Democrático Liberal (FDP) podem perder dois eurodeputados, enquanto se assistirá ao “colapso” do Ciudadanos espanhol, “um partido que se dividiu sobre a questão de saber até que ponto é aceitável a cooperação governamental com a direita radical”.

Muito perto, o Identidade e Democracia (ID, que integra partidos de extrema-direita, e inclui o Chega), teria 9,9% dos votos, conquistando mais 25 eurodeputados, para um total de 84 lugares.

As projeções deste organismo que analisa dados eleitorais, elaboradas no final de abril para o jornal online Euractiv, mostram no entanto que a ID já teve resultados melhores: entre dezembro e finais de fevereiro, estimativas apontavam para 93 eleitos.

Um dos principais motores para esta diminuição, justificou à Lusa Tobias Schminke, é o declínio do apoio ao alemão Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita), após fortes protestos contra um encontro, com a participação de membros do partido, em que foi discutido um plano de deportação em massa de imigrantes.

Os Verdes (de que faz parte o deputado independente Francisco Guerreiro, eleito em 2019 pelo PAN) teriam a maior perda: com 7,7%, elegeriam 48 representantes, menos 24.

O grupo da Esquerda (em que estão integrados Bloco de Esquerda e PCP) teria 6,3% e 44 eleitos, mais sete que agora. Já os não inscritos (NI) teriam 6,6% e 48 assentos (menos um).

PS à frente em Portugal. Chega pode conseguir quatro eurodeputados

Em Portugal, a projeção da EuropeElects dá a vitória ao PS (31% dos votos), elegendo oito eurodeputados, menos um que atualmente, contra seis da Aliança Democrática (25% e seis eleitos – atualmente, PSD tem seis e CDS um).

Com 18%, o Chega entraria pela primeira vez para o Parlamento Europeu, com quatro eleitos, enquanto a Iniciativa Liberal (IL) também se estrearia, com 6% e um eurodeputado.

Com 6% e 4% dos votos, respetivamente, Bloco de Esquerda e PCP reduziriam dos atuais dois para um deputado, cada um. O Livre obteria 4% dos votos, mas sem conseguir eleger, tal como o PAN, com 2%.

As eleições para o Parlamento Europeu decorrem entre 06 e 09 de junho, estando marcadas em Portugal para o dia 09.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Ursula von der Leyen contra sete na corrida a Bruxelas. Conheça os candidatos à presidência da Comissão Europeia

A recondução de von der Leyen parecia garantida mas a crescente oposição interna e as dúvidas em relação ao sistema de Spitzenkandidat levantam incerteza. Na corrida estão mais sete. Saiba quem são.

A reeleição de Ursula von der Leyen para o cargo de Presidente da Comissão Europeia parecia garantida, mas a poucos meses de uma expectável renovação do mandato, esse cenário já não é tão certo. Dentro da própria família política de von der Leyen, o Partido Popular Europeu (PPE), correm rumores de que Emmanuel Macron, presidente da França — que integra a família política liberal — estará em conversações com os outros líderes da União Europeia para apoiar um candidato único e alternativo para o cargo Presidente da Comissão Europeia. Mario Draghi é um dos nomes falados.

Em 2019, Ursula von der Leyen foi inesperadamente proposta pelo Conselho Europeu e aprovada em unanimidade pelo Parlamento Europeu para o cargo de presidente da Comissão Europeia, sem ter feito campanha. O nome da alemã não constava em nenhuma das listas propostas pelos grupos políticos europeus da altura — ao contrário de Manfred Weber, nome originalmente proposto pelo PPE e que reunia consenso entre os eurodeputados — anulando, por completo, a lógica do Spitzenkandidat.

Este termo alemão refere-se ao método de vincular a escolha do Presidente da Comissão ao resultado das eleições para o Parlamento Europeu, fazendo com que cada grande partido político europeu nomeie o seu candidato para presidir a Comissão antes das eleições parlamentares, ao invés do que acontece outras vezes, que é o Conselho Europeu a propor o presidente da Comissão e só depois o Parlamento Europeu aprovar a escolha. Embora von der Leyen já se tenha apresentado como a candidata pelo PPE na corrida à Comissão Europeia, não se exclui que o que aconteceu em 2019 possa vir a repetir-se este ano.

Ursula von der Leyen tem grande hipóteses de ser reeleita, mas se o nome não reunir consenso no Conselho Europeu, arriscamo-nos a um nome surpresa, como o de Mário Draghi. Isso não se exclui“, refere ao ECO. José Filipe Pinto, politólogo e professor catedrático de Relações Internacionais pela Universidade Lusófona.

Mas além da possível oposição interna — e do risco de os socialistas retirarem o apoio depois de von der Leyen admitir negociar com a extrema-direita — a atual presidente do executivo comunitário terá que defrontar mais sete candidatos dos restantes grupos partidários. O único partido que não deverá colocar um nome na corrida será o Partido Europeu dos Conservadores e Reformistas (ECR) que rejeitou fazê-lo por considerar o processo de candidato partidário como “inútil”, depois do sucedido em 2019.

Candidatos ao de Presidente da Comissão Europeia no primeiro debate político, esta segunda-feira, 29 de abril, em Maastricht. (Da esquerda para a direita) Valeriu Ghiletchi (MPCE – Movimento Político Cristão Europeu), Walter Baier (Partido da Esquerda Europeia), Marie-Agnes Strack-Zimmermann (Partido da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa), Nicolas Schmit (Partido dos Sociais & Democratas Europeus), Ursula von der Leyen (Partido Popular Europeu), Bas Eickhout (Partido Verde Europeu), Maylis Rossberg (Aliança Livre Europeia) e Anders Vistisen (Partido da Identidade e da Democracia).EPA/MARCEL VAN HOORN

Nicolas Schmit, PSE

Nicolas Schmit, Comissário Europeu para o Emprego e Direitos Sociais
Nicolas SchmitLukasz Kobus/EC - Audiovisual Service

O comissário europeu luxemburguês foi eleito o Spitzenkandidat da segunda maior família política do Parlamento Europeu, os Sociais e Democratas (S&D) no Congresso Eleitoral do Partido Socialista Europeu, este ano. O economista de 70 anos, pai de quatro filhos, teve uma breve carreira diplomática antes de ingressar na política. Em 1979, começou como adido no gabinete do primeiro-ministro da altura e mais tarde continuou essas funções no Ministério dos Negócios Estrangeiros. No final da década de 1990, foi apontado como embaixador representante permanente do Luxemburgo junto da União Europeia, cargo onde permaneceu durante cerca de sete anos.

Depois, foi ministro dos Negócios Estrangeiros no Governo luxemburguês entre 2004 e 2009 e, nesse ano, assumiu a pasta do Trabalho, Emprego e Imigração, numa altura em que a crise financeira atingia o grão-ducado, com a comunidade portuguesa no país a representar quase um terço dos desempregados.

Após cinco anos a gerir a pasta do Emprego e dos Direitos Sociais, os socialistas e democratas, apoiados pelos dois partidos mais poderosos do S&D — o alemão SPD e o espanhol PSOE — entenderam que Nicolas Schmit era o candidato mais indicado para a presidência da Comissão Europeia.

Precisamos de ser ambiciosos na industria, na defesa, no combate à alterações climáticas e pobreza, e no garante da justiça social. Defendemos um estado social forte na União Europeia, mas é preciso investimento. Precisamos de dar um sentimento de segurança, sobretudo à geração mais nova. Os S&D sempre lutaram por isso.

Nicholas Schmit, candidato pelos Sociais & Democratas à presidência da Comissão Europeia

“Não há dúvidas de que tem um currículo muito grande no que diz respeito às matérias ligadas ao trabalho, sobretudo, jovem. É um bom candidato, mas deverá ficar em segundo lugar na corrida“, prevê o politólogo, argumentando que, pela União Europeia fora, os partidos socialistas “já não dominam o panorama político europeu”.

