Lucros da TAP caem 70% para 54 milhões com provisões para tripulantes e perdas cambiais

Contas foram penalizadas por perdas cambiais e provisões para fazer face à decisão do Supremo Tribunal de Justiça relativa à reclassificação de tripulantes de cabine.

A TAP conseguiu o terceiro ano consecutivo de lucros, mas foram também os mais baixos destes três anos. O resultado líquido caiu 70% em 2024 face ao ano anterior, para 53,7 milhões de euros, devido ao impacto de provisões não recorrentes para custos laborais e perdas cambiais.

Depois de ter alcançado um resultado líquido de 118,2 milhões nos primeiros nove meses, as contas foram penalizadas pelo prejuízo de 64,5 milhões de euros no último trimestre, que a TAP atribui às provisão extraordinária constituída “após a 11 de dezembro de 2024 ter sido proferido um acórdão uniformizador de jurisprudência pelo Supremo Tribunal de Justiça relativo à reclassificação de tripulantes de cabine na sequência da nulidade do termo do contrato”.

Na apresentação a investidores, divulgada posteriormente, a TAP indica que aquela provisão foi de 41 milhões. Numa resposta do Ministério das Infraestruturas ao Parlamento, em fevereiro, é referido que a companhia colocou 37,3 milhões de euros de parte para fazer face às ações judiciais em curso movidas por trabalhadores dispensados durante a pandemia.

O resultado líquido de 2024 foi também penalizado por perdas cambiais contabilizadas em 79 milhões, segundo a apresentação entretanto divulgada.

“Estes resultados foram conseguidos num ano muito desafiante, marcado por um aumento significativo da concorrência nos nossos principais mercados, fortes desvalorizações cambiais, desafios operacionais, nomeadamente no controlo de tráfego aéreo e eventos meteorológicos adversos, e constrangimentos estruturais, como o limite de aeronaves”, afirma o presidente executivo e chairman, Luís Rodrigues, citado no comunicado.

Já ao início da tarde, o ministro das Finanças considerou que “houve decisões de gestão que afetaram os resultados deste ano” e reafirmou a posição do Executivo de que será “o próximo Governo a tomar uma decisão sobre a privatização da TAP e as condições que entender para essa privatização”.

A TAP transportou um total de 16,1 milhões de passageiros em 2024, um aumento de 1,6% em relação ao ano anterior, atingindo 94% dos valores alcançados em 2019. O número total de voos operados diminuiu 1,5%, atingindo 86% dos níveis pré-crise. Devido ao plano de reestruturação a frota da TAP está limitada a 99 aeronaves e teve de ceder slots no aeroporto de Lisboa à Easyjet.

Resultado operacional recorrente praticamente inalterado

As receitas operacionais aumentaram 0,7% para 4.242,4 milhões, um novo recorde, beneficiando do aumento da capacidade e da melhoria da taxa de ocupação. A transportadora refere um impacto negativo no quarto trimestre, relacionado com receita de passagens não voadas. Na apresentação é detalhado que o efeito, de 109 milhões, resulta de “alterações no programa Miles & Go para aumentar os benefícios para os clientes, que impactaram negativamente as receitas no curto prazo devido à renegociação/rescisão de alguns acordos”, ao restabelecimento dos termos dos bilhetes alterados durante a pandemia e à menor receita de bilhetes expirados devido a uma menor disrupção.

A TAP destaca que “o forte desempenho do segmento de manutenção (+44,6%), em particular na atividade da oficina de motores, também contribuiu para o crescimento das receitas”.

Os gastos operacionais aumentaram 1,5% para 3.928 milhões, com o aumento de 13,1% nos custos com pessoal (condicionados pelo fim dos cortes salariais) a ser parcialmente compensado com a redução de 6,2% nos gastos com combustível e de 4% nos custos operacionais de tráfego.

Os meios libertos de exploração (EBITDA) recorrentes cifraram-se em 875,3 milhões em 2024, soma praticamente idêntica a 2023. O resultado operacional recorrente totalizou 382,7 milhões, menos 0,8% do que no ano anterior, com uma margem de 9,0%.

A dívida financeira líquida aumentou 15,2% para 750,3 milhões de euros, com o dinheiro em caixa a baixar para 651,6 milhões. Este montante não inclui a terceira tranche de capital de 343 milhões, executada pelo Estado a 17 de janeiro de 2025. “Considerando esta injeção de capital, o rácio dívida financeira líquida / EBITDA atingiu o nível de 2,2 vezes”, indica a companhia.

Pressão sobre preços das passagens vai manter-se

Perspetivando 2025, a TAP afirma que as reservas estão em linha com o ano anterior, apesar do aumento da capacidade. “No entanto, espera-se que a concorrência nos principais mercados se intensifique, o que poderá exercer maior pressão sobre as yields“, afirma. Ou seja, o retorno que consegue na venda dos bilhetes pode ser afetado por uma baixa dos preços.

As margens operacionais deverão ser impactadas pelo aumento dos custos e pela incerteza macroeconómica, incerteza essa que poderá afetar tantos os custos como as receitas”, assinala o comunicado.

2025 será igualmente um ano desafiante, mas também o último ano do plano de restruturação, no qual continuaremos focados na transformação da TAP numa companhia sustentadamente rentável e numa das mais atrativas da indústria, contanto o apoio e compromisso das nossas pessoas e dos nossos stakeholders”, afirma o CEO, Luís Rodrigues.

(notícia com última atualização às 13h52, com alteração dos valores da provisão extraordinária com custos laborais e das perdas cambiais, entretanto divulgadas na apresentação a investidores e com declarações do ministro das Finanças)

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