Ameaça de Trump a compradores de petróleo russo põe preço em pico de mais de um mês

Os analistas apontam para a incerteza quanto às futuras cadeias de abastecimento como um fator de pressão nos preços. Barril de Brent, referência na Europa, segue a valorizar 2,38% para 74,49 dóláres.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a acenar com possíveis tarifas comerciais. Desta vez, os alvos anunciados foram os compradores de petróleo russo. Trump ameaçou a aplicação de tarifas secundárias entre os 25% e os 50%, no caso de a Rússia se revelar, na avaliação do líder norte-americano, responsável pela não assinatura de um acordo de cessar-fogo com a Ucrânia. Os preços do petróleo estão a reagir em alta, atingindo máximos de mais de um mês.

Isto significa que se tu comprares petróleo com origem russa não poderás fazer negócio com os Estados Unidos“, indicou Trump. O presidente dos Estados Unidos declarou-se “muito zangado” com a iniciativa de Vladimir Putin de sugerir uma nova liderança para a Ucrânia.

O barril de Brent, referência na Europa, segue a valorizar 2,38% para os 74,49 dólares, patamar sem igual desde 21 de fevereiro. Do outro lado do oceano, o norte-americano West Texas Intermediate sobe ainda mais, 2,85% para os 71,34 dólares, a fasquia máxima atingida desde 20 de fevereiro.

A ameaça de Trump “deverá ver os preços a reagirem mais fortemente tendo em conta os volumes em jogo”, afirma Guivannie Staunovo, analista doUBS. “Mas por agora não há verdadeiras disrupções, só ameaças, e no passado foram necessárias verdadeiras disrupções para os preços subirem numa base sustentada“, avisa.

O anúncio pode conduzir a uma subida especulativa e reações nos mercados de futuros, enquanto o impacto da implementação dependerá da dimensão das tarifas, das alternativas no mercado e da resposta de outros países, podendo pressionar, ou não, em alta os preços globais, aumentando eventualmente a volatilidade no mercado”, resume Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa.

A reação mais imediata assentará sobretudo na “incerteza e expectativa de disrupção” criadas com a declaração de intenções, continua o analista. Já a eventual entrada em vigor de tarifas pode ditar um impacto direto “limitado”, dado que os EUA “não são grandes importadores diretos de petróleo russo”. “Se a medida for acompanhada de retaliações ou escalada geopolítica, o risco de maiores dificuldades na oferta global pode impulsionar ainda mais os preços”, indica ainda o economista sénior do Banco Carregosa.

Na ótica de Ahmed Ben Salem, analista de Petróleo e Gás na Oddo BHF, os recentes anúncios de tarifas de Trump “deverão suportar os preços de petróleo, à medida que crescentes sanções na Venezuela, Irão e Rússia pesam sobre a oferta“. A mesma ameaça, de tarifas secundárias, já havia sido lançada por Trump sobre os países que compram petróleo venezuelano ou iraniano.

Para Ricardo Evangelista, CEO da ActivTrades Europe, “a ameaça ou o simples anúncio terão um impacto limitado“. No entanto, o cenário de sanções secundárias pode ditar uma “subida substancial” do preço do barril, caso os compradores de crude russo sejam obrigados a procurar fontes alternativas nos mercados globais. De momento, a Rússia é o segundo maior exportador mundial de petróleo e tem como principais compradores a Índia e a China.

“Se olharmos para os preços do mercado de futuros de petróleo Brent, observamos que, desde o início do ano, os preços caíram cerca de 2,5%. Este é um valor relativamente comedido”, assinala, por sua vez, o analista da XTB, Vítor Madeira, que atribui a descida às perspetivas de abrandamento da economia mundial.

Contudo, Madeira sublinha que o transporte do petróleo russo para países europeus importadores pode ser forçado a procurar rotas de abastecimento alternativas, potencialmente mais dispendiosas. “Isto faria aumentar os custos do transporte, mesmo que o mercado petrolífero não esteja a ser significativamente afetado pelas ameaças dos EUA”, aponta.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Ameaça de Trump a compradores de petróleo russo põe preço em pico de mais de um mês

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião