Empresários defendem estabilidade para não parar investimento
Consultora Yunit admite que empresas estão a adiar investimentos à espera de maior clarificação política. Luís Febra diz que a imprevisibilidade está a afetar decisões estratégicas da Socem.
Há investimentos a serem suspensos à espera de maior clarificação “dentro de portas”. E empresas cujas decisões estão a ser afetadas por conta da instabilidade que se faz sentir no país – em cima da incerteza que paira sobre todo o mundo por conta da guerra comercial.
“Temos sentido algum atrasar de decisões nesta fase do ano”, adiantou Bernardo Maciel, CEO da Yunit, durante a 9.ª edição da Fábrica 2030, uma conferência organizada pelo ECO no CCB em Lisboa.
“Até haver uma clarificação do que se passa dentro de portas, aguardam por uma estabilidade para a sua senda de investimento”, frisou o responsável da consultora de gestão especializada no apoio ao investimento e à capitalização das PME através de incentivos financeiros e fiscais.
No mesmo painel, Luís Febra, administrador do grupo Socem, revelou que a “imprevisibilidade” é talvez a palavra que “mais está a afetar a estratégia e tomada de decisão” da fabricante de moldes de injeção e peças plásticas para o setor automóvel.
“Já bastam as tarifas”, desabafou Bernardo Maciel, lamentando o facto de o impasse governativo estar a atrasar decisões importantes no que diz respeito a fundos comunitários — mais do que a incerteza relacionada com a guerra comercial.
“Estamos a negligenciar 23 ou 25 mil milhões de euros num quadro de fundos que vai a meio no prazo temporal”, afirmou.
O CEO da Yunit diz que não ajuda mudar as plataformas e equipas que tratam dos fundos comunitários e que instituições como a Aicep e o Iapmei devem ser “estáveis”, organizações com uma “lógica quase empresarial, para dar estabilidade a quem vai investir”.
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Bernardo Maciel, CEO da Yunit, Luís Febra, CEO do Grupo SOCEM, Clara Moura Guedes, CEO da Monte do Pasto e Paulo Pires, Head of Commercial Operations Portugal Philip Morris International. O debate foi moderado por Tiago Freire, subdiretor do ECO Hugo Amaral/ECO -
Clara Moura Guedes, CEO da Monte do Pasto, na conferência Fábrica 2030 Hugo Amaral/ECO -
Luís Febra, CEO do Grupo SOCEM, na conferência Fábrica 2030 Hugo Amaral/ECO -
Paulo Pires, Head of Commercial Operations Portugal Philip Morris International, na conferência Fábrica 2030 Hugo Amaral/ECO -
Bernardo Maciel, CEO da Yunit, na conferência Fábrica 2030 Hugo Amaral/ECO
Monte do Pasto lamenta falta de apoio à inovação
Mais do que a conjuntura de incerteza global, a presidente da Monte do Pasto lembrou as questões estruturais que afetam a vida de uma PME portuguesa que tem de inovar e internacionalizar-se se quiser crescer.
Clara Moura Guedes lamentou o facto de o setor primário estar excluído dos apoios à inovação, o que dificulta ainda mais a vida à maior exploração agro-pecuária de produção e engorda de bovinos em Portugal.
“Nós, Monte do Pasto, temos feito a nossa parte, mas somos uma PME com recursos limitados e por isso precisamos de vias verdes para levar a cabo os nossos objetivos“, explicou.
Tabaqueira apela a diálogo para atrair investimento
Já o responsável de Operações Comerciais da Tabaqueira, Paulo Pires, destacou que a maior concorrência vem das filiais do grupo Phillip Morris International em Espanha e de outros países e com as quais compete para atrair o investimento da casa-mãe.
Paulo Pires apelou ao debate com a indústria para que o setor – que tem de “ser uma voz ativa” — continue a captar investimento para o país.
Em Portugal, o grupo PMI já investiu mais de 400 milhões de euros na unidade de produção em Albarraque, e emprega cerca de 1500 pessoas (além dos 45 mil postos de trabalho indiretos). Tem centros de excelência no país, nomeadamente o IT Hub, onde estão cerca de 200 engenheiros informáticos.
“Quem cria mais valor deveria ter mais incentivos”
Clara Moura Guedes defendeu que num mercado limitado como o português uma empresa portuguesa deve ambicionar “acrescentar valor”. Uma ideia partilhada pelo administrador da Socem: “Devia haver uma discriminação positiva: quem mais valor cria, mais incentivos tem”. “Acontece ao contrário”, lamentou Luís Febra.
“É uma questão de pensamento estratégico para o país”, prosseguiu o gestor.
“Os bancos e as empresas devem ganhar muito dinheiro, as pessoas devem ganhar muito dinheiro. Esse deve ser o incentivo, em vez de estarmos sempre a falar do salário mínimo“, argumentou.
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