Costa chama líderes europeus para discutir defesa (e a Gronelândia)
Líderes europeus têm o primeiro encontro informal do mandato de Costa no Castelo de Limont, na Bélgica para discutir um aumento da despesa com a defesa e o futuro da Gronelândia.
A defesa e a segurança serão os temas centrais do primeiro “retiro informal” entre António Costa e os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), no Castelo de Limont, na Bélgica, na próxima segunda-feira 3 de fevereiro. Este novo formato de encontros promovido pelo Presidente do Conselho Europeu tem como objetivo permitir que os 27 discutam temas de forma aberta e sem a pressão de chegar a conclusões políticas vinculativas – ainda que o agravamento das tensões geopolíticas deixem pouca margem para que assim o seja.
“A Europa precisa de assumir uma maior responsabilidade pela sua própria defesa”, escreveu o Presidente do Conselho Europeu no convite enviado aos chefes de Estado.
Aos olhos de Costa, o regresso da “guerra de alta intensidade” na Europa, os ataques híbridos e cibernéticos contra as infraestruturas críticas dos Estados-membros, a situação no Médio Oriente e o escalar de ameaças dos Estados Unidos em relação a uma eventual ocupação da Gronelândia já não permitem que a UE tenha uma posição branda em relação à sua segurança. O novo imperativo nas capitais europeias é de reforçar a capacidade de defesa. E do outro lado do Atlântico a exigência é a mesma.
Donald Trump, agora de regresso à Casa Branca, fez questão de relembrar algo que não só exigiu durante o seu anterior mandato mas que os seus antecessores, Joe Biden e Barack Obama, também pediram: que a União Europeia aumente as suas contribuições para a NATO.
Aos olhos do presidente norte-americano, alocar 2% do PIB nacional para este setor já não é suficiente, é preciso chegar aos 5%. No entanto, atualmente, a maioria dos 23 membros europeus da aliança não cumpre com a quota mínima e só a Polónia e a Grécia superam-na, à semelhança dos Estados Unidos.
Por cá, Luís Montenegro, aquando da visita do secretário-geral da NATO, a Lisboa, mostrou-se disponível para “antecipar ainda mais o calendário” no que toca ao aumento de investimento naquela área, o que “significa um esforço financeiro grande” para o país, referiu o primeiro-ministro. Isto sem pôr em causa os serviços essenciais sociais.
Portugal está ainda longe de gastar a meta mínima estipulada pela aliança – em 2024, não chegou a 1,5% do PIB – e só prevê conseguir cumpri-la, pela primeira vez, em 2029. No entanto, o secretário-geral da NATO deixou o aviso, em Lisboa: esses 2%, em 2025, já serão insuficientes.
“O objetivo de 2% do PIB definido há uma década não chegará para os desafios do amanhã”, alertou o líder da NATO.
O tema estará em cima da mesa durante o encontro que contará com a presença dos 27 líderes europeus, o primeiro-ministro britânico e Rutte e servirá de preparação para a cimeira da NATO, em julho, altura em que será fixado uma nova meta de despesa com a defesa. “Se será 3% ou 5%, não sei“, admitiu o presidente do Conselho Europeu.
Mas as conversas não se ficarão por aqui. A crescente ameaça da administração de Donald Trump em relação à Gronelândia – sobretudo depois de o Secretário de Estado Marco Rubio ter afirmado que o interesse do Presidente dos EUA, Donald Trump, em adquirir a ilha “não é uma piada” – também deverá ser um tema de discussão.
Nas últimas semanas, nas conferências de imprensa diárias, em Bruxelas, os porta-vozes da Comissão Europeia têm sido sucessivamente questionados sobre o risco de uma potencial invasão militar dos EUA se concretizar e o que isto poderia significar para a defesa europeia. Embora não tenham reconhecido o risco da ameaça, as respostas, embora repetitivas, são claras:
“As fronteiras territoriais devem ser respeitas independentemente do tamanho da nação ou da sua influência. A nossa parceria [com a Dinamarca] inclui assegurar a capacidade de defesa e conectividade. A UE está preparada para trabalhar em proximidade com os EUA e em cooperação próxima com a Dinamarca para garantir a segurança na região do Ártico”, apontou a porta-voz, Anitta Hipper.
Mas o tema deverá ser trazido para cima da mesa pela própria primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen. No dia 28 de janeiro, a governante reuniu-se com o presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão Olaf Scholz e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, nas respetivas capitais, para avaliar a situação depois de a própria governante ter tido uma chamada “acesa” com o presidente Donald Trump a propósito da Gronelândia, reportou o Financial Times.
“Foi horrível“, disse uma das fontes ouvidas pelo jornal britânico. Outra acrescentou: “[Trump] foi muito firme. Antes, era difícil levá-lo a sério. Mas acho que é sério e potencialmente muito perigoso“, disse. Na mesma semana, a Dinamarca anunciou um investimento de 1,27 mil milhões de euros para reforçar a presença militar no Ártico.
Para já, António Costa prefere não especular sobre o tema. “Esperamos, naturalmente, que este conflito (não) se transforme num conflito e, se houver um conflito, que seja resolvido de forma amigável, como é próprio entre aliados”, referiu em entrevista à Euronews. Mas ainda assim, deixou um aviso.
“A Gronelândia faz parte do território do Reino da Dinamarca. A Dinamarca é um Estado soberano. A Dinamarca define os seus interesses e a União Europeia apoiará a Dinamarca”, frisou. “A integridade territorial da Dinamarca, a soberania da Dinamarca, a estabilidade das suas fronteiras, como podem imaginar, é obviamente uma questão essencial para nós“, defendeu António Costa, em entrevista à Euronews.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Costa chama líderes europeus para discutir defesa (e a Gronelândia)
{{ noCommentsLabel }}