“Em Portugal, o PS perdeu as eleições, em Espanha, o PSOE chegou ao poder em coligação, na Alemanha os socialistas estão no poder mas há uma forte contestação”, enumera José Filipe Pinto. “Nicholas Schmit é um bom candidato e está por dentro dos problemas da União Europeia, mas não me parece que disponha de capacidade para ser eleito“, termina

Marie-Agnes Strack-Zimmermann, Renovar a Europa

Marie Agnes Strack-ZimmermannMaastrich Debate

Conhecida na Alemanha pelo seu estilo franco e sem rodeios, Strack-Zimmermann quer trocar o Bundestag, em Berlim, onde preside à comissão de Defesa, pela Comissão Europeia, em Bruxelas.

Membro do Partido Democrata Livre (FDP) da Alemanha, que integra a coligação governamental tripartida, liderada pelo chanceler Olaf Scholz, a deputada de 66 anos tem sido uma voz ativa na defesa do apoio militar à Ucrânia, urgindo a necessidade de apoiar Kiev com mais munições e armas de longo alcance face à Rússia.

É importante que trabalhemos juntos porque se a Ucrânia perder a guerra vai ser diferente para a Europa agora, do que foi no passado. É importante termos uma defesa militar conjunta, uma vez que podemos não contar com a ajuda dos EUA, no futuro.

Marie-Agnes Strack-Zimmermann

Embora tenha pouca experiência política, o facto de assumir a defesa e a segurança como as suas principais bandeiras nesta corrida à presidência da Comissão Europeia tornam-na num player imprevisível. Isso, e o facto de ser uma candidata apoiada pelos liberais, o Renovar a Europa, grupo político que tem aumentado a sua representação no Parlamento Europeu, de forma sustentada, desde 2019. Neste momento, é a terceira força política, em Bruxelas.

“É uma mulher com um peso político muito grande no que diz respeito à Alemanha e desempenha um papel muito importante nesta altura por ter conhecimentos profundos num dossiê que a União Europeia se debate atualmente: a defesa”, analisa José Filipe Pinto, antecipando que a candidata ocupe o “terceiro lugar” na hierarquia de candidatos à Comissão Europeia.

Atualmente, o Renovar Europa conta com 102 eurodeputados no Parlmento, nenhum deles é português. A Iniciativa Liberal, que concorre pela primeira vez às eleições europeias, deverá integrar esta família política.

Anders Vistisen, Identidade e Democracia

Anders Vistisen, Identidade e DemocraciaMaastrich Debate

O candidato de 37 anos, natural da Dinamarca, é a cara do Identidade e Democracia (ID), grupo parlamentar que reúne os partidos populistas identitários de extrema-direita, na corrida à presidência da Comissão Europeia. Mas nem sempre pertenceu a este clã.

Em 2014, foi eleito deputado ao Parlamento Europeu pela Dinamarca como representante dos partidos dos Conservadores e Reformistas Europeus, na altura, com 26 anos, o eurodeputado mais novo da legislatura. Mas nas eleições europeias seguintes, em 2019, o Partido Popular Dinamarquês perdeu mais de metade dos seus votos e, consequentemente, ficou sem dois dos seus três lugares. Um deles, o de Vistisen. Mas a 22 de novembro de 2022, voltou ao hemiciclo, desta vez, como eurodeputado pelo grupo político ID, tornando-se num dos seus fundadores.

O seu principal objetivo no Parlamento Europeu tem sido o de pôr termo à imigração ilegal, ao alargamento da União Europeia e ao combate à corrupção.

A Europa tornou-se num pântano. A presidência da Comissão Europeia foi um desastre. Assistimos a milhares de imigrantes a entrarem na UE, escândalos sucessivos. Nenhum europeu elegeu von der Leyen da primeira vez e ninguém a vai escolher agora.

