Lã portuguesa ‘desenrola’ exportações para a China ao fim de cinco anos
Acordo assinado pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária permite aos produtores nacionais de ovinos reabrir canal de vendas de lã suja para a China, que concentra 90% dos lavadouros no mundo.
Quase cinco anos depois de as autoridades de Pequim terem suspendido unilateralmente a possibilidade de exportação de lã portuguesa para a China, os produtores nacionais de ovinos veem finalmente reaberto o canal comercial para este produto no gigante mercado asiático, onde são lavadas cerca de 90% das lãs a nível mundial.
O Ministério da Agricultura confirma ao ECO este “avanço significativo para o setor agropecuário nacional, ao permitir a valorização de um recurso anteriormente classificado como subproduto de origem animal de categoria 3”, destacando que “não só contribui para a diversificação dos mercados de escoamento, como também gera uma nova fonte de rendimento para os produtores”.
O protocolo que “reduz os encargos associados à eliminação deste subproduto” e promove uma “abordagem mais sustentável e economicamente viável para o setor” foi assinado no final do ano passado entre a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e a Administração Geral das Alfândegas da República Popular da China (GACC), responsável pelo controlo das importações chinesas.
Portugal passa a dispor de um novo canal comercial para este produto, garantindo que todas as exigências sanitárias e regulamentares sejam devidamente cumpridas.
Desde julho de 2020 que a exportação de lã portuguesa para a China se encontrava suspensa por decisão unilateral das autoridades chinesas. Uma restrição que, contextualiza a tutela, resultou então de uma “reavaliação das condições sanitárias e regulamentares impostas pelo governo chinês, o que levou a um período de negociação e adaptação dos procedimentos nacionais para garantir o cumprimento dos requisitos exigidos”.
Garantido com este acordo o cumprimento de “todas as exigências sanitárias e regulamentares”, o Ministério tutelado por José Manuel Fernandes perspetiva que “o acesso ao mercado chinês venha a reforçar a dinâmica [do setor] e a criar oportunidades comerciais” para os potenciais beneficiários deste protocolo.
As estimativas oficiais apontam para a existência de perto de 42.600 explorações de ovinos em Portugal – dois terços situadas a sul do Tejo –, com um efetivo de 1,8 milhões de animais. Dependendo das raças (merinas, bordaleiras ou churras), geram lãs finas que são destinadas sobretudo à produção de vestuário, ou lãs grosseiras que podem ser usadas em artigos como tapeçarias, feltros ou isolamentos.
A proibição da entrada de lãs no mercado chinês provocou uma acumulação deste produto nos armazéns e nas explorações pecuárias, mas também o abandono de lã em locais inadequados, como lixeiras e caixotes do lixo, com riscos ambientais e sanitários.
O Governo reconhece que estes episódios têm sido “reportados”, mas garante que “sempre que tais situações são identificadas, a DGAV ativa mecanismos de averiguação para identificar os responsáveis pelo descarte inadequado e proceder à remoção e destruição da lã, garantindo o cumprimento das normas de saúde pública e segurança ambiental”.
“Retaliação” pela Huawei e contacto com embaixada
Para os criadores de ovinos, o “sustento” é a produção de carne, cujo mercado está “neste momento num momento extraordinário”. Embora a lã sempre tenha sido um produto de mais baixo valor comercial, Tiago Perloiro atesta ao ECO que nos últimos anos “pura e simplesmente deixou de ser transacionada” e passou a ter “um saldo negativo na conta de exploração porque não se consegue vender” depois da tosquia.
Tal como a maior parte dos operadores, tenho a lã aqui num armazém em Évora porque nos últimos anos o mercado esteve completamente parado, à espera que a China voltasse a abrir.
“Tal como a maior parte dos operadores, tenho a lã aqui num armazém em Évora porque nos últimos anos o mercado esteve completamente parado – o que me oferecem é completamente ridículo – e à espera que este mercado da China voltasse a abrir”, relata o diretor-geral da Ancorme, a associação nacional dos criadores de ovinos da raça merina, associando a demora no restabelecimento deste canal de exportação a uma “retaliação” pela exclusão da chinesa Huawei do 5G em Portugal.
Tiago Perloiro refere que a reabertura do mercado chinês é “muito positiva” e espera que “comece a surtir efeito”, estando já a “fazer diligências para tentar encontrar operadores na China para este produto que [tem] em armazém”, inclusive através do contacto com a embaixada em Lisboa. Ainda assim, adverte que não sabe quanto tempo vai ser preciso para a situação “normalizar”, lembrando a “muita lã armazenada na casa dos agricultores” portugueses.
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