Merlin desvia investimento de Portugal para Espanha devido às restrições dos EUA
'Data center' que a empresa espanhola está a construir na periferia de Lisboa vai arrancar só com um terço da capacidade inicialmente prevista por causa dos limites aplicados pelos EUA a Portugal.

As restrições aplicadas pelos EUA a Portugal, que impõem um limite na compra de chips para inteligência artificial (IA), acabam de provocar a primeira ‘baixa’. De acordo com a imprensa espanhola, a Merlin Properties decidiu reduzir significativamente a dimensão do investimento em curso na construção de um novo data center na região de Lisboa, reforçando a aposta na vizinha Espanha, que beneficia de uma isenção.
A informação foi avançada pelo diretor executivo da Merlin Properties, Ismael Clemente, durante a assembleia geral de acionistas que decorreu esta segunda-feira, segundo o Cinco Días. O responsável disse que a capacidade inicial do centro de dados em construção em Castanheira do Ribatejo, no concelho de Vila Franca de Xira, foi reduzida de 108 MW (megawatts) para 36 MW por “prudência”, o que representa apenas um terço da capacidade.
Ao mesmo tempo, a empresa irá compensar esta menor ambição em Portugal com um reforço em Espanha: “Tirámos 72 MW que iríamos instalar em Portugal e acrescentámos 78 MW aos ativos localizados em Madrid”, explicou, citado pelo jornal Levante. A decisão representa o primeiro sinal concreto de que a medida aplicada pelos EUA a Portugal já está a prejudicar a competitividade da economia nacional, ao deixar o país isolado em relação aos vizinhos mais próximos.
A decisão dos EUA, tomada ainda pela anterior Administração Biden, está em consulta pública até ao dia 15 de maio, e pode ser alterada, conforme noticiou o ECO em abril. Sobre isso, o líder da Merlin afirmou que o governo dos EUA ainda pode “retificar a classificação” atribuída a Portugal, mas ainda não o fez, pelo que foi mesmo necessário proceder a esta “pequena redução da potência” prevista para o data center de Castanheira do Ribatejo, como forma de prevenção.
Em outubro de 2024, quando anunciou o arranque da construção de um data center na periferia de Lisboa, em parceria com a empresa norte-americana Edged Energy, a Merlin apresentou Portugal como “um mercado estratégico” e considerou que este projeto iria “impulsionar o crescimento da empresa” e colocar o país “numa posição de destaque”.
“O país beneficia de uma localização privilegiada para comunicações por cabos submarinos, uma rede elétrica robusta e energia renovável, num ambiente que favorece o investimento, promove a inovação e oferece fundamentais económicos altamente atrativos”, considerava então o diretor executivo da Merlin, citado em comunicado. Contactada pelo ECO, a Merlin Properties não quis fazer nenhum comentário.
Os EUA decidiram em janeiro criar um sistema de categorização dos países em três níveis, dois dos quais sujeitos a restrições. Enquanto países como Espanha, Itália e França beneficiam de uma isenção, Portugal foi colocado num patamar intermédio e sujeito a uma quota que limita a compra de chips a 50 mil unidades por um período de dois anos, onde se incluem os componentes mais avançados fabricados pela Nvidia. Já o patamar mais restritivo proíbe as exportações para regiões como China e Macau.
(Notícia atualizada às 13h03 para referir que a Merlin Properties não quis comentar publicamente a decisão)
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