Anders Vistisen, Identidade e Democracia

Numa altura em que os partidos integrantes desta família política — nomeadamente, o Chega — crescem por toda a Europa, a escolha de Vistisen surge como surpresa.Não tem peso político“, avalia José Filipe Pinto, acrescentando que a poucos dias da eleições europeias, que decorrem entre 6 a 9 de junho, estuda-se a possibilidade se formar uma quarta força política no Parlamento Europeia, uma internacional populista cultural identitária.

“Se for possível [esta formação], então, não se percebe a escolha de Anders quando se poderia recorrer a um partido com maior visibilidade para apresentar um candidato, como França (Reagrupamento Nacional), Espanha (Vox), Itália (Irmãos de Itália) — que está no poder — , Alemanha (Alternativa para a Alemanha) ou os Países Baixos (Partido da Liberdade). Se juntarmos estes partidos ao Fidesz, de Viktor Orbán ou o Lei e Justiça da Polónia [do ERC], torna-se difícil de perceber a razão para chamar Anders”, explica o politólogo. “Ou não vamos ter uma aliança, ou houve dificuldade em chegar a consenso sobre o candidato“, remata.

Atualmente, o ID conta com 59 eurodeputados no Parlamento, nenhum deles é português. No entanto, o Chega, de André Ventura, que se prepara para estrear nas próximas eleições, já anunciou que pretende integrar esta família política.

Bas Eickhout, os Verdes

Bas Eickhout, os Verdes© European Union 2023

 

É um dos eurodeputados mais ativos no grupo dos Verdes e um dos maiores defensores do Pacto Ecológico Europeu. Natural dos Países Baixos, o cientista virado político é eurodeputado há três mandatos consecutivos e um dos candidatos mais novos (47 anos), e menos experientes politicamente, na corrida ao cargo de topo, em Bruxelas.

A maior experiência deste candidato resulta do seu trabalho científico. Formado em Química e Ciências do Ambiente na Universidade de Radboud, em Nijmegen, Eickhout trabalhou como investigador nos Países Baixos em vários projetos relacionados o clima, tendo sido coautor do relatório do relatório histórico do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) sobre o agravamento das alterações climáticas, que recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2007.

A emergência climática e o aumento das desigualdades são dois dos nossos principais desafios e as nossas prioridades. Queremos investir numa economia verde, em mais habitação, melhores serviços públicos.

Bas Eickhout, os Verdes

Desde então, decidiu aplicar o seu conhecimento também na política aliada às causas verdes. Em 2019, Bas Eickhout foi o candidato principal dos Verdes ao Parlamento Europeu, juntamente com Ska Keller, liderando uma campanha que levou aos melhores resultados de sempre do partido no hemiciclo. Atualmente, os Verdes contam com 71 eurodeputados, nenhum deles português.

Os Verdes vão ter um melhor resultado do que a Esquerda por causa de Bas“, avalia José Filipe Pinto, sublinhando que o facto de as causas ambientais defendidas pelo partido serem suportadas por uma visão científica certificada, tornam-no “num ativo muito superior”.

“Eickhout poderá ser uma grande surpresa. Estamos a assistir a uma subida deste grupo desde 2019 e de repente pode intormeter-se pela luta pelo terceiro lugar. Não ficará no fundo da lista com certeza”, prevê o politólogo.

Walter Baier, Esquerda Europeia

Walter Baier (à esquerda) Catarina Martins (à direita)RODRIGO ANTUNES/LUSA

 

Oriundo do partido comunista austríaco, e doutorado em Economia pela Universidade de Viena, Walter Baier é presidente do Partido da Esquerda Europeia desde dezembro de 2022. Em fevereiro passado, e embora com pouca experiência na política europeia, o economista de 70 anos foi a escolha da ala europeia mais à esquerda — do qual o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista fazem parte — para representar o grupo na corrida à presidência da Comissão Europeia.

O seu percurso na política remota a 1977, ano em que foi eleito presidente da União Comunista de Estudantes tendo contestado, em 1981, a candidatura de um grupo neonazi às eleições para o corpo estudantil. Nesse ano, foi coorganizador da grande manifestação pacifista contra a guerra nuclear e, em 1983, foi orador na marcha pela paz, movimento que contou com a participação de mais de 100 mil pessoas.

Estamos a viver uma crise habitacional na Europa neste momento e as grandes empresas, como o Airbnb, ganham imenso com isso. É necessário um quadro legislativo que obrigue os Estados-membros a colocar um teto sobre as rendas e que proteja os inquilinos.

Walter Baier

A justiça social e climática são duas das principais bandeiras de Baier, aliadas ainda à necessidade de promover uma Europa pela paz e democracia, com melhores serviços públicos e o garante dos direitos sociais. Mas para o especialista em Relações Internacionais da Universidade Lusófona, Baier disputa esses dossiês com os socialistas e os Verdes, o que poderá dificultar a diferenciação política nos debates. A Esquerda Europeia conta com 37 eurodeputados no Parlamento Europeu.

Maylis Roßberg, Aliança Livre Europeia

Maylis Roßberg, Aliança Livre EuropeiaMaastrich Debate

 

O objetivo da Aliança Livre Europeia para as eleições europeias de junho de 2024 é garantir que os direitos das minorias são respeitados na União Europeia. Essa missão será conduzida pela Spitzenkandidat mais nova de sempre, Maylis Roßberg, de 24 anos.

Ao fim de algumas décadas, o partido, volta assim, a ir sozinho às eleições. Desde as eleições de 1999, a Aliança Livre Europeia formou uma coligação, apesar das suas diferentes ideologias, com o Partido Verde Europeu que deu origem à criação do Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia.

Acredito na Europa, mas os tempos mudaram. As promessas falharam. Nada pode ser tomado por garantido e é urgente fazermos ouvir as nossas vozes. Acredito numa Europa em que todas as vozes são ouvidas, e não apenas algumas.

Maylis Roßberg, Aliança Livre Europeia

A candidata, com pouca experiência política, assume-se como ativista e é atualmente presidente da juventude partidária. Em 2021, foi candidata às eleições parlamentares nacionais na Alemanha pela Associação de Eleitores de Schleswig do Sul.

“Maylis surge como uma tentativa de apelar ao voto jovem e das minorias. Apesar de ser jovem, e poder representar uma lufada de ar fresco, dificilmente terá a mínima hipótese [para ganhar as eleições]”, aponta o politólogo.

Valeriu Ghilețchi, Movimento Político Cristão Europeu

Valeriu Ghilețchi, Movimento Político Cristão EuropeuMaastrich Debate

 

Valeriu Ghilețchi é um político da República da Moldávia, e atualmente deputado, depois de ter sido eleito, em 2017, vice-presidente do Parlamento daquele país, que não faz parte dos 27 Estados-membros da União Europeia. O processo está, no entanto, em curso depois de, no final de 2023, os líderes dos Estados-membros da União Europeia terem chegado a acordo para iniciar as negociações formais para a adesão ao bloco comunitário.

Ghilețchi surge assim em representação do país, e também do Movimento Político Cristão Europeu, em representação dos batistas, que não tem representação no Parlamento Europeu. Tentar mudar esse cenário nas próximas eleições legislativas não será fácil, e chegar ao cargo de presidente da Comissão Europeia, também não.

“Tem fraco peso político pela origem geográfica”, explica José Fiilpe Pinto. Mas não será esse o único desafio do moldavo. “O grande problema, é que a tradição cristã europeia não se revê nos baptistas. Revê-se no PPE“, diz, referindo a título de exemplo que em Portugal tanto o PSD e o CDS integram revê-se naquela família política, “e não com os cristãos”